Por Cíntia Cruz
Extra
“Sair do seu município para ter filho em outro lugar é falta de respeito”. As palavras, ditas em tom indignado, são da dona de casa Dayana Mathias, de 20 anos. Moradora do Jardim Nova Era, em Nova Iguaçu, ela peregrinou por três municípios da Baixada Fluminense até ganhar a filha Mariana Vitória. Dayana começou a sentir contrações no início de abril, mas só teve o bebê na madrugada do dia 12, na Casa de Saúde Nova Bom Pastor, em Queimados.
- Não fui para o Hospital da Posse porque estava fechado. No dia 4, fui a Belford Roxo, mas não tinha vaga. No Hospital da Mulher, em Meriti, disseram que não estava pronta para entrar em trabalho de parto. Estava com 40 semanas. Voltei para casa com dor - lembra.
Dayana não conseguiu ter a filha onde mora, porque, no início de abril, a maternidade da Posse e a Mariana Bulhões interromperam seus atendimentos a novas pacientes. As unidades só reabriram, de forma precária, após decisão da Justiça, no dia 10 do mesmo mês. O quadro só agravou a situação das mães que, em dois anos, viram 159 leitos serem extintos em maternidades da Baixada.
Durante 30 dias, o EXTRA percorreu dez maternidades, entrevistou 40 pessoas, entre grávidas, mulheres que deram à luz, diretores de maternidades, médicos, secretários e subsecretários de Saúde do estado e dos municípios. Das 13 cidades da Baixada, três estão sem maternidade: Mesquita, Seropédica e Japeri. Numa região onde há 1.037.903 mulheres em idade fértil, há apenas 597 leitos maternos.
Seis meses sem receber
A crise na Baixada começou em 2010, com o fechamento da maternidade da Associação de Caridade do Hospital Iguaçu. A unidade funcionava desde 1950, atendendo por filantropia, e, mais tarde, pelo SUS.
- Já ficamos seis meses sem receber. Não conseguimos suportar e fechamos a maternidade em meados de 2010 - diz o ex-presidente do hospital João Gaspar.
Ex-advogado da instituição, Wanderley Suppo culpa $ex-prefeito de Nova Iguaçu, Lindbergh Farias (PT), pelo fechamento:
- Com a chegada do Lindbergh, esse hospital passou a sofrer inúmeros problemas. O governo federal dava o dinheiro todo dia 5, mas eles não repassavam.
A assessoria do senador negou que a prefeitura tenha atrasado os repasses na sua gestão. E disse que houve quatro tentativas de adequar a associação aos programas do Ministério da Saúde, mas as exigências não foram cumpridas pela instituição.
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