Por Roberta Hoertel
Karla Paes com a foto de Enzo: ele tinha apenas 1 ano e 3 meses
Foto: Cléber Júnior / EXTRA
Tudo aconteceu em apenas nove dias. Período curto mas que foi suficiente para mudar para sempre a vida da família do pequeno Enzo Albuquerque. Com 1 ano e 3 meses, o menino morreu após ser diagnosticado com um quadro grave de pneumonia e ter sua internação recusada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Clínicas de Niterói (HCN).
Segundo a mãe do bebê, a operadora de telemarketing Karla Paes, a criança, com tosse e febre, passou quatro dias tomando os remédios receitados por um pediatra particular, sem apresentar melhora. Depois de ser atendido numa clínica, Enzo foi encaminhado ao HCN, com quadro agravado.
No hospital, a avaliação clínica e exames médicos comprovaram que o menino precisava de internação imediata. A surpresa de Karla veio com a resposta do plano de saúde Amil ao pedido pela internação de Enzo. Por estar em período de carência, a estadia da criança no hospital foi negada, mesmo com a gravidade do caso.
— Ele sempre foi cliente da Amil. Tive um problema de pagamento do plano e refiz o contrato em fevereiro, não era pra cair em carência.
O pequeno Enzo Foto: Reprodução
Sem conseguir encontrar uma solução, Karla buscou ajuda no Tribunal de Justiça do Rio que, junto ao Ministério Público, por meio de liminar, decretou a liberação da internação de Enzo em UTI pediátrica, sob pena multa de R$ 5 mil ao dia. Mesmo com a presença de um oficial de justiça no local, o hospital demorou cerca de 24 horas para internar a criança.
Os problemas continuaram. Diferentemente da ordem emitida em documento judicial, Enzo foi transferido para um quarto e não para a UTI. Após inúmeras reclamações da mãe, médicos do hospital constataram um inchaço no abdômen do menino. Só então — após uma transfusão de sangue —, Enzo foi transferido para a UTI do hospital, às pressas.
— Notei ele cada dia mais fraco e os médicos não me deram atenção.
Aquela foi a última noite de Karla com o filho. Ainda na UTI, ela diz que sentia Enzo perdendo as forças. Na manhã do dia seguinte precisou deixar o menino, a pedido do hospital. A notícia veio logo em seguida.
— Só ouvi: "Seu filho teve uma parada cardíaca e não voltou" — contou a mãe.
Mesmo após a morte de Enzo, Karla reclama do atendimento prestado, quando não teve apoio psicológico.
— Todos os documentos do Enzo constavam "sob liminar judicial". Um absurdo.
Enzo, no colo de Papai Noel Foto: Reprodução
Plano diz que lamenta
Em nota, a Amil informou que "lamenta a morte da criança e que em momento algum houve qualquer tipo de interrupção de cobertura assistencial, que comprometesse o estado de saúde do mesmo".
O Hospital das Clínicas, também por nota, informou que o paciente recebeu toda assistência adequada na emergência da unidade. Sobre a internação da criança na UTI, o hospital explicou que, no momento do pedido, não haviam leitos disponíveis e, em concordância com a família, manteve o menino na emergência. Segundo nota, "o atendimento foi dentro dos protocolos médicos e que, por nenhuma circunstância externa, o tratamento foi comprometido ou interrompido".
Nota da Amil
"Com relação ao ocorrido há mais de dois meses, no dia 28 de março de 2012, que envolve o paciente infantil E.P.A., a Amil Assistência Médica Internacional entende a dor dos familiares pela perda do ente querido, esclarecendo que em momento algum houve qualquer tipo de interrupção de cobertura assistencial, que comprometesse o estado de saúde do mesmo."
Karla Paes mostra a documentação referente à internação de seu filho Foto: Cléber Júnior / Extra
Nota do Hospital de Clínicas de Niterói
"O paciente pediátrico Enzo Paes de Albquerque deu entrada no serviço de emergência do hospital no dia 23/03/2012, às 20h30m, por meios próprios (com seus familiares), com um quadro de pneumonia, já em tratamento ambulatorial há quatro dias. Tratava-se de um paciente com uma doença de base imunodepressiva, em investigação médica, desde os seis meses de vida. Enzo Paes de Albquerque, de abril de 2011 a janeiro de 2012, teve seis atendimentos no serviço de emergência do HCN.
No dia 23 de março, o paciente recebeu toda assistência adequada – terapêutica e suporte diagnóstico na emergência do hospital. Às 00h do dia 24/03/2012, a equipe médica solicitou uma vaga em Unidade Tratamento Intensivo (UTI). Naquele momento, o hospital não tinha disponibilidade de leitos. Dessa forma, em concordância com a família, o paciente ficou sendo assistido integralmente na unidade de repouso da emergência, onde apresentou melhora progressiva. No dia 25/03/2012, pela manhã, ele foi transferido para um quarto particular – com o quadro estabilizado e sem indicação de UIT. Ele permaneceu estável e internado em quarto particular até o 27/03/2012. Às 19h do dia 27/03/2012 o quadro do paciente se agravou e ele foi transferido para um leito de UTI. Porém, apesar dos esforços da equipe de saúde ele apresentou uma evolução aguda e evoluiu ao óbito às 08h10m, do dia 28/03/2012, tendo como causa mortis choque séptico e pneumonia.
O hospital ratifica que o atendimento prestado ao paciente foi integralmente dentro dos protocolos médicos e que por nenhuma circunstância externa o tratamento foi comprometido e ou interrompido.
O HCN se coloca inteiramente à disposição para apresentar aos fóruns técnicos de saúde e familiares do paciente todas as condutas adotadas durante o período de internação do paciente."
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