ELAINE LINA
Terra
Direto de Brasília
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira aprovou requerimento para a quebra de sigilo fiscal e bancário da matriz da construtora Delta nesta terça-feira. No entanto, não votou a convocação de governadores citados nas investigações da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira para prestar contas diante da comissão.
Sem acordo e com o prazo esgotado, nova reunião foi agendada para quarta-feira para tratar dos depoimentos de Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Ao final da reunião, Perillo entregou pessoalmente carta aos colegas parlamentares dizendo estar à disposição da CPI.
Para o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), a atitude do governador goiano não convenceu. "Pareceu até cena combinada. Primeiro blinda, depois vem pedir a quebra, aí o governador chega... parece enredo de novela que nós já sabemos o final". Ao falar da expectativa para a reunião de amanhã, Rodrigues julga que se trata de uma manobra para blindar os governadores, tanto de oposição quanto de governo. "Me parece estar claro e pacificado um grande e poderoso acordo de blindagem para não convocar e não investigar nenhum governador", declarou.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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