Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sexta-feira, 18 de maio de 2012

MERGULHÃO DE NITERÓI - Empresa contratada para fazer a obra mais importante de Niterói, o mergulhão, deixou famílias na lama em Itaboraí




A menina com as botas imundas de lama: essa é a rotina de quem mora da localidade de Pavilhão, em Itaboraí Foto: Fernanda Dias / Extra
Ana Carolina Torres

Vencedora da licitação para construir o mergulhão de Niterói - a intervenção viária mais importante da gestão do prefeito Jorge Roberto Silveira (PDT) -, a R.C. Vieira Engenharia tem em seu currículo uma obra em Itaboraí que não é um bom cartão de visitas. A empresa de engenharia é acusada de abandonar as obras de construção de um conjunto habitacional financiado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na região de Itambi.

A obra começou em 2008. Mas, no início deste ano, a empreiteira deixou o projeto com 70% do total concluído, de acordo com a Prefeitura de Itaboraí. Os oito edifícios - orçados em R$ 19 milhões - não foram finalizados. E os "novos" moradores permaneceram onde estavam, vivendo em casas condenadas e com o pé na lama.

- A empresa nos deixou na mão e ainda deu prejuízo, pois teremos que fazer reparos com recursos próprios. Estamos vendo como ela pode ressarcir o município. Também estudamos uma maneira de torná-la não idônea (não confiável), para que não participe de outras licitações. As pessoas que deveriam estar nos prédios vivem precariamente - disse o secretário de Habitação de Itaboraí, Felipe Monteiro.

Um dos prejudicados é a dona de casa Regina Cláudia Conceição, de 40 anos. Moradora da localidade conhecida como Pavilhão, ela e os cinco filhos - com idades variando entre 4 e 11 anos - vivem numa casa condenada pela Defesa Civil, onde, na parede da frente, é possível ver um enorme buraco. Nos dias de chuva forte, o valão atrás do imóvel transborda e a água invade o seu imóvel.

- Perdi tudo o que eu tinha nas chuvas de abril do ano passado e tive que recomeçar do zero. Agora, só rezo para a casa continuar inteira - disse Regina.

'Já passei aniversário em cima do muro, vendo a água tomando tudo' Teresinha Maria

Vizinha de Regina, a dona de casa Teresinha Maria da Silva, de 39 anos, também se cadastrou para morar no conjunto do PAC. Ela mostra as rachaduras na parede do imóvel de um cômodo, onde vive sozinha. Quando chove, "molha mais dentro do que fora de casa":

- Não aguento mais esse sofrimento. Já passei aniversário em cima do muro, vendo a água tomando tudo.

O secretário Felipe Monteiro disse que as famílias que seriam beneficiadas receberão aluguel social. A assessoria da Caixa Econômica Federal em Brasília não informou quanto dos R$ 19 milhões da obra foram repassados à Prefeitura de Itaboraí.

Os prédios do PAC inacabados e abandonados Foto: Fernanda Dias / Extra

Perguntas ignoradas

A R. C. Vieira foi procurada, por telefone, para falar sobre o abandono das obras do PAC em Itaboraí. Uma funcionária atendeu as ligações, mas ninguém respondeu às perguntas feitas pelo EXTRA. Uma questão que ficou sem explicação também foi sobre a sua experiência na construção de mergulhões.

Segundo o engenheiro Antônio Eulálio, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia, uma obra como a da Avenida Marquês do Paraná precisa de uma equipe com capacidade técnica.

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Niterói também não respondeu às perguntas enviadas por e-mail: "A prefeitura manterá a empreiteira nas obras do mergulhão?" e "A empresa comprovou ter experiência na construção de mergulhões? Se tem, qual ela construiu?"

Dona Valdenice mostra a parede da casa que abandonou em Pavilhão: imóvel está se desfazendo 
Foto: Fernanda Dias / Extra

Depoimento da dona de casa Valdenice Muniz, de 41 anos, e mãe de dois filhos

“Vivíamos numa casa prestes a desabar no Pavilhão e, na chuva de abril do ano passado, decidimos sair de lá, pois ficamos com medo de acontecer o pior. Fomos para uma construção abandonada, em Serafim Carvalho (localidade vizinha). Não é o lugar ideal, mas não podemos fazer nada. Temos que viver, né, moça? Só penso em juntar dinheiro e voltar para Guarabira, na Paraíba, onde nasci. Vim para cá em busca de uma oportunidade e olha o que aconteceu. Isso não é vida. É sonho ruim que não termina.”

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