Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

quarta-feira, 13 de junho de 2012

SAÚDE NO RIO - Setor do Hospital de Bonsucesso funciona em contêineres há mais de um ano


Problema se arrasta desde que as obras do setor de emergência foram paralisadas, sob suspeita de irregularidades


Com poucos leitos, o Hospital Federal de Bonsucesso acomoda os seus pacientes nos corredores dos contêineres, onde a emergência funciona de forma improvisada
WALESKA BORGES / O GLOBO

RIO - Deitados em macas no corredor e acomodados precariamente em cadeiras, pacientes são atendidos no setor de emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, o antigo HGB. Com diagnósticos distintos, doentes e acompanhantes ficam expostos, sem qualquer privacidade. A cena, que se repete em outras emergências do Rio, é ainda mais alarmante devido às instalações: a unidade funciona em três contêineres, no pátio do hospital.

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Segundo os médicos, o improviso no atendimento à população ocorre há um ano e dois meses. O problema se arrasta desde que as obras do setor de emergência, orçadas em R$ 8 milhões e que deveriam ser concluídas em nove meses, foram paralisadas, sob suspeita de irregularidades, pelo Ministério da Saúde. Os trabalhos haviam começado em fevereiro de 2011, sendo interrompidos dois meses depois.

Apenas 30 leitos para 74 internados

Enquanto as obras do setor de emergência do Hospital Federal de Bonsucesso não recomeçam, a população sofre com a superlotação. No local, com 30 leitos, havia ontem de manhã 74 internados, segundo funcionários do setor. Muitos pacientes tomavam soro nos corredores. Outros dormiam com toalhas ou cobertores no rosto, para tentar diminuir o incômodo causado pela luz. A parte de baixo das macas servia de guarda-roupas para doentes e acompanhantes.

Os pacientes tinham entre 16 e 84 anos. Por falta de pediatras, de acordo com relatos dos profissionais, quando os doentes são crianças, apenas os casos de maior gravidade são atendidos, por um médico que sai da pediatria clínica. Em geral, a emergência faz 350 atendimentos por dia.

— A situação é absurda. Há plantões com dois médicos, quando o ideal seria haver seis. Já faltou até formol. O médico fica estressado, irritado, porque não consegue atender a todos. Chega um doente com infarto, outro com tiro na perna, tudo ali no contêiner. Por falta de leitos nas enfermarias, há pacientes que também ficam internados na emergência — lamentou um médico, que preferiu não se identificar.

No local da antiga emergência, há apenas restos de entulho e mato alto. O prédio foi destruído para o início das obras. Da rua, é possível ver apenas o tapume e duas placas com informações sobre o que seria a “obra de reforma e readequação física da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso”. A área a ser construída é de 2.421,25 metros quadrados. A empresa responsável seria a Globotec Construtora e Estruturas Metálicas. Diferentemente do que ocorreu, o início da obra estava previsto para dezembro de 2010.

Sem prazo para terminar a obra

Por meio de nota, a direção do Hospital Federal de Bonsucesso informou que o atendimento de emergência está ocorrendo em contêineres instalados na entrada do hospital com o objetivo de não deixar a população desassistida durante o período de obras, em modelo semelhante ao adotado pelas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). “A estrutura oferece todo o suporte necessário à atenção de emergência”, afirma o texto. Ainda conforme a direção, para melhorar o atendimento e priorizar o cuidado a pacientes em estado grave, está sendo adotado um sistema de classificação de risco. Casos de baixa complexidade estão sendo direcionados a outros serviços, como as UPAs.

Sem dar prazos e detalhes da obra, a direção informou que o atraso na realização dos trabalhos na emergência se deu por conta da suspensão de todos os contratos de obras nos hospitais federais do Rio, após uma auditoria do Ministério da Saúde e da Controladoria Geral da União ter identificado indícios de irregularidades. “Antes mesmo da apresentação do relatório final, foi adotada uma série de medidas para combater desperdícios de recursos do SUS”.

Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, não há justificativa plausível para a demora na conclusão da obra no setor de emergência:

— A crise na saúde pública do Rio tem sido causada pelo improviso no atendimento. A população tem sido atendida em latas, quando merecia uma unidade reformada e digna. Enquanto isso, o Ministério da Saúde tem dotação orçamentária significativa.

Vice-presidente da Comissão Municipal de Saúde, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) diz que o problema do hospital deveria ser resolvido o mais rapidamente possível:

— O Ministério da Saúde está tratando os profissionais que trabalham nesses contêineres como peões. A utilização do contêiner num momento emergencial é compreensível, mas tanto tempo depois não é mais admissível — comentou Paulo Pinheiro.



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