Documento guardado no Arquivo Nacional revela que o extinto órgão informa ter localizado com a companheira de Lamarca, morta em operação policial, identidade com codinome da presidente
ESTADO DE MINAS
Brasília – Um documento da agência de Salvador (BA) do Serviço Nacional de Informação (SNI), de setembro de 1971, detalha a operação que resultou na morte de Iara Iavelberg e registra que a psicóloga e última companheira do ex-capitão Carlos Lamarca trazia na bolsa, no dia de sua morte, uma das carteiras de identidade falsas usada por Dilma Vana Rousseff durante a ditadura. De acordo com o relatório, que faz parte do acervo do Arquivo Nacional, aberto ao público desde a semana passada, ao revistar os pertences de Iara os agentes que participaram da Operação Pajussara, no Bairro Pituba, em Salvador, encontraram o documento e pediram informações sobre o nome “Maria Lúcia dos Santos” à Agência Rio de Janeiro (ARJ) do SNI.
A agência respondeu que o registro era de Dilma, conforme trecho do documento: “Ela (Iara) deu um tiro em si, vindo a falecer a caminho do hospital. Em sua bolsa foi encontrada a carteira de identidade da Guanabara (possivelmente falsa) de Maria Lúcia Ribeiro dos Santos.(…) Quanto a Maria Lúcia Ribeiro dos Santos, consta Maria Lúcia dos Santos, nome falso de Dilma Vana Rousseff Linhares, codinomes Luiza, Estela e Maria Lúcia, filha de Pedro Rousseff e Dilma Rousseff, natural de Belo Horizonte, casada com Cláudio Galeno Linhares. Pertenceu à CMP, ao Colina e à Var-Palmares, constituindo como presa desde junho de 1970.”
Documentos do SNI registram que Dilma teria usado identidade falsa com o nome de Marina Guimarães Garcia de Castro, além do de Maria Lúcia dos Santos. Os codinomes Estela, Wanda e Luiza também constam nos registros. O relatório do SNI aponta que 40 homens foram mobilizados para localizar Lamarca e que militantes de outros estados, que teriam alguma relação com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) ou com o ex-capitão, foram monitorados para dar pistas do esconderijo do guerrilheiro morto menos de um mês depois de Iara. “Desde julho, o Codi vinha monitorando atividades de elementos subversivos não somente da área como de outras, vindas da Guanabara, Goiás e São Paulo”, traz o documento.
Irmão de Iara, o jornalista Samuel Iavelberg confirma a amizade entre Dilma e a psicóloga, mas acha improvável que ela estivesse carregando algum documento que a ligasse a outra organização. “Não tinham condições de ser muito amigas, porque viviam na clandestinidade, mas eram amigas. Ela foi desse grupo que saiu da Var-Palmares, a Dilma continuou, elas se conheciam. A Dilma já deu declarações sobre ela. Dificilmente essa versão é verdadeira (sobre a carteira de identidade falsa com nome usado por Dilma). Quando Iara caiu, elas militavam em organizações diferentes. Era contra a norma de segurança andar com carteira de identidade de pessoas do outro grupo”, afirma Samuel.
Nilmário Miranda, secretário de Direitos Humanos no governo Luiz Inácio Lula da Silva, também questiona a versão do documento do SNI. “É improvável que Iara carregasse um documento de Dilma quando foi morta, porque quando isso aconteceu Dilma estava presa fazia um ano.”
A farsa do suicídio
Os registros da agência de Salvador do SNI repetem a versão de suicídio de Iara Iavelberg, derrubada pela família da psicóloga, que conseguiu na Justiça, em 2003, o direito à exumação do corpo para realizar laudo pericial comprovando o homicídio, ocorrido dentro de um apartamento na Rua Minas Gerais, na Pituba, em Salvador. Nos relatos policiais, os agentes envolvidos na operação tentam explicar a morte da psicóloga, mas se contradizem ao confirmar que ela disse “Eu me entrego” e que a vítima havia sido transportada até um hospital em carro particular, deixando claro que as autoridades não prestaram socorro após o suposto incidente.
“Observou-se também que o gás não estava agindo no interior do sanitário. Usa-se então o lançador de granada inerte, que permite apenas furar o basculante. Logo a seguir ouve-se uma voz feminina dizendo ‘Eu me entrego’. Aguardou-se qualquer movimento da porta durante cinco minutos, mas nada aconteceu. (…) Aguardou-se novamente mais um minuto, quando ouviu-se um estampido vindo do interior do sanitário, o agente Emanuel abriu logo a porta, encontrando o corpo de uma moça perdendo sangue, caído sobre o vaso sanitário e um revólver calibre .38 caído no chão. O coronel Luiz Arthur e os agentes Veras e Vilas Boas puxaram o corpo para dentro do quarto, notando-se o orifício de um tiro exatamente na altura do coração”, registraram os agentes, descrevendo a morte de Iara em 20 de agosto de 1971, aos 27 anos.
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