Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Bolsa claque

Andrei Meireles e Marcelo Rocha - Revista Época
 
Documento apreendido mostra que governador pagava manifestantes

  
 
Apoio remunerado -- Valdirzão ao lado de Arruda em um palanque. PF investiga origem do dinheiro para animadores
Em dezembro, os brasilienses se surpreenderam com a quantidade de pessoas que participavam de manifestações em defesa do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, acusado de chefiar um esquema de corrupção mostrado em vídeos com cenas de políticos recebendo propina e escondendo dinheiro em sacolas, meias e até na cueca. Na Câmara Legislativa, cenário dos protestos de estudantes e sindicalistas contra a corrupção, o movimento pró-Arruda exibiu força, organização e truculência. Comandava essa tropa governista o ex-policial militar Valdir Luís de França, o Valdirzão, conhecido por liderar mobilizações a favor de Arruda e reprimir protestos. Entidades favoráveis ao processo de impeachment do governador levantaram suspeitas de que por trás dessas manifestações estaria a máquina pública. Um documento apreendido pela Polícia Federal na Operação Caixa de Pandora pode ser a prova de que dinheiro público tenha financiado o grupo chefiado por Valdirzão.

ÉPOCA teve acesso ao documento, encontrado pela PF no gabinete do jornalista Omézio Pontes -- ex-assessor de imprensa de Arruda, que desde o início de 2009 passou a cuidar também da arregimentação de pessoas para eventos na periferia de Brasília com a participação do governador. O papel apreendido é uma carta de Willams Cavalcante de Oliveira -- chefe da coordenação de projetos comunitários do GDF – para Rodrigo Arantes, sobrinho de Arruda. Até sexta-feira passada, Rodrigo era secretário particular do governador. Ele foi afastado do cargo pelo suposto envolvimento na tentativa de suborno de uma testemunha do escândalo do Panetone.
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Na carta, Willams apresenta um orçamento da equipe do Valdirzão, no valor de R$ 22,1 mil por mês. Entre outras atribuições, esse grupo de 15 pessoas convocaria moradores para eventos com Arruda e se encarregaria da animação da claque. Cada um dos animadores receberia um salário mensal de R$ 1 mil ( incluído alimentação e vale-transporte). Nas contas de Willams, são contabilizados também R$ 5 mil por mês para aluguel de uma van e despesa mensal de combustível no valor de R$2,1 mil. “Preciso que o governador indique a fonte que pagará essas despesas”, escreveu Willams. No papel apreendido há uma anotação do próprio punho de Arruda: “Omézio Isto é com você. Está sob o seu controle?”. (Leia a íntegra ao lado).

ÉPOCA ouviu Omézio Pontes. Ele disse que não se lembrava na carta. Confirmou que atuava como coordenador de mobilização. “O que eu fazia era política”, afirma Omézio. Ele deixou o governo depois de aparecer em vídeos recebendo maços de dinheiro do ex-delegado Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção em Brasília. Há 10 dias, ÉPOCA vem solicitando uma explicação de Arruda para a carta. Ele não quis se manifestar.

A Polícia Federal investiga de onde saiu o dinheiro para financiar a equipe de Vadirzão: se foi diretamente desviado dos cofres públicos ou fruto de propina paga por empresas com contratos com o governo de Brasília. Os investigadores avaliam que, seja qual for a fonte do dinheiro, a carta é uma peça importante para a abertura de processo na Justiça contra Arruda.

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