O improviso no atendimento à população ocorre há cerca de um ano
O GLOBO
RIO - A Defensoria Pública da União vai cobrar explicações do Ministério da Saúde e do Hospital Federal de Bonsucesso sobre o atendimento de emergência feito a pacientes em contêineres, no pátio do hospital.Segundo o defensor público federal Daniel Macedo, titular do 2º Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva, a direção da unidade terá prazo de 48 horas para justificar a continuidade na paralisação das obras do setor. Caso esse período não seja cumprido, Macedo entrará com uma ação civil pública contra a União e o Hospital de Bonsucesso exigindo que os pacientes sejam transferidos dos contêineres para outras unidades hospitalares — até mesmo as particulares pagas pelo governo federal. Também será exigido que os órgãos apresentem os cronograma das obras.
Conforme mostrou nesta quarta-feira O GLOBO, o improviso no atendimento à população ocorre há cerca de um ano. O problema se arrasta desde que as obras do setor de emergência, orçadas em R$ 8 milhões e que deveriam ser concluídas em nove meses, foram paralisadas, sob suspeita de irregularidades, pelo Ministério da Saúde. Segundo o defensor Daniel Macedo, a situação do contêiner usado como extensão do hospital foi flagrada durante vistoria em setembro do ano passado. Na ocasião, além da superlotação, o defensor constatou que pacientes estavam internados sentados em cadeiras por seis e até nove dias. O tempo de permanência do doente era informado em papéis colados nas paredes em cima da cabeça dos pacientes.
Na terça-feira, 74 pessoas estavam na emergência do hospital. O espaço, porém, tem capacidade para 30 leitos. As internações estavam sendo feitas em macas e cadeiras nos corredores.
— Esta situação é contra a dignidade humana. Contêineres é para colocar objetos e não pessoas. Na ocasião da vistoria, a direção do hospital se comprometeu que a obra deveria ser retomada em breve, mas isso não ocorreu — lamenta o defensor Daniel Macedo.
Além dos problemas com a emergência do hospital, os médicos denunciam que a unidade sofre com a falta de material. Em maio deste ano, no setor de raio x, faltava seringa para os exames de tomografia. Com isso, exames de angiotomografia foram suspensos. No mesmo período, faltou outros materiais usados no setor de radiologia, entre eles, microesferas usadas em cirurgias de pequenos tumores. Os profissionais relatam ainda que há três meses, não havia filme para tomografias e raio x. Neste mês, até esta quarta-feira, conforme os profissionais, há ausência de quites para exames de sangue como de hepatite e doenças reumatológicas.
— Com a falta de insumos, aumenta o tempo de permanência dos doentes no hospital. Os exames são cancelados e não há rotatividade nos leitos — reclamou um médico, que preferiu não se identificar.
Até o momento o Ministério da Saúde, que administra o hospital, não se pronunciou.
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), Márcia Rosa de Araújo, disse que o Ministério da Saúde deve resolver o problema o mais rápido possível. Ela acredita que, depois do governo federal ter identificado as irregularidades nas obras que foram paralisadas, o órgão deveria ter atuado com maior agilidade para que o serviço fosse retomado.
— O conselho fica entre a cruz e a calderinha. Poderíamos ir ao hospital e mandar acabar com o contêiner, mas as pessoas que estão lá iriam sentar nas calçadas sem ter para onde ir. O erro das obras deve ser apurado, mas os pacientes e os profissionais não podem continuar em contêineres — comentou Márcia Rosa.
De acordo com o presidente da Comissão Municipal de Saúde, o vereador Carlos Eduardo de Mattos, o Hospital Federal de Bonsucesso tem o segundo maior orçamento da rede dos hospitais federais no Rio — o Hospital dos Servidores do Estado é o primeiro deles:
— Como pode o Ministério da Saúde permitir que a emergência do hospital que recebesse esses recursos continue a funcionar em uma unidade de lata? O hospital é está situado próximo à Avenida Brasil e tem um dos melhores quadro de profissionais da rede. Esta situação é um deboche com os profissionais e os doentes.
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