Antônio Werneck (werneck@oglobo.com.br) e Vera Araújo (varaujo@oglobo.com.br)
RIO - Um promotor afirmou, num dos últimos depoimentos prestados à Divisão de Homicídios (DH), que a juíza Patrícia Acioli morreu porque ficou "entregue à própria sorte" quando o ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, determinou a transferência dos dois PMs do 7º BPM que faziam a segurança informal da juíza. O promotor trabalhava desde 2001 na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, onde a magistrada era titular. Na segunda-feira, a DH concluiu o inquérito sobre o assassinato da juíza, indiciando, por homicídio, 11 PMs . Patrícia foi executada com 21 tiros no dia 11 de agosto.
Ainda segundo o promotor contou em seu depoimento, Mário Sérgio fez constar no Boletim Interno da PM com o registro da transferência dos policiais que uma nova remoção só poderia ser feita com a sua ordem. Diante da determinação do então comandante-geral e de informações dando conta que o tenente-coronel planejava a morte da juíza, o promotor teve um encontro com Mário Sérgio.
Na reunião - para melhorar a relação entre o comandante, o MP e a juíza -, o promotor afirmou ter explicado ao coronel como eles trabalhavam a questão dos autos de resistência em São Gonçalo. Mário Sérgio - que pediu exoneração na última quarta-feira, após a prisão do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira - disse apenas que a nomeação do tenente-coronel Cláudio para o 7º BPM foi sua, para melhorar os índices de criminalidade do batalhão de São Gonçalo.
Ao "Fantástico", da Rede Globo, no domingo, Mário Sérgio explicou que os PMs foram transferidos porque estavam fazendo segurança de autoridades informalmente. O ex-comandante explicou que, sobre o fato de a transferência deles só poder ser feita com sua autorização, isso foi uma forma de proteger os dois, para evitar que fossem transferidos para o interior do estado. Um dos PMs transferidos era namorado da juíza. Segundo a PM informou na segunda-feira, é praxe a recomendação do comandante.
Entre os PMs indiciados, estão o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo) e do 22º BPM (Maré), e o tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes, que chefiava o Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM. Todos já estão presos. O tenente-coronel - acusado pela polícia de ser o mentor do crime - e o tenente negam as acusações.
O inquérito foi entregue ao Ministério Público estadual na última sexta-feira, ainda sem o relatório do delegado Felipe Ettore, titular da DH e responsável pelas investigações, que levaram 50 dias. O material já está sendo analisado agora pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Eles têm até terça-feira para elaborar a denúncia e encaminhá-la à Justiça estadual.
No domingo, o cabo Sérgio Costa Júnior, o primeiro a aderir à delação premiada, confirmou que o coronel esteve na prisão militar antes dele mesmo ser preso, garantindo que "tudo ia passar" . Em entrevista ao Fantástico, ele afirmou que o coronel Claudio Luiz Silva de Oliveira não apostava numa punição para os policiais do Grupo de Ações Táticas (GAT) do 7 BPM (São Gonçalo) pelo assassinado da juíza.
- Ele fez uma reunião com todos, deu uma palavra de conforto. Disse que tudo ia passar. E depois só ficou o tenente (Daniel Benitez) conversando com ele, não sei dizer por quanto tempo - afirmou o cabo, em entrevista ao Fantástico .
Sérgio e Benitez foram os autores dos 21 disparos que mataram a juíza, dentro do condomínio onde ela morava, no dia 11 de agosto. O cabo afirmou, na entrevista, que atirou com duas pistolas, de calibres 40 e 45. O tenente seria o autor dos tiros de revólver 38. Sérgio disse estar arrependido e temer pela vida da família:
- Saiu nos jornais que por causa do meu depoimento o coronel foi preso. Na verdade, não falei no nome do coronel. Quem falou no coronel foi o tenente Benitez - disse.
Apreensões eram chamadas de espólio de guerraO cabo revelou ainda que a ideia de assassinar a juíza partiu do tenente Benitez, que conversou com a equipe do GAT entre abril e maio. Patrícia Acioli incomodava aos PMs porque colocava em risco o faturamento do batalhão. Os policiais lotados na unidade de São Gonçalo partilhavam armas, drogas e dinheiro apreendidos com bandidos, itens que eram chamados de espólio de guerra.
- Uma vez, o tenente reservou uma parte do espólio para o coronel. Se entregou, não posso dizer - afirmou o cabo Sérgio.
Outro cabo que aceitou participar da delação premiada revelou que o batalhão arrecadava entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por semana. O que passasse desse valor, iria para o coronel, de acordo com o relato da testemunha.
Câmeras de segurança do condomínio onde a juíza morava, em Piratininga, Niterói, revelaram que Sérgio e Benitez estiveram no local do crime aproximadamente sete horas antes do assassinato. Primeiro, chegou o tenente, a pé, seguido posteriormente por Sérgio, numa moto.
Imagens mostraram ainda que ambos aguardavam a saída da juíza do fórum, no dia do crime. Como a moto em que estavam demorou a pegar, um carro começou a seguir o automóvel da juíza. Assim que os dois policiais a alcançam, o veículo, em que estava o policial Jovanir Falcão Júnior, vai embora.
De acordo com o cabo Sérgio, o estudo do local foi bastante detalhado porque a juíza, mesmo sem saber do risco que corria, já havia escapado de outras duas emboscadas na mesma semana. Na primeira, Patrícia Acioli desmarcou uma reconstituição de crime que iria fazer e, em outro dia, saiu mais cedo do que o habitual do trabalho, impedindo que os policiais realizassem seus planos.
No dia seguinte ao assassinato, quatro policiais foram presos por outro crime, com condenação da própria juíza. Após as primeiras investigações, todos os policiais do GAT do 7º BPM foram presos e a Justiça autorizou que as ligações feitas por eles de dentro da unidade prisional fossem grampeadas.
Nas gravações, o tenente Benitez pede a um interlocutor que encha uma bolsa de viagem com seis, oito caixas de cerveja e duas garrafas de vodca. Em conversa com a mãe, o tenente afirmou que fugir do local seria fácil "a coisa mais fácil de fazer do mundo" e que ele poderia ter umas feriasinhas em breve. Por telefone, Benitez foi informado também sobre a visita do 01, como é chamado o coronel Claudio
Fonte O Globo http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/10/03/promotor-que-trabalhava-com-juiza-diz-em-depoimento-policia-que-mario-sergio-transferiu-segurancas-dela-925501497.asp#ixzz1ZntIp6ex
RIO - Um promotor afirmou, num dos últimos depoimentos prestados à Divisão de Homicídios (DH), que a juíza Patrícia Acioli morreu porque ficou "entregue à própria sorte" quando o ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, determinou a transferência dos dois PMs do 7º BPM que faziam a segurança informal da juíza. O promotor trabalhava desde 2001 na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, onde a magistrada era titular. Na segunda-feira, a DH concluiu o inquérito sobre o assassinato da juíza, indiciando, por homicídio, 11 PMs . Patrícia foi executada com 21 tiros no dia 11 de agosto.
Ainda segundo o promotor contou em seu depoimento, Mário Sérgio fez constar no Boletim Interno da PM com o registro da transferência dos policiais que uma nova remoção só poderia ser feita com a sua ordem. Diante da determinação do então comandante-geral e de informações dando conta que o tenente-coronel planejava a morte da juíza, o promotor teve um encontro com Mário Sérgio.
Na reunião - para melhorar a relação entre o comandante, o MP e a juíza -, o promotor afirmou ter explicado ao coronel como eles trabalhavam a questão dos autos de resistência em São Gonçalo. Mário Sérgio - que pediu exoneração na última quarta-feira, após a prisão do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira - disse apenas que a nomeação do tenente-coronel Cláudio para o 7º BPM foi sua, para melhorar os índices de criminalidade do batalhão de São Gonçalo.
Ao "Fantástico", da Rede Globo, no domingo, Mário Sérgio explicou que os PMs foram transferidos porque estavam fazendo segurança de autoridades informalmente. O ex-comandante explicou que, sobre o fato de a transferência deles só poder ser feita com sua autorização, isso foi uma forma de proteger os dois, para evitar que fossem transferidos para o interior do estado. Um dos PMs transferidos era namorado da juíza. Segundo a PM informou na segunda-feira, é praxe a recomendação do comandante.
Entre os PMs indiciados, estão o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo) e do 22º BPM (Maré), e o tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes, que chefiava o Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM. Todos já estão presos. O tenente-coronel - acusado pela polícia de ser o mentor do crime - e o tenente negam as acusações.
O inquérito foi entregue ao Ministério Público estadual na última sexta-feira, ainda sem o relatório do delegado Felipe Ettore, titular da DH e responsável pelas investigações, que levaram 50 dias. O material já está sendo analisado agora pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Eles têm até terça-feira para elaborar a denúncia e encaminhá-la à Justiça estadual.
No domingo, o cabo Sérgio Costa Júnior, o primeiro a aderir à delação premiada, confirmou que o coronel esteve na prisão militar antes dele mesmo ser preso, garantindo que "tudo ia passar" . Em entrevista ao Fantástico, ele afirmou que o coronel Claudio Luiz Silva de Oliveira não apostava numa punição para os policiais do Grupo de Ações Táticas (GAT) do 7 BPM (São Gonçalo) pelo assassinado da juíza.
- Ele fez uma reunião com todos, deu uma palavra de conforto. Disse que tudo ia passar. E depois só ficou o tenente (Daniel Benitez) conversando com ele, não sei dizer por quanto tempo - afirmou o cabo, em entrevista ao Fantástico .
Sérgio e Benitez foram os autores dos 21 disparos que mataram a juíza, dentro do condomínio onde ela morava, no dia 11 de agosto. O cabo afirmou, na entrevista, que atirou com duas pistolas, de calibres 40 e 45. O tenente seria o autor dos tiros de revólver 38. Sérgio disse estar arrependido e temer pela vida da família:
- Saiu nos jornais que por causa do meu depoimento o coronel foi preso. Na verdade, não falei no nome do coronel. Quem falou no coronel foi o tenente Benitez - disse.
Apreensões eram chamadas de espólio de guerraO cabo revelou ainda que a ideia de assassinar a juíza partiu do tenente Benitez, que conversou com a equipe do GAT entre abril e maio. Patrícia Acioli incomodava aos PMs porque colocava em risco o faturamento do batalhão. Os policiais lotados na unidade de São Gonçalo partilhavam armas, drogas e dinheiro apreendidos com bandidos, itens que eram chamados de espólio de guerra.
- Uma vez, o tenente reservou uma parte do espólio para o coronel. Se entregou, não posso dizer - afirmou o cabo Sérgio.
Outro cabo que aceitou participar da delação premiada revelou que o batalhão arrecadava entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por semana. O que passasse desse valor, iria para o coronel, de acordo com o relato da testemunha.
Câmeras de segurança do condomínio onde a juíza morava, em Piratininga, Niterói, revelaram que Sérgio e Benitez estiveram no local do crime aproximadamente sete horas antes do assassinato. Primeiro, chegou o tenente, a pé, seguido posteriormente por Sérgio, numa moto.
Imagens mostraram ainda que ambos aguardavam a saída da juíza do fórum, no dia do crime. Como a moto em que estavam demorou a pegar, um carro começou a seguir o automóvel da juíza. Assim que os dois policiais a alcançam, o veículo, em que estava o policial Jovanir Falcão Júnior, vai embora.
De acordo com o cabo Sérgio, o estudo do local foi bastante detalhado porque a juíza, mesmo sem saber do risco que corria, já havia escapado de outras duas emboscadas na mesma semana. Na primeira, Patrícia Acioli desmarcou uma reconstituição de crime que iria fazer e, em outro dia, saiu mais cedo do que o habitual do trabalho, impedindo que os policiais realizassem seus planos.
No dia seguinte ao assassinato, quatro policiais foram presos por outro crime, com condenação da própria juíza. Após as primeiras investigações, todos os policiais do GAT do 7º BPM foram presos e a Justiça autorizou que as ligações feitas por eles de dentro da unidade prisional fossem grampeadas.
Nas gravações, o tenente Benitez pede a um interlocutor que encha uma bolsa de viagem com seis, oito caixas de cerveja e duas garrafas de vodca. Em conversa com a mãe, o tenente afirmou que fugir do local seria fácil "a coisa mais fácil de fazer do mundo" e que ele poderia ter umas feriasinhas em breve. Por telefone, Benitez foi informado também sobre a visita do 01, como é chamado o coronel Claudio
Fonte O Globo http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/10/03/promotor-que-trabalhava-com-juiza-diz-em-depoimento-policia-que-mario-sergio-transferiu-segurancas-dela-925501497.asp#ixzz1ZntIp6ex
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