Alerta do Exército soa como toque de recolher
Carro de som esvazia ruas no Alemão, explica como os moradores devem agir em operação e avisa que ‘ação contrária será considerado ato hostil e receberá a resposta’
POR ROBERTA TRINDADE
Rio - Um jipe do Exército com alto-falante anunciando regras de comportamento à população durante operação causou tensão ontem à tarde na Pedra do Sapo, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. As mensagens soaram como espécie de toque de recolher e logo a maior parte das ruas ficou vazia.
Na gravação, uma voz grave orientava: “Senhores moradores, o Exército Brasileiro está realizando um mandado judicial em cumprimento da lei. Fechem suas portas e janelas e aguardem orientação. Quando solicitado, abra a porta e aja de maneira educada. Obedeça a todas as instruções. Qualquer ação contrária será considerada como ato hostil e receberá a resposta necessária”.
Militares femininas revistaram bolsas de mulheres que circulavam pela comunidade Pedra do Sapo, no Alemão, em busca de armas e drogas |
Carro de som esvazia ruas no Alemão, explica como os moradores devem agir em operação e avisa que ‘ação contrária será considerado ato hostil e receberá a resposta’
POR ROBERTA TRINDADE
Rio - Um jipe do Exército com alto-falante anunciando regras de comportamento à população durante operação causou tensão ontem à tarde na Pedra do Sapo, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. As mensagens soaram como espécie de toque de recolher e logo a maior parte das ruas ficou vazia.
Na gravação, uma voz grave orientava: “Senhores moradores, o Exército Brasileiro está realizando um mandado judicial em cumprimento da lei. Fechem suas portas e janelas e aguardem orientação. Quando solicitado, abra a porta e aja de maneira educada. Obedeça a todas as instruções. Qualquer ação contrária será considerada como ato hostil e receberá a resposta necessária”.
Militares femininas revistaram bolsas de mulheres que circulavam pela comunidade Pedra do Sapo, no Alemão, em busca de armas e drogas |
Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Simultanemente, militares num helicóptero lançavam panfletos pedindo aos moradores que denunciassem bandidos, armas, drogas e explosivos. Na ação, dois fuzis, parte de metralhadora e drogas foram apreendidos.
Uma outra gravação pedia a colaboração da população e usava a seguinte frase: “As tropas da Força de Pacificação estão presentes nesta comunidade para proteger você e sua família”. A ação teve apoio de policiais militares do Batalhão de Campanha e de agentes da 22ª DP (Penha) para cumprir mandado de busca e apreensão genérico, que englobava a área da Pedra do Sapo.
O mandado foi expedido pela juíza Renata Palheiro Mendes de Almeida, no plantão judiciário do último domingo. Moradoras eram revistadas por militares femininas.
Alguns moradores das ruas Itajoá, Antônio Rêgo e Itacorá não alteraram a rotina. A poucos metros dos militares do Exército, sentada na calçada, alheia à movimentação, dona de casa bebia refrigerante.
Diretora da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho disse que vai denunciar o caso ao Ministério Público Federal.
“É um exagero. Esse tipo de ação violenta os direitos humanos dos moradores e indica um olhar criminalizador que se tem contra as favelas”.
Cão acha parte de metralhadora em parede falsa
“O Serviço de Inteligência do Exército fez um levantamento e nos encaminhou. Fizemos a representação pelo mandado de busca e apreensão e a Justiça concedeu. É uma cooperação mútua”, explicou o delegado José Pedro Costa da Silva, titular da 22ª DP.
Integrante da Polícia do Exército, o Labrador Athos, 6 anos, foi o responsável por localizar dois fuzis — um AK-47 e um 556 —, além de partes de uma metralhadora ponto 30 em uma parede falsa. Especialista em faro de drogas e armas, o cão estava com a tenente veterinária Juliana Varela, do 1º Batalhão de Polícia do Exército, que dava apoio à Força-Tarefa Sampaio.
Além do armamento, a operação terminou com a apreensão de binóculos, rádios de comunicação, granada de efeito moral e R$ 499 em espécie, além de 326 trouxinhas de maconha, 63 pedras de crack e 1.030 papelotes de cocaína.
‘Alerta é comum nas ações’
As operações com carro de som alertando os moradores é uma prática comum nas operações no Complexo do Alemão, de acordo com o relações públicas da Força de Pacificação, major Marcus Vinícius Bouças. Segundo ele, as mensagens no alto-falante servem para orientar a população e explicar o que está ocorrendo.
Há várias gravações utilizadas pelos militares. São mensagens usadas desde o início da ocupação e geralmente reforçam que o Exército está em missão de pacificação para manter um ambiente seguro.
“Sua atitude é fundamental para o bem de todos. Ajudem a Força de Pacificação a ajudar vocês e sua comunidade”, diz um dos textos apresentados a O DIA pelo oficial. Na maioria das mensagens, os militares pedem a colaboração dos moradores para que não interfiram nas ações da tropa.
Especialistas, ONGs e parlamentares ficam indignados com a operação
A mensagem que determinava que moradores ficassem em casa com portas e janelas fechadas causou indignação em especialistas de segurança.
“Na prática, o Exército determinou um toque de recolher aos moradores, que não têm obrigação de obedecer. Mas o próprio Exército avisa que quem não obedecer vai ser tratado como inimigo. Ou seja, é um absurdo, é grave”, afirma o sociólogo Ignácio Cano, especialista em violência pública da Uerj.
O deputado Marcelo Freixo é categórico. “É uma aberração. No Rio, dignidade tem CEP. Se o traficante ‘Polegar’ estivesse escondido em um condomínio da Barra, duvido que alguém daria um mandado de busca para todo condomínio. Não sou contra operação no Alemão, mas contra a forma que é feita”, disse.
Coordenador da ONG Observatório de Favelas, Jailson de Souza e Silva também criticou o teor da mensagem. “É um desrespeito aos direitos fundamentais. O estado está tratando 100% da população de uma região como potencial criminoso”.
Com Pâmela Oliveira
Simultanemente, militares num helicóptero lançavam panfletos pedindo aos moradores que denunciassem bandidos, armas, drogas e explosivos. Na ação, dois fuzis, parte de metralhadora e drogas foram apreendidos.
Uma outra gravação pedia a colaboração da população e usava a seguinte frase: “As tropas da Força de Pacificação estão presentes nesta comunidade para proteger você e sua família”. A ação teve apoio de policiais militares do Batalhão de Campanha e de agentes da 22ª DP (Penha) para cumprir mandado de busca e apreensão genérico, que englobava a área da Pedra do Sapo.
O mandado foi expedido pela juíza Renata Palheiro Mendes de Almeida, no plantão judiciário do último domingo. Moradoras eram revistadas por militares femininas.
Alguns moradores das ruas Itajoá, Antônio Rêgo e Itacorá não alteraram a rotina. A poucos metros dos militares do Exército, sentada na calçada, alheia à movimentação, dona de casa bebia refrigerante.
Diretora da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho disse que vai denunciar o caso ao Ministério Público Federal.
“É um exagero. Esse tipo de ação violenta os direitos humanos dos moradores e indica um olhar criminalizador que se tem contra as favelas”.
Cão acha parte de metralhadora em parede falsa
“O Serviço de Inteligência do Exército fez um levantamento e nos encaminhou. Fizemos a representação pelo mandado de busca e apreensão e a Justiça concedeu. É uma cooperação mútua”, explicou o delegado José Pedro Costa da Silva, titular da 22ª DP.
Integrante da Polícia do Exército, o Labrador Athos, 6 anos, foi o responsável por localizar dois fuzis — um AK-47 e um 556 —, além de partes de uma metralhadora ponto 30 em uma parede falsa. Especialista em faro de drogas e armas, o cão estava com a tenente veterinária Juliana Varela, do 1º Batalhão de Polícia do Exército, que dava apoio à Força-Tarefa Sampaio.
Além do armamento, a operação terminou com a apreensão de binóculos, rádios de comunicação, granada de efeito moral e R$ 499 em espécie, além de 326 trouxinhas de maconha, 63 pedras de crack e 1.030 papelotes de cocaína.
‘Alerta é comum nas ações’
As operações com carro de som alertando os moradores é uma prática comum nas operações no Complexo do Alemão, de acordo com o relações públicas da Força de Pacificação, major Marcus Vinícius Bouças. Segundo ele, as mensagens no alto-falante servem para orientar a população e explicar o que está ocorrendo.
Há várias gravações utilizadas pelos militares. São mensagens usadas desde o início da ocupação e geralmente reforçam que o Exército está em missão de pacificação para manter um ambiente seguro.
“Sua atitude é fundamental para o bem de todos. Ajudem a Força de Pacificação a ajudar vocês e sua comunidade”, diz um dos textos apresentados a O DIA pelo oficial. Na maioria das mensagens, os militares pedem a colaboração dos moradores para que não interfiram nas ações da tropa.
Especialistas, ONGs e parlamentares ficam indignados com a operação
A mensagem que determinava que moradores ficassem em casa com portas e janelas fechadas causou indignação em especialistas de segurança.
“Na prática, o Exército determinou um toque de recolher aos moradores, que não têm obrigação de obedecer. Mas o próprio Exército avisa que quem não obedecer vai ser tratado como inimigo. Ou seja, é um absurdo, é grave”, afirma o sociólogo Ignácio Cano, especialista em violência pública da Uerj.
O deputado Marcelo Freixo é categórico. “É uma aberração. No Rio, dignidade tem CEP. Se o traficante ‘Polegar’ estivesse escondido em um condomínio da Barra, duvido que alguém daria um mandado de busca para todo condomínio. Não sou contra operação no Alemão, mas contra a forma que é feita”, disse.
Coordenador da ONG Observatório de Favelas, Jailson de Souza e Silva também criticou o teor da mensagem. “É um desrespeito aos direitos fundamentais. O estado está tratando 100% da população de uma região como potencial criminoso”.
Com Pâmela Oliveira
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