Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

domingo, 23 de outubro de 2011

SAUDE NO RIO - Carioca tem que esperar até 6 meses por consulta (@minsaude)

   Prevenir males de saúde com especialistas é missão quase impossível nos postos
POR PÂMELA OLIVEIRA
Rio  - A prevenção e o diagnóstico precoce são os melhores remédios contra a maioria das doenças. Moradores do Rio que dependem da rede pública, no entanto, são obrigados a esperar meses para conseguir um médico. ‘Blitz do DIA’ percorreu 12 postos de saúde e policlínicas municipais nas zonas Oeste, Norte, Sul, e Centro e Tijuca, e a radiografia foi assustadora: consulta com cardiologista ou oftalmologista pode demorar até seis meses. Com ortopedista, quatro meses.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Na Políclínica José Paranhos Fontenelle, na Penha, paciente com problemas cardíacos descobre que para ser atendido pelo especialista precisa pegar senha para ser examinado por um clínico. “Após o clínico, dependendo da gravidade, a consulta com o cardiologista pode levar até seis meses”, diz um funcionário.

Em outro posto da Zona Norte, no Centro Municipal de Saúde Alice Tibiriça, em Irajá, a espera é de três meses após o encaminhamento feito pelo clínico.



No Centro Municipal Milton Fontes Magarão, no Engenho de Dentro, um cartaz informa que a marcação do clínico geral e do cardiologista está suspensa até novembro. “Estou com dor no peito e falta de ar. Fui na Clínica da Família, no Hospital Salgado Filho e não consegui o cardiologista. Aqui no posto também não tem. Vou ter que dar um jeito de pagar um particular”, lamentou a aposentada Irene Gonçalves, que mora do Engenho Novo.

Moradores da Zona Oeste sofrem com a falta de especialistas e longas filas por atendimento. No PAM de Bangu, é preciso esperar entre cinco e seis meses para conseguir consulta com o único oftalmologista. “Demora porque só temos um para atender todos os pacientes de Bangu, Campo Grande e Santa Cruz. É muita gente para um só”, revela uma funcionária, após explicar que, para ter acesso ao profissional, é preciso ainda ser atendido por um clínico que deve fazer o encaminhamento. Nos três bairros moram 1,338 milhão de pessoas, de acordo com Censo do IBGE de 2010.

ESPECIALISTA ALERTA PARA RISCO DE MORTE DEVIDO À DEMORA

Diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Dikran Armaganijan alerta que a espera de até seis meses por um cardiologista pode levar à morte.
 
“A demora é um absurdo, é grave. Se o paciente já passou pelo clínico, que mandou para o cardiologista, é porque seguramente ja detectou alguma coisa. Paciente de alto risco não pode esperar seis meses porque pode morrer”, afirma. “Dependendo da patologia compromete vaso sanguíneo e pode causar angina, isquemia e até um derrame”, diz.

A longa espera por um oftalmo também pode gerar graves consequências, alerta o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto. “Dependendo do caso, há risco de perda de visão”, afirma.

Com a visão embaçada e os olhos ardendo,José Lemos, 46, tenta há seis meses uma consulta com oftalmologista. “É a quarta vez que acordo de madrugada e não consigo ser atendido porque o médico falta”, lamenta José, que enfrentou fila no Centro Municipal de Saúde (CMS) Milton Fontes Magarão, no Engenho de Dentro.

Município admite falta de especialistas

Subsecretário de Atenção primária do município, Daniel Soranz admite que a falta de ortopedistas e oftalmologistas é um problema na rede básica.
“Hoje, uma consulta com um oftalmologista demora de três a quatro meses. Não é o ideal, mas estamos melhorando. Em 2008 era de dois anos”, afirma.

Segundo Soranz, os postos — diferentemente das policlínicas — não têm obrigação de ter especialistas, mas têm que dar informações corretas. “Não é possível admitir que o funcionário despache o paciente. Tem que explicar onde encontrar o especialista”.

Soranz diz que a espera por cardiologista não é de seis meses e que a informação foi um erro do atendente. “A marcação é feita pelo clínico de acordo com classificação de risco. Dizer que são 6 meses é despachar o paciente”, diz.

CÂMERA ESCONDIDA
Além da falta de especialistas, pacientes se deparam com informações precárias . Confira o diálogo entre repórter e funcionários do posto.

NO SETOR DE MARCAÇÃO:
Repórter:Bom dia. Queria marcar um urologista
Atendente:Não tem
R:Você sabe onde tem?
A: Você tem encaminhamento? Tem que passar pelo clínico primeiro. Mesmo assim não está marcando clínico aqui.
R: Por quê?
A: Está lotado.
R: E ortopedista?
A: Não tem. Não tem em nenhum posto da região

NA ADMINISTRAÇÃO:
R: Como faço para marcar um urologista?
A: Você tem que conseguir encaminhamento de um clínico. Você consegue até em uma UPA.
R: Tem urologista?
A: Não. Você vai marcar para outra unidade
R: Aqui perto?
A: Não, você pode cair em qualquer lugar do Rio. Até em Laranjeiras.

OS POSTOS VISTORIADOS


SANTA CRUZ
Policlínica Lincoln de Freitas Filho, na rua Álvaro Alberto, 601

BANGU
CMS Waldyr Franco, na Praça Cecília Pedro, 60
Policlínica Manoel Guilherme da Silveira Filho, na Avenida Ribeiro Dantas, 571

CAMPO GRANDE
CMS Belizário Penna, na rua Franklin nº 29

ENGENHO DE DENTRO
CMS Milton F. Magarão, Av. Amaro Cavalcanti, 1387

LINS DE VASCONCELOS
Posto Dr. Carlos Gentile de Mello, rua Bicuiba, 181

IRAJÁ
Posto Alice Toledo Tibiriça, na rua Juriti s/nº

PENHA
PAM José P. Fontenelle, rua Leopoldina Rego, 700

CENTRO
CMS Oswaldo Cruz, na Av. Henrique Valadares, 151

TIJUCA
CMS Heitor Beltrão, rua Desembargador Isidro, 144
COPACABANA
CMS João Barros Barreto, na rua Siqueira Campos 

CATETE
CMS Manoel José Ferreira, rua Silveira Martins, 161.

Colaborou Pedro de Figueiredo


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