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terça-feira, 5 de junho de 2012

SAÚDE NO RJ - Médica pede socorro pelo Hospital Estadual Rocha Faria


Marcelo Dias
EXTRA

A médica Ângela Maria Tenório de Albuquerque denunciou a falta de médicos no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande 
Foto: Thiago Lontra

Num acesso de fúria e franqueza, a pediatra e clínica geral Ângela Maria Tenório de Albuquerque expôs em alto e bom som a falta de médicos e a superlotação do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na última quarta-feira (30). O desabafo, aos berros, foi flagrado pelo programa "Fala Brasil", da Rede Record. Hoje, o Sindicato dos Médicos anunciou que levará o caso ao Ministério Público.

— A realidade foi mostrada várias vezes, e os pacientes foram testemunhas da minha batalha naquele dia. Há sobrecarga e falta de médicos, e, quase todos os dias, há esse problema não só nas unidades de emergências, mas também nas UPAs e nas clínicas de família — conta Ângela, afirmando que estava sozinha no plantão devido à dispensa de um colega.

Procurada, a Secretaria estadual de Saúde sustenta que a equipe médica estava completa. Em nota, o órgão alega falta de unidades municipais para atender a Zona Oeste e reduzir a demanda sobre o Rocha Faria, agravada desde o incêndio do Hospital Pedro II — agora da prefeitura —, ocorrido em outubro de 2010.

"A Secretaria de Estado de Saúde esclarece que não se trata de um problema de falta de médicos, mas de falta de unidades de saúde na região, que vem sobrecarregando o Hospital Estadual Rocha Faria rotineiramente desde o fechamento do Hospital Pedro II. A SES aguarda a definição da data de reabertura do Hospital Pedro II por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro e acredita que este fluxo de pacientes irá melhorar bastante para o atendimento à população. ", diz o texto.

De acordo com o órgão, 386 pessoas foram atendidas na emergência neste sábado (2) — mais do que o triplo de sua capacidade normal, de 120 atendimentos por dia. No domingo (3), esse número saltou para 597 — quase o quíntuplo da capacidade do setor.

— Eles dizem que havia médicos, mas o próprio diretor do hospital me confirmou que ela estava sozinha no plantão — diz o presidente do sindicato, Jorge Darze.

Do lado de fora do hospital, sobram reclamações, como no caso da morte de Manoel Pereira de Oliveira, neste sábado.

— Ele era meu irmão de criação e foi internado na quarta, com coração dilatado e rins parados. Ele morreu no sábado, às 19h, e o hospital só nos avisou hoje (ontem), às 7h30m — contou o servidor Reginaldo Tupinambá.

Procurado, o hospital alega ter feito o contato no sábado.

Dizendo-se sobrinha-neta do deputado Tenório Cavalcanti — famoso pela violência e pela inseparável submetralhadora com que abriu caminho na política na Baixada, nas décadas de 1940 e 1950 —, Ângela não teme retaliações. Funcionária contratada, ela estaria sujeita à demissão. A Secretaria de Saúde, no entanto, informou que não a punirá.

Questionada pelo Extra Online sobre as denúncias da médica, a Secretaria de Saúde respondeu assim:

O hospital tem quantos médicos e qual é a sua real necessidade? Quantos pacientes são atendidos por dia na emergência? Qual é a real capacidade do Rocha Faria nesse setor? Em quais especialidades há carência de médicos?

A Secretaria de Estado de Saúde esclarece que não se trata de um problema de falta de médicos, mas de falta de unidades de saúde na região, que vem sobrecarregando o Hospital Estadual Rocha Faria rotineiramente desde o fechamento do Hospital Pedro II. A SES aguarda a definição da data de reabertura do Hospital Pedro II por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro e acredita que este fluxo de pacientes irá melhorar bastante para o atendimento à população.

No último sábado, 2 de junho, foram realizados 386 atendimentos de emergência na unidade, duas vezes mais do que sua capacidade (120 atendimentos/dia). No domingo, 3 de junho, o número de atendimentos foi ainda maior: 597 atendimentos de emergência, quase 4 vezes mais que a capacidade. É importante ressaltar que todos os pacientes são atendidos. O projeto de um novo Rocha Faria também já está em andamento, para aumentar e melhorar o atendimento à população.

Sobre o contingente de médicos, o Governo do Estado vem investimento para aumentar ainda mais o quadro de funcionários na área de saúde. No fim do ano passado, foi realizado um concurso público para mais de 4,5 mil vagas para diversos cargos, entre elas médicos e enfermeiros, com salários de até R$ 6 mil.

Quantas cirurgias são realizadas por mês? Qual é o tamanho da fila de cirurgias?

O Hospital Estadual Rocha Faria realiza operações emergenciais de cirurgia geral e ortopedia. Em maio, foram 423 procedimentos. Desse total, foram 305 foram apenas de cirurgias ortopédicas, uma média de 10 operações/dia. Durante todo o ano de 2011, a unidade realizou 3.021 procedimentos, ficando atrás apenas do Hospital de Traumatologia e Ortopedia Dona Lindu (HTODL), em Paraíba do Sul, especializado em atendimentos de média e alta complexidade.

O que a secretaria fará para amenizar ou resolver a situação do Rocha Faria, que continua recebendo a demanda que era do Hospital Pedro II?

O novo Hospital Estadual Rocha Faria (HERF), que vai ser construído por Parceria Público-Privada (PPP) em um terreno do Governo do Estado na Estrada do Mendanha, em Campo Grande, bem próximo às principais vias de acesso da região. A nova unidade ocupará área três vezes maior e terá capacidade de atendimento ampliada em 400%. Com o crescimento da demanda por atendimento de saúde na Zona Oeste, sobretudo após o fechamento do Hospital Pedro II, o atual HERF não comporta mais as necessidades da região. Além disso, o prédio da Av. Cesário de Melo é tombado e não permite grandes alterações estruturais. Entre obras e equipamentos, devem ser investidos R$ 160 milhões no novo HERF.

O novo Hospital Estadual Rocha Faria terá, por exemplo, duas portas de entrada de emergência. Uma delas será exclusiva para atendimento dos casos de politraumatizados, que chegam de ambulâncias de toda a região, sendo referência na atuação para salvar vidas. Essa área de emergência será equipada para permitir intervenções cirúrgicas de urgência no local de entrada do paciente. Além disso, terá equipamento de ressonância magnética e de tomografia computadorizada em sala contígua à emergência, para dar mais agilidade nos diagnósticos dos traumas.

No dia 9 de março foi lançado o edital de Manifestação de Interesse Privado, que é a apresentação de estudo preliminar para a construção da nova unidade por meio de PPP. Em 14 de maio encerrou-se o prazo para que as empresas entregassem seus projetos. Todo o processo seguirá o curso determinado por lei até o lançamento do edital para início de construção.

Haverá alguma ação contra a médica? Alguma sindicância foi ou será aberta?

Não haverá nenhuma ação contra a médica.

Ela reclama que estava sozinha na quarta-feira passada (30). Quantos médicos estavam escalados para trabalhar e quantos apareceram? Se ela realmente estava sozinha, o que será feito contra os médicos que faltaram ao trabalho?

Ela não estava sozinha na quarta-feira. O plantão dela estava completo. Desde 2009, a Secretaria de Estado de Saúde instituiu o ponto biométrico para monitorar a falta de funcionários nos plantões de hospitais e UPAs da rede estadual. A aferição vem reduzindo o número de faltas e melhorando a transparência para a população, que pode cobrar da Secretaria e também do profissional a sua presença nas unidades de saúde. Quando o sistema começou a ser implantado havia registro de até 45% de faltosos, hoje a média é de 12% nas UPAs e 0,5% nos hospitais da rede estadual. Vale lembrar que a escala de médicos de plantão nas UPAs e unidades próprias está disponível a toda a população no portal da SES: http://www.saude.rj.gov.br.


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