Incidente com parapente expõe falta de fiscalização
A nutricionista Priscila Boliveira morreu ao cair durante um voo duplo; ela saltou da rampa da Pedra Bonita com duas das três travas de segurança abertas
Célia Costa
Ludmilla de Lima
Um vídeo mostra o último salto de Priscila Boliveira, que estava com as travas de segurança abertas, e seu instrutor Allan Figueiredo, que na foto abaixo deixa a delegacia após prestar depoimento
A nutricionista Priscila Boliveira morreu ao cair durante um voo duplo; ela saltou da rampa da Pedra Bonita com duas das três travas de segurança abertas
Célia Costa
Ludmilla de Lima
Um vídeo mostra o último salto de Priscila Boliveira, que estava com as travas de segurança abertas, e seu instrutor Allan Figueiredo, que na foto abaixo deixa a delegacia após prestar depoimento
Reprodução da TV Globo
RIO - A nutricionista Priscila Boliveira, de 24 anos, que morreu ao cair durante um voo duplo de parapente no domingo, saltou da rampa da Pedra Bonita com duas das três travas de segurança abertas. Só o fecho que a prendia na altura do peito estava travado. Com base nessas informações, o delegado Fábio Barucke, da 15ª DP (Gávea), vai indiciar o instrutor Allan Figueiredo por homicídio culposo, causado por negligência. A morte da nutricionista é mais uma tragédia que ocorre numa atividade de lazer sem que haja um responsável pela fiscalização. Mesmo sendo proibida a comercialização de voos duplos, o programa é um dos mais divulgados para os turistas.
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Irmã de vítima de voo de asa-delta ocorrido em 2003 ainda luta por justiça
Voos duplos de asa-delta e parapente são proibidos pela Anac há pelo menos dez anos
Piloto de parapente cai na mata após saltar da Pedra Bonita
Parapente cai na Barra da Tijuca e homem fica ferido
Apesar de proibir os voos duplos com fins lucrativos, a Agência Nacional de Aviação (Anac) informou que não fiscaliza a atividade. A prefeitura, que tombou por decreto as rampas da Pedra Bonita, também não. Vinícius Cordeiro, um dos diretores do Clube São Conrado de Voo Livre, informou que a entidade é fiscalizada pela Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL). Segundo ele, a entidade, por sua vez, é fiscalizada pela Anac. Por determinação da ABVL, diz, os equipamentos usados no voo livre devem ser vistoriados de seis em seis meses ou após 250 passeios. Há cerca de dois meses, segundo Vinicius Cordeiro, todos os equipamentos dos associados do clube foram averiguados, inclusive o do instrutor de Priscila.
— Foi culpa dele. O instrutor tinha a obrigação de checar as travas antes do voo — disse o delegado, que afirmou que fotos e vídeos feitos no momento do salto mostram as travas de seguranças soltas.
Barucke explicou que o homicídio culposo tem sempre uma de três causas: imprudência, imperícia ou negligência. A nutricionista despencou de uma altura de 20 metros, caindo na areia da Praia de São Conrado, após dois minutos e meio de um voo que normalmente duraria 12. Segundo o delegado, Allan contou na delegacia que percebeu, logo após pular da rampa, que as travas estavam soltas. Decidiu então abreviar o passeio e descer no mar para tentar salvar Priscila. Mas não deu tempo, e a queda ocorreu cinco segundos antes de chegar à água.
O instrutor disse que tentou segurar Priscila, mas ela escorregou porque suava muito. Fotos feitas no local, segundo o delegado, mostram que, na primeira tentativa de voo, quando Priscila não conseguiu pular, por medo, as duas travas estavam fechadas. Na segunda, elas aparecem destravadas.
Uma câmera instalada no parapente pode ter gravado o acidente, mas ela desapareceu. Como estaria ainda em estado de choque, Allan não foi na segunda-feira à delegacia, mas se comprometeu a voltar na sexta-feira.
Voos duplos como o feito pela nutricionista, que morava em Salvador e passava férias no Rio com o irmão, o ator Fabrício Boliveira, do filme "Tropa de Elite 2", são proibidos pela Anac há pelo menos uma década. São permitidos apenas voos de instrução. Como contou a fotógrafa Carol Beiriz, amiga de Fabrício e que foi com um grupo levar Priscila até a rampa, ela queria ver a cidade de cima e não tinha qualquer pretensão de aprender a lidar com um parapente, nem seguir no esporte. Foi o primeiro voo dela.
O presidente da ABVL, Marcelo Silveira de Almeida, disse desconhecer que sejam realizados voos comerciais. Segundo ele, não há como saber se são voos turísticos, porque os turistas também querem aprender a voar. Marcelo Silveira não quis dizer se os voos de instrução são para burlar a proibição da Anac.
Ao contratar o instrutor, Priscila assinou um termo se identificando como aluna e assumindo os riscos da atividade. Vinicius Cordeiro disse que a medida é sempre adotada na rampa da Pedra Bonita antes das decolagens de parapente e asa-delta.
— O antigo voo duplo passou a ser considerado voo de instrução. No meio do voo, o instrutor passa o comando para o aluno, para que ele aprenda a pilotar. É como se fosse um voo de batismo — diz o diretor do clube, ressaltando que o clube segue as regras da Anac. — Ela (Priscila) assinou um termo se identificando como aluna e assumindo os riscos.
— A partir do primeiro segundo, ele fez um procedimento de pouso de emergência. Logo após a decolagem, eles chegaram a tocar num arbusto, e a partir daí foi iniciado o pouso.
O voo no parapente é feito com o aluno preso numa cadeira e protegido por três travas de segurança — uma no tórax e uma em cada perna. Cada trava, explica o diretor do Clube São Conrado, suporta 1.200 quilos. Por isso, uma das hipóteses é que as travas que seguravam as pernas estavam abertas, fazendo com que Priscila escorregasse pela trava presa ao tórax.
O instrutor Allan Figueiredo cobrou R$ 250 pelo voo de parapente. Em fotos feitas por amigos antes da decolagem, Priscila aparece sorridente. Carol Beiriz, que prestou depoimento na segunda-feira na delegacia com outras duas amigas de Fabrício, disse que foi Allan quem convenceu a jovem a voar de parapente, alegando que seu peso não seria adequado para a asa-delta. Por e-mail, Fabrício fez o mesmo relato: "Priscila pretendia saltar de asa-delta na tarde do dia 25 passado (domingo). Devido ao seu peso, em torno de 75 quilos, os instrutores do local sugeriram que ela optasse pelo salto de parapente, por ser mais seguro nesses casos". Segundo a polícia, no entanto, ela tinha 92 quilos.
Os amigos, que foram aguardar o pouso na areia estranharam o fato de o parapente não aparecer no céu.
— Nós descemos e, quando chegamos à praia, ficamos nos perguntando: "Cadê ela?". Olhávamos para o céu e não víamos nenhum parapente azul e branco, como era o que ela estava usando. Víamos o parapente de um amigo que decolou depois, mas não víamos o dela — lembrou Carol.
Ela contou ainda que o instrutor queria devolver o dinheiro após a queda de Priscila. Fabrício estava na praia aguardando a irmã quando foi avisado por um desconhecido de que, a metros dali, havia ocorrido um acidente. "O ator chegou até o local de carro e se deparou com a imagem do corpo da irmã estendido na areia. No local, já havia policiamento, ambulâncias e muitos curiosos", divulgou a assessoria de imprensa do ator.
Quando o lazer vira um perigo
Acidentes anteriores já comprovaram que desfrutar de momentos de lazer pode significar botar a vida em risco se, além da negligência de quem oferece o serviço, houver omissão do órgão fiscalizador. Foi exatamente o que ocorreu em 14 de agosto de 2011, quando um brinquedo parque Glória Center, em Vargem Grande, voou sobre o público, matando Alessandra Aguiar, de 17 anos, e Vítor Oliveira, de 16 anos, deixando oito feridos. Tudo porque o brinquedo estava enferrujado, como constatou a perícia. Embora estivesse funcionando, soube-se, posteriormente, que o parque não tinha alvará.
Em 11 de dezembro passado, o casal de namorados Lethícia Araújo, de 16 anos, e Rodrigo Guilherme, de 19, escolheu passear de pedalinho na Lagoa. A embarcação da empresa Little Boat Turismo naufragou e o casal foi resgatado por um homem que se jogou na água e por uma lancha da empresa.
Na época, a Subprefeitura da Zona Sul disse que Little Boat obtivera apenas uma "autorização precária" para operação. Quatro meses antes, ela tinha sido interditada durante vistoria dos bombeiros, mas continuou operando.
A omissão da fiscalização também resultou numa tragédia no Centro, em outubro passado, quando uma explosão dentro do restaurante Filé Carioca, na Praça Tiradentes, matou três pessoas e deixou 17 feridas. O estabelecimento guardava cilindros de gás num depósito clandestino. Os cinco fiscais da prefeitura acabaram denunciados.
Já o desabamento de três prédios na Cinelândia, em janeiro, provocado provavelmente por obras irregulares em andamento, deixou 17 mortos.
Fonte O Globo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/incidente-com-parapente-expoe-falta-de-fiscalizacao-4422109#ixzz1qJ38IGTT
RIO - A nutricionista Priscila Boliveira, de 24 anos, que morreu ao cair durante um voo duplo de parapente no domingo, saltou da rampa da Pedra Bonita com duas das três travas de segurança abertas. Só o fecho que a prendia na altura do peito estava travado. Com base nessas informações, o delegado Fábio Barucke, da 15ª DP (Gávea), vai indiciar o instrutor Allan Figueiredo por homicídio culposo, causado por negligência. A morte da nutricionista é mais uma tragédia que ocorre numa atividade de lazer sem que haja um responsável pela fiscalização. Mesmo sendo proibida a comercialização de voos duplos, o programa é um dos mais divulgados para os turistas.
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Apesar de proibir os voos duplos com fins lucrativos, a Agência Nacional de Aviação (Anac) informou que não fiscaliza a atividade. A prefeitura, que tombou por decreto as rampas da Pedra Bonita, também não. Vinícius Cordeiro, um dos diretores do Clube São Conrado de Voo Livre, informou que a entidade é fiscalizada pela Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL). Segundo ele, a entidade, por sua vez, é fiscalizada pela Anac. Por determinação da ABVL, diz, os equipamentos usados no voo livre devem ser vistoriados de seis em seis meses ou após 250 passeios. Há cerca de dois meses, segundo Vinicius Cordeiro, todos os equipamentos dos associados do clube foram averiguados, inclusive o do instrutor de Priscila.
— Foi culpa dele. O instrutor tinha a obrigação de checar as travas antes do voo — disse o delegado, que afirmou que fotos e vídeos feitos no momento do salto mostram as travas de seguranças soltas.
Barucke explicou que o homicídio culposo tem sempre uma de três causas: imprudência, imperícia ou negligência. A nutricionista despencou de uma altura de 20 metros, caindo na areia da Praia de São Conrado, após dois minutos e meio de um voo que normalmente duraria 12. Segundo o delegado, Allan contou na delegacia que percebeu, logo após pular da rampa, que as travas estavam soltas. Decidiu então abreviar o passeio e descer no mar para tentar salvar Priscila. Mas não deu tempo, e a queda ocorreu cinco segundos antes de chegar à água.
O instrutor disse que tentou segurar Priscila, mas ela escorregou porque suava muito. Fotos feitas no local, segundo o delegado, mostram que, na primeira tentativa de voo, quando Priscila não conseguiu pular, por medo, as duas travas estavam fechadas. Na segunda, elas aparecem destravadas.
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Voos duplos como o feito pela nutricionista, que morava em Salvador e passava férias no Rio com o irmão, o ator Fabrício Boliveira, do filme "Tropa de Elite 2", são proibidos pela Anac há pelo menos uma década. São permitidos apenas voos de instrução. Como contou a fotógrafa Carol Beiriz, amiga de Fabrício e que foi com um grupo levar Priscila até a rampa, ela queria ver a cidade de cima e não tinha qualquer pretensão de aprender a lidar com um parapente, nem seguir no esporte. Foi o primeiro voo dela.
O presidente da ABVL, Marcelo Silveira de Almeida, disse desconhecer que sejam realizados voos comerciais. Segundo ele, não há como saber se são voos turísticos, porque os turistas também querem aprender a voar. Marcelo Silveira não quis dizer se os voos de instrução são para burlar a proibição da Anac.
Ao contratar o instrutor, Priscila assinou um termo se identificando como aluna e assumindo os riscos da atividade. Vinicius Cordeiro disse que a medida é sempre adotada na rampa da Pedra Bonita antes das decolagens de parapente e asa-delta.
— O antigo voo duplo passou a ser considerado voo de instrução. No meio do voo, o instrutor passa o comando para o aluno, para que ele aprenda a pilotar. É como se fosse um voo de batismo — diz o diretor do clube, ressaltando que o clube segue as regras da Anac. — Ela (Priscila) assinou um termo se identificando como aluna e assumindo os riscos.
— A partir do primeiro segundo, ele fez um procedimento de pouso de emergência. Logo após a decolagem, eles chegaram a tocar num arbusto, e a partir daí foi iniciado o pouso.
O voo no parapente é feito com o aluno preso numa cadeira e protegido por três travas de segurança — uma no tórax e uma em cada perna. Cada trava, explica o diretor do Clube São Conrado, suporta 1.200 quilos. Por isso, uma das hipóteses é que as travas que seguravam as pernas estavam abertas, fazendo com que Priscila escorregasse pela trava presa ao tórax.
O instrutor Allan Figueiredo cobrou R$ 250 pelo voo de parapente. Em fotos feitas por amigos antes da decolagem, Priscila aparece sorridente. Carol Beiriz, que prestou depoimento na segunda-feira na delegacia com outras duas amigas de Fabrício, disse que foi Allan quem convenceu a jovem a voar de parapente, alegando que seu peso não seria adequado para a asa-delta. Por e-mail, Fabrício fez o mesmo relato: "Priscila pretendia saltar de asa-delta na tarde do dia 25 passado (domingo). Devido ao seu peso, em torno de 75 quilos, os instrutores do local sugeriram que ela optasse pelo salto de parapente, por ser mais seguro nesses casos". Segundo a polícia, no entanto, ela tinha 92 quilos.
Os amigos, que foram aguardar o pouso na areia estranharam o fato de o parapente não aparecer no céu.
— Nós descemos e, quando chegamos à praia, ficamos nos perguntando: "Cadê ela?". Olhávamos para o céu e não víamos nenhum parapente azul e branco, como era o que ela estava usando. Víamos o parapente de um amigo que decolou depois, mas não víamos o dela — lembrou Carol.
Ela contou ainda que o instrutor queria devolver o dinheiro após a queda de Priscila. Fabrício estava na praia aguardando a irmã quando foi avisado por um desconhecido de que, a metros dali, havia ocorrido um acidente. "O ator chegou até o local de carro e se deparou com a imagem do corpo da irmã estendido na areia. No local, já havia policiamento, ambulâncias e muitos curiosos", divulgou a assessoria de imprensa do ator.
Quando o lazer vira um perigo
Acidentes anteriores já comprovaram que desfrutar de momentos de lazer pode significar botar a vida em risco se, além da negligência de quem oferece o serviço, houver omissão do órgão fiscalizador. Foi exatamente o que ocorreu em 14 de agosto de 2011, quando um brinquedo parque Glória Center, em Vargem Grande, voou sobre o público, matando Alessandra Aguiar, de 17 anos, e Vítor Oliveira, de 16 anos, deixando oito feridos. Tudo porque o brinquedo estava enferrujado, como constatou a perícia. Embora estivesse funcionando, soube-se, posteriormente, que o parque não tinha alvará.
Em 11 de dezembro passado, o casal de namorados Lethícia Araújo, de 16 anos, e Rodrigo Guilherme, de 19, escolheu passear de pedalinho na Lagoa. A embarcação da empresa Little Boat Turismo naufragou e o casal foi resgatado por um homem que se jogou na água e por uma lancha da empresa.
Na época, a Subprefeitura da Zona Sul disse que Little Boat obtivera apenas uma "autorização precária" para operação. Quatro meses antes, ela tinha sido interditada durante vistoria dos bombeiros, mas continuou operando.
A omissão da fiscalização também resultou numa tragédia no Centro, em outubro passado, quando uma explosão dentro do restaurante Filé Carioca, na Praça Tiradentes, matou três pessoas e deixou 17 feridas. O estabelecimento guardava cilindros de gás num depósito clandestino. Os cinco fiscais da prefeitura acabaram denunciados.
Já o desabamento de três prédios na Cinelândia, em janeiro, provocado provavelmente por obras irregulares em andamento, deixou 17 mortos.
Fonte O Globo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/incidente-com-parapente-expoe-falta-de-fiscalizacao-4422109#ixzz1qJ38IGTT
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