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sábado, 10 de dezembro de 2011

TÚNEIS NO RIO - Especialistas dizem que túneis da cidade não estão equipados para situações de emergência

Na quinta-feira, incêndio num ônibus dentro do Túnel da Covanca, na Linha Amarela, deixou seis feridos e parou a cidade

Carla Rocha
Rogério Daflon
Waleska Borges
Osvaldo Soares
Duilo Victor 
 

O Túnel Zuzu Angel: grandes extensões sem exaustores, equipamento importante para a renovação do ar nas galerias Domingos Peixoto / O Globo
RIO - Um passeio pelos túneis do Rio revela que eles ou estão malconservados ou não são seguros. Faltam equipes treinadas para agir em casos de emergência e equipamentos capazes de evitar tragédias, sejam grandes acidentes ou incêndios como o de quinta-feira num ônibus da linha 315 da Translitorânea dentro do Túnel da Covanca, na Linha Amarela, que deixou seis feridos e parou a cidade. No Túnel Zuzu Angel, entre Gávea e São Conrado, há grandes extensões sem exaustor — fundamental para a renovação do ar — e o Santa Bárbara, entre Catumbi e Laranjeiras, está com o teto em mau estado, onde luminárias antigas, já substituídas, foram deixadas no local como relíquias. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, atravessar essas vias de uma cidade recortada por montanhas oferece riscos. E não são poucos.


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A "paralisia" de várias vias por conta de um evento restrito a uma região da cidade reacendeu a discussão sobre o planejamento para enfrentar situações de emergência. Os engarrafamentos de ontem atingiram em cheio Jacarepaguá e Barra, mas seus reflexos puderam ser sentidos na Avenida Brasil, em vários pontos das zonas Norte e Sul. O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, disse que os problemas causados por deficiências da prefeitura ou da Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela, não são inéditos.

— Nesses casos, é importante ter pessoas, com equipamentos de segurança, que possam reduzir o tempo de ação, seja incêndio, acidente, o que for. Não se pode ficar esperando a chegada dos bombeiros. Isso é o fim da picada. Até o bombeiro chegar vai ser uma tragédia, não por incompetência dos bombeiros, mas porque eles também vão ficar presos no engarrafamento. Houve uma conjugação de falhas — disse Guerreiro.

Sistema de exaustão mostrou-se falho

No jogo dos erros, o item tempo de ação foi o mais criticado. Da demora na identificação do incêndio, que começou por volta das 16h30m de quinta-feira, até o lento processo para o desbloqueio da primeira pista — 3 horas e 38 minutos depois — e para a liberação total do túnel, que só aconteceu às 5h35m de sexta-feira, treze horas depois. O engenheiro mecânico Jaques Sherique, secretário da Divisão Técnica de Segurança do Clube de Engenharia, chamou de "brincadeira" o tempo de bloqueio total das pistas do túnel.

— Faltou um plano de emergência para remoção do veículo que estava pegando fogo dentro do túnel. A grande quantidade de fumaça revela que os operadores da via não tinham os equipamentos necessários para casos deste tipo. Pelo menos, deveriam ter um sistema de exaustão razoável e máscaras para os motoristas que ficaram presos até chegar o socorro. Além do sistema de exaustão permanente, aqueles grandes ventiladores, há outros de exaustão forçada, em que a fumaça pode ser retirada em poucos minutos. É fundamental. Níveis de carbono muito altos podem causar desmaios ou até mortes por asfixia — disse Sherique.

O prefeito Eduardo Paes, que durante a madrugada esteve no local do acidente, adiantou na sexta-feira ao jornal ter convicção de que a Lamsa foi ineficiente, embora os procedimentos ainda estejam sendo investigados.

— A minha sensação, desde ontem à noite, é que a resposta (da Lamsa) foi ineficiente. Você tem um plano de contingência e não pode abrir a outra galeria porque ela está cheia de fumaça. Mas a fumaça não ficou lá três horas e meia — argumentou Paes que, ao ser perguntado sobre qual órgão fiscalizador seria responsável por multar a concessionária, respondeu: — Neste caso, o próprio prefeito pune.

Procurada, a Lamsa não quis comentar as críticas feitas à sua operação de emergência.

Chefe-executivo do Centro de Operações Rio, Sávio Franco afirmou que o incêndio afetou o sistema elétrico do túnel, paralisando os ventiladores e prejudicando a iluminação interna da galeria.

— A fonte de energia da parte de iluminação e da exaustão do Túnel da Covanca é apenas aérea. A concessionária deveria ter uma fonte subterrânea. Foi preciso a chegada de dois grandes ventiladores dos bombeiros para dispersar a fumaça — informou.

Táxi: ida e volta da Barra em 4 horas
Segundo ele, a prefeitura tentou amenizar as retenções no trânsito acionando agentes da CET-Rio e policiais militares e pedindo ao metrô e a SuperVia que estendessem os seus horários de funcionamento. Também foi alterado o tempo dos sinais de trânsito e suspensa a interdição da Linha Vermelha devido a uma obra. Mas o que se viu foram queixas por todos os lados por causa dos congestionamentos. Um taxista contou que, na quinta-feira, levou duas hora e meia para levar uma passageira de Ipanema até o Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, e mais duas horas para voltar de lá até o Largo do Machado, onde fica o ponto de sua cooperativa.

— Quando entrei na Lagoa, para pegar a Autoestrada Lagoa-Barra, o engarrafamento começou, tanto para ir para a Barra como para voltar de lá para a Zona Sul. Durante todo o tempo, não vi qualquer esquema especial de trânsito, nem painéis da prefeitura alertando os motoristas.

Há cinco meses, a prefeitura contratou a Coppe/UFRJ para desenvolver planos de emergência nos três principais túneis administrados pelo município: Rebouças, Santa Bárbara e Zuzu Angel. Os estudos já estão prontos, com manuais de socorro para cada situação. Para entrar em prática, é preciso adaptar equipamentos, como carros de socorro com sinalização para trafegar na contramão, e treinar agentes da CET-Rio, o que deve começar nos primeiros meses do ano que vem.

Nas duas galerias do Rebouças, por exemplo, já estão instaladas câmeras a cada 150 metros para captar imagens de um acidente em tempo real e transmiti-las para o Centro de Operações.

— Cada cenário tem providências diferentes, dependendo do horário e do impacto da via na cidade — disse o coordenador do Grupo de Análise de Risco Tecnológico e Ambiental da Coppe, Moacyr Duarte

Fonte O Globo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/especialistas-dizem-que-tuneis-da-cidade-nao-estao-equipados-para-situacoes-de-emergencia-3417004#ixzz1g8DUNguv

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