Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 20 de outubro de 2012

ROMBO DO BANCO BVA - Quebra do BVA já estava ‘cantada’

Banco não divulgou balanço auditado em 2012, precisava de capitalização de R$ 630 milhões e, nas últimas semanas, deixou de honrar saques

Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - De todas as intervenções ou liquidações determinadas pelo Banco Central (BC) nos últimos dois anos, a do BVA foi a mais ‘cantada’ pelo mercado. Rumores de que o banco estava mal das pernas circulavam há meses e aumentaram nos últimos dias, com a informação de que clientes não conseguiam sacar depósitos. Apesar disso, em conversas reservadas, os controladores demonstravam otimismo com o futuro da instituição.

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Tanto que ficaram atônitos quando sete fiscais do BC ingressaram na sede, na Avenida Faria Lima, centro financeiro paulistano, por volta das 9 horas desta sexta-feira, 19. O tempo que eles julgavam que ainda existia para salvar o BVA se esgotara.

Assim como fez em várias outras instituições, o BC apertou a fiscalização sobre o BVA em 2011 e 2012. Em números, a ação da autoridade resultou em uma exigência de provisões adicionais na casa de R$ 150 milhões. O balanço do primeiro semestre, que não chegou a ser publicado, apontaria prejuízo de R$ 100 milhões.

Para cobrir a perda e adequar o balanço, o BC determinou uma capitalização de cerca de R$ 300 milhões. O presidente do BVA, Ivo Lodo, chegou a anunciar publicamente a capitalização para setembro. O dinheiro não saiu e a pressão cresceu. Com isso, a necessidade de capitalização dobrou. Chegou a R$ 600 milhões.

O controlador do BVA, José Augusto Ferreira dos Santos, decidiu, então, pedir ajuda ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC). A primeira reunião ocorreu há pouco menos de um mês. Técnicos do FGC avaliaram os números do banco e toparam emprestar R$ 130 milhões com a condição de que o restante do dinheiro fosse viabilizado pelos sócios do BVA - Santos e Lodo.

Os dois saíram em busca de recursos. Se acertaram com um dos acionistas preferenciais do BVA, o empresário Carlos Alberto Oliveira Andrade, do Grupo Caoa. Ele emprestaria R$ 300 milhões, desde que tivesse garantias reais em contrapartida. Santos e Lodo assinaram um contrato no qual empenharam parte do patrimônio pessoal - em sua maioria, fazendas.

Na teoria, a capitalização estava resolvida. O BVA teria R$ 300 milhões de Andrade, R$ 130 milhões do FGC e R$ 200 milhões de uma dívida subordinada seriam convertidos em capital, operação que teria o aval do BC. Os R$ 630 milhões permitiriam que o buraco fosse coberto e o banco continuasse funcionando.

Ainda assim, Santos e Lodo julgaram que o dinheiro seria insuficiente para restaurar a credibilidade, abalada, também, pela ausência de balanços auditados em 2012 - o BVA se desentendeu com a auditoria, a KPMG. Depois de muita negociação, os números estavam prontos para publicação na semana que vem.

Capitalização resolvida, acordo com a auditoria fechado. Faltava a terceira perna: trocar o presidente. Santos e Lodo decidiram que o segundo deixaria o comando do dia a dia para se dedicar ao Conselho de Administração. Em seu lugar, assumiria um dos atuais conselheiros, que também teve os bens indisponibilizados ontem, David Barioni Neto.

Desde que ingressou no banco, cerca de seis meses atrás, o ex-presidente da TAM vinha se dedicando a aprender a rotina do negócio financeiro. Não deu tempo de o ex-comandante de aviões testar a habilidade à frente de outro tipo de engrenagem.

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