Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 10 de abril de 2010

RIO DE JANEIRO/SEGURANÇA PÚBLICA - Milícia: o exército de reserva na guerra do bicho


Cúpula da contravenção recruta nas comunidades dominadas por paramilitares pistoleiros usados nas ações contra rivais, como assassinatos e ataques a pontos dos concorrentes

POR JOÃO ANTÔNIO BARROS

Rio - Mão de obra ‘made in milícia’ a serviço do bicho. As investigações da Polícia Civil realizadas sobre os grupos paramilitares, nos dois últimos anos, mostram que os negócios entre a cúpula do jogo do bicho e policiais ligados às milícias vão bem além da simples amizade. É das comunidades controladas pelos paramilitares que partem os pistoleiros recrutados pelo bicho para matar seus adversários ou ajudar no quebra-quebra dos pontos dos concorrentes. É de lá que têm saído boa parte do exército para a guerra entre os contraventores Rogério Andrade e Fernando Iggnácio de Miranda.
Foto: Alexandre Vieira / 
Agência O Dia
Atentado ao contraventor Rogério Andrade, na Zona Oeste do Rio, matou seu filho de 17 anos | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Um dos crimes com a assinatura da milícia foi a execução do bicheiro Valdemir Paes Garcia, o Maninho, no dia 28 de setembro de 2004. O contraventor saía da academia Body Planet, em Jacarepaguá, quando foi morto com tiros de fuzil e pistola. Como ocorreu quinta-feira com Rogério Andrade, Maninho estava acompanhado do filho Waldomiro Paes Garcia Júnior, 15 anos, no momento do crime. O rapaz foi ferido, mas sobreviveu.

As investigações da subsecretaria de Inteligência de Segurança apontaram para o envolvimento no assassinato de um policial miliciano, ligado a uma comunidade de Jacarepaguá. Ele teria agido a mando de um chefão do bicho, motivado pela invasão de Maninho e seus caça-níqueis a bares e restaurantes da Barra da Tijuca.

Outro exemplo de como a contravenção recruta seus homens é o cabo reformado da Marinha Marcos Paulo Moreira da Silva, o Marquinhos Sem Cérebro. Ligado a milícias que controlam as vans na Zona Oeste, ele foi o principal responsável pelo ataque às máquinas de caça-níquel de Rogério Andrade, durante a guerra de 2004. Seu trabalho, apuraram os detetives da Delegacia de Homicídios, era remunerado pelo bicheiro Fernando Iggnácio, genro de Castor de Andrade e inimigo de Rogério.

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Outro agente com atuação em duas frentes era o inspetor Marcos Antônio Bretas, o Marcão. As escutas da Operação Furacão, da Polícia Federal, mostram em ação o policial civil ‘trabalhando’ tanto para as milícias que dominam as vans na Zona Oeste como na distribuição de propinas da cúpula da contravenção a policiais de delegacias e batalhões.

Aliança para lucrar com as máquinas

A milícia também atua em parceria com o jogo do bicho na administração de máquinas de caça-níqueis em áreas carentes. Lucram com uma parcela das apostas e repassam a maior parte para os bicheiros. Outra forma de colaboração é na segurança das máquinas instaladas em bares e padarias.

Mas há casos de rebeldia. O miliciano Fabrício Fernandes Mirra foi flagrado em conversa com policiais ligados a contraventores da Zona Norte mandando recados aos donos das máquinas instaladas em sua ‘área’. Exige participação nos lucros e ameaça retirar os caça-níqueis. No fim, é convencido de que embolsaria um pequeno percentual em transações futuras.

“Em algumas áreas, onde máquinas eram exploradas pelo tráfico, a milícia expulsa o bandido e chama os bicheiros para uma nova parceria”, diz o delegado Cláudio Ferraz, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado.


 


 

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