Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 6 de março de 2010

CENSURA - O artigo de Alberto Dines que foi censurado (via Observatório da Imprensa.)

O azar dos sortudos

 Alberto Dines
Tem fama de afortunado, ditoso ou, como diz o povo, empelicado. Mas nem tudo foram flores quando Lula enveredou pela política: perdeu três pleitos presidenciais sucessivos e já começava a ficar com fama de perdedor quando os ventos mudaram e embora não fosse surfista enganchou-se nas ondas certas.
Nestes últimos oito anos, inspirado pelos astros ou pelo bom senso, Lula acionou corretamente todos os botões mesmo quando os companheiros cometiam as barbaridades do mensalão e do dossiê Vedoin. Animado pela infalibilidade cometeu há um ano monumental asneira ao escolher José Sarney para presidir o Senado. Ainda não pagou por ela mas não está longe o dia em que será julgado pela complacência na desmoralização do Legislativo e na proteção a um dos coronéis mais corruptos da história do Nordeste.
A viagem ao México e Caribe prometia ser um cruzeiro de férias: em Cancun, na Cúpula das Américas, deveria envergar a confortável guayabera presenteada pelo anfitrião Filipe Calderon aos participantes homens (excluídas as mulheres) e participar de mais um bloco continental, não-carnavalesco, a “OEA do B”, sem a participação dos EUA e Canadá.
Em Cuba encontraria Fidel Castro, em franca recuperação, e talvez incentivasse as negociações recém iniciadas com os EUA cumprindo o seu papel de contrapeso à insanidade de Chávez. Não foi avisado ou não deu importância à informação de que o dissidente cubano, Orlando Zapata, em greve de fome há 85 dias, fora internado em estado grave uma semana antes num hospital de Havana.
Como a Parca não distingue sortudos dos azarados, o anúncio da morte de Zapata correu o mundo justamente quando o avião da Força Aérea Brasileira aterrava em Havana e Lula, feliz da vida, preparava-se para abraçar os irmãos Castro. Boas estrelas são volúveis, a sorte é movediça, pior ainda: imprevisível.
O presidente Lula atrapalhou-se ao explicar por que não atendera ao pedido dos dissidentes cubanos para interceder em favor de Zapata e cometeu uma barbaridade ao desqualificar o sacrifício do militante oposicionista. Ignorou ostensivamente a heróica jornada do Mahatma Gandhi que dobrou o invencível império britânico graças às greves de fome.
Desprezar a imolação e depreciar o martírio é uma forma de compactuar com aqueles que não permitem outra alternativa senão a imolação e o martírio. Invocando princípios religiosos Lula foi anti-religioso, ao buscar a racionalidade associou-se aos irracionais que relativizam as liberdades para defender o arbítrio. Não contente, em entrevista aos jornalistas cubanos, fez um apelo à ousadia de Obama para acabar com o embargo econômico dos EUA a Cuba.
Este embargo ianque é estúpido, desumano, imoral e inútil, Obama está empenhado em suspendê-lo, mas considerá-lo como único responsável pela ditadura cubana – como fizera na véspera seu homólogo, Raúl Castro – é um raciocínio primário à altura do intelecto de Hugo Chávez.
Atarantada por suas próprias mazelas, a imprensa internacional não deixou sem comentários o simplismo do nosso presidente. O prestigioso diário espanhol El País, o mais importante do mundo ibero-americano, lamentou a oportunidade perdida pelo dirigente brasileiro para forçar o regime cubano a respeitar os direitos humanos.
“O silêncio de Lula diante de uma ditadura como a castrista macula o que ele representa para a América Latina e à medida em que o Brasil se fortalece como potencia emergente, para o resto do mundo.” Não se trata de uma opinião pessoal do correspondente no Brasil, Juan Árias – geralmente cordato – mas da opinião institucional de um grande jornal que recentemente ofereceu a Lula um honroso galardão.
Negociar com todas as partes em conflito é a principal ferramenta da diplomacia, mas a confiança dos interlocutores não pode ser conquistada à custa do sacrifício de valores universais. Remember Munique: as concessões pragmáticas de Chamberlain e Deladier, ao invés de aplacar Hitler, só aumentaram a sua ferocidade.
A sorte é imponderável, inexplicável, mas consta que sortudos têm boa memória.
2/3/2010.
O artigo de Alberto Dines foi publicado também – como foram todos os anteriores – no site Observatório da Imprensa.

Um comentário:

Paulo Roberto disse...

foi censurado por quem?? mas não saiu no Observatório?? não entendi...