Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

terça-feira, 17 de abril de 2012

RECEPTAÇÃO NO RIO - Ferros-velhos ilegais reabrem e já chegam a 70 na Região Metropolitana

Estabelecimentos voltam à ativa enquanto crescem os índices de roubos de veículos no estado
Rafael Galdo


Homens examinam um carro em Nova Iguaçu, do lado de fora de um ferro-velho na beira da Rodovia Presidente Dutra: o portão costuma ser mantido fechado
Marcelo Piu / O Globo


RIO
- Enquanto crescem os índices de roubos de veículos no estado, ferros-velhos irregulares voltaram a funcionar a pleno vapor na Região Metropolitana. De acordo com dados da Divisão de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), órgão que concede a permissão para esses estabelecimentos operarem, são apenas 59 autorizados no estado. Mas, numa briga de gato e rato, muitos deles fechados em operações nos últimos anos reabriram clandestinamente em áreas como Jacarepaguá, Nova Iguaçu, São Gonçalo e Itaboraí. Hoje, a estimativa é que haja 70 funcionamento ilegalmente. Segundo especialistas e a polícia, os ferros-velhos são um dos principais destinos de carros e peças de veículos roubados ou furtados.

No início deste mês uma equipe do GLOBO percorreu três conhecidos polos de ferros-velhos. E constatou que neles há muito mais estabelecimentos abertos do que os que constam da lista de regularizados, obtida pelo jornal. Ao todo, em um dia, os repórteres encontraram 40 ferros-velhos somente em Nova Iguaçu, São Gonçalo e Itaboraí. Às margens da Via Dutra, na altura do Km 13, em Nova Iguaçu, havia 16 operando, embora apenas três ferros-velhos tenham autorização para tal.

Já à beira da BR-101, entre Manilha e Itaboraí, eram 18 estabelecimentos, enquanto a lista tem 13 autorizados para a região. Em São Gonçalo, na RJ-104, entre Alcântara e Manilha, eram outros seis, embora só um esteja autorizado nesse trecho.

Em Nova Iguaçu, 54 ferros-velhos foram fechados próximo à Dutra em julho de 2008. Hoje, só no quilômetro 13,5, sentido São Paulo, peças são vendidas por pelo menos dez estabelecimentos, um ao lado do outro. Compradores não conseguem distinguir qual ferro-velho está em situação regular e qual não está.

Portão fechado para driblar fiscalização
Repórteres do GLOBO passaram-se por interessados na compra de peças e encontraram alguns estabelecimentos com os portões fechados, sem que fosse possível ver o material no lado de dentro. Do lado de fora, no entanto, funcionários ofereciam as mercadorias.

— Peças de nacionais e importados? — perguntavam.

Num outro ferro-velho, perguntado sobre peças para uma Toyota Hilux, um funcionário afirmou que já tinha vendido todas as partes do último que havia chegado ao local:

— Compramos o carro depenado. E já vendemos tudo que tínhamos.

De acordo com o delegado Ronaldo Oliveira, ex-titular da DRFA e representante no Rio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, a prática de manter os ferros-velhos com portões fechados e vendedores na rua era comum no período em que esteve à frente da divisão, entre 2007 e 2009. Se o estabelecimento está trancado, fica difícil comprovar que ele estava funcionando ilegalmente. Na época, segundo o delegado, um levantamento da DRFA mostrou que 20% dos roubos de veículos estavam ligados aos ferros-velhos. Os outros 80% eram cometidos normalmente por jovens de 17 a 25 anos ligados ao tráfico. Para intensificar o combate aos ferros-velhos, Oliveira disse ter contado com a regulamentação da lei estadual 5.042, de abril de 2008:

— A lei passou a fiscalização dos ferros-velhos do Detran para a DRFA. Inicialmente, com base nela, apenas seis conseguiram a autorização.

Por essa lei, os ferros-velhos, para funcionar, precisam de cadastro na DRFA. E, para obter o Registro de Autorização de Funcionamento (RAF) na delegacia, precisam cumprir requisitos como etiquetar todas as peças à venda, informando sua origem, além de manter um cadastro com nomes, endereços, identidades e CPFs, tanto dos compradores como dos fornecedores. Desde a aprovação da lei, 385 ferros-velhos foram lacrados e 14 toneladas de peças foram apreendidas, entre 2008 e 2011.

Antes das operações, a estimativa era que houvesse cerca 400 estabelecimentos do tipo na Região Metropolitana. Embora o número de ferros-velhos irregulares tenha caído (para cerca de 70), cresceu para até 30% o percentual estimado de roubos que têm como destino os ferros-velhos. Segundo a DRFA, na última sexta-feira, uma operação fechou oito estabelecimentos na Estrada do Cafundá, em Jacarepaguá. E a ideia, segundo os investigadores, é aumentar a fiscalização para, com o tempo, reduzir esse comércio, até a sua extinção por completo.

De acordo com investigadores, atacar o ferro-velho agora é a forma mais rápida de tentar conter o crescimento dos índices de roubos de veículos. Mas, em paralelo, devem ser mantidas investigações sobre outros destinos dados aos veículos roubados, como a clonagem e o transporte clandestino.

Coronel da reserva da PM, Milton Corrêa da Costa também afirma que o crescimento dos roubos e furtos de veículos tem ligação com os ferros-velhos. Mas aponta outra hipótese: a repressão atual ao tráfico de drogas faz com que criminosos busquem outras fontes de lucro, acontecendo assim, segundo ele, um "maior intercâmbio entre traficantes e quadrilhas especializadas em desmanche, revenda de peças e receptação de veículos".

— O tráfico se aperfeiçoa em furto e roubo de veículos, e revende o produto do crime para quadrilhas especializadas. Uma das formas de combater esse crime é intensificar a fiscalização de ferros-velhos, principalmente no Grande Rio e em terrenos não legalizados — diz o coronel, lembrando ainda a necessidade de identificar oficinas de desmanche de veículos que se passam por mecânicas.

O aumento dos roubos
Os números mais recentes do Instituto de Segurança Pública mostram que, no Estado do Rio, houve um aumento de 31,1% nos roubos de veículos em fevereiro deste ano, em comparação com o mesmo mês de 2011. Foram 1.953 casos este ano contra 1.490 em 2011. Na cidade do Rio, no mesmo período, o crescimento foi de 23,1% (940 ocorrências este ano e 763 em 2011). Na Grande Niterói (Niterói, São Gonçalo e Maricá), o aumento foi ainda maior, com 352 casos, 97% a mais na comparação com fevereiro de 2011. No mesmo período, o número subiu de 466 para 556 (19%) na Baixada e de 83 para 105 (26,5%) no interior.



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