Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A Blair o que é de César - por Fernando Duarte

Um factóide de proporções olímpicas. Não há outra explicação para a decisão da Rio 2016 de oferecer ao Tio Tony um bico de consultor na organização das primeiras olimpíadas em solo sul-americano. O problema é que o tipo de propaganda que pode acabar sendo feita em decorrência da ‘’compra’’ do passe de Blair.

Carisma, o ex-premier britânico tem de sobra. Basta lembrar que sua presença na candidatura de Londres aos Jogos de 2012 foi considerada por meio mundo um dos trunfos com que a capital do Reino Unido tirou de Paris uma vitória que parecia sacramentada na votação do Comitê Olímpico Internacional em 2005. Blair encabeçou a articulação política – foi, por exemplo, o único chefe de estado das cidades candidatas a comparecer aos Jogos de Atenas.

Vale lembrar, porém, como ficou bastante claro na vitória carioca do ano passado, que peso político é apenas parte da fórmula para ganhar votos dos delegados do COI. Barack Obama armou um circo danado com sua passagem relâmpago por Copenhague, mas esbarrou nas deficiências da candidatura de Chicago. Foi com o melhor projeto, apesar das pitadas de carisma emprestadas por Lula e a mostra impecável de preparo dada por Sérgio Cabral e Eduardo Paes, que o Rio levou a melhor.

Londres enfrentou Paris com um projeto combinando austeridade e legado, afastando-se do gigantismo propagandístico de Pequim e que se concentrava também no que ocorreria depois das duas semanas de competições. Liderado por um herói olímpico, o meio-fundista Sebastian Coe, ultrapassou Paris com um sprint na reta.

Outro ponto é que tanto Blair como Lula têm poder reduzido longe de um mandato. E no caso do ex-líder britânico, sua saída foi bastante conturbada graças à maneira como ele e George ‘’Dubya’’ Bush foram a Bagdá. Paulo Coelho aponta o dedo e classifica o Tio Tony como criminoso de guerra, uma visão que embora transpire paixão em demasia, é adotada por muita gente no Reino Unido e no mundo que não engoliu a maneira como a invasão do Iraque foi planejada e executada.
E o recente depoimento de Blair no Inquérito Chilcot, que investiga a participação britânica na operação militar, voltou a cutucar os insatisfeitos quando o ex-premier não só disse que faria tudo de novo como resolveu defender procedimento semelhante em relação ao Irã.
 
Tio Tony tampouco gerou boa publicidade com a revelação de que fez um senhor pé de meia desde que deixou Downing Street: pelo menos US$ 20 milhões entre palestras, consultorias e afins. Calcula-se por aqui que o homem ganha pelo menos US$ 3 mil por minuto em discursos e o ‘’Guardian’’ recentemente revelou uma intrincada teia contábil usada por Blair para movimentar o dinheiro que também recebe como doações para sua Faith Foundation, a ONG com que se dispõe a promover tolerância religiosa ao redor do mundo.
Sim, o homem tem bons contatos – tanto que um dos trabalhos paralelos a seu trabalho oficial (o de enviado de EUA, Rússia, ONU e União Européia para o Oriente Médio) é o de consultor para o banco americano J.P. Morgan. Mas a duvida é se o Rio e o Brasil realmente vão precisar do moleskine do Tio Tony quando a própria apresentação carioca em Copenhague teve o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ressaltando perspectivas crescimento econômico endossadas até mesmo por organismos internacionais.
O governador Sérgio Cabral fala na importância de uma ponte para que o Rio assimile as lições de organização de Londres. Pelo que testemunhei desde a vitória de 2005, uma das principais ações e lições do Comitê Organizador de 2012 foi o de definir muito bem os limites entre ações técnicas e políticas.
Ainda que Cabral tenha deixado claro que será dinheiro privado caindo no bolso de Blair, fica a impressão de gasto redundante. Garoto-propaganda (no melhor sentido possível, que fique bem claro), já há de sobra na Rio 2016.

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