Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 10 de abril de 2010

ABUSO - Aérea anuncia cobrança de bagagem de mão


Christine Negroni

As companhias de aviação começaram a cobrar pela segunda mala embarcada por um passageiro em 2005. Depois, começaram a cobrar também pela primeira mala. Agora, a Spirit Airlines afirma que começará igualmente a cobrar até US$ 30 por peça, pelas bagagens de mão grandes demais para caber embaixo do assento.
É verdade que a Spirit é uma empresa pequena e nenhuma das rivais de maior porte indicou na terça-feira, depois de seu anúncio, que pretendia seguir esse exemplo.
Mas é igualmente claro que as taxas que os viajantes pagam para embarcar malas, na maioria dos voos, exerceram maior impacto sobre os lucros das companhias de aviação do que estas pareciam esperar. Uma taxa para a bagagem de mão só serve para sublinhar as novas realidades econômicas do transporte aéreo: todo passageiro e todo objeto transportado em avião terá de pagar.
"Ninguém leva bagagem a uma empresa de entregas como a UPS e FedEx e espera que seja transportada de graça", disse Ben Baldanza, presidente-executivo da Spirit Airlines.
O total em taxas de bagagem recolhidas pelas companhias de aviação disparou desde que elas foram impostas. De acordo com estatísticas do Departamento do Transporte dos Estados Unidos, o valor auferido com elas subiu de US$ 464 milhões em 2007 a quase US$ 2 bilhões nos primeiros nove meses do ano passado.
Ao mesmo tempo, os passageiros agora embarcam menos malas, e mais leves, a fim de evitar as taxas adicionais por bagagem pesada. Como resultado, as companhias de aviação perdem menos bagagens e pessoal que trabalha na descarga vem sofrendo menos lesões.
Além disso, as companhias de aviação agora têm mais espaço disponível para carga, e o preço por volume equivalente é superior ao da bagagem embarcada. "A carga aérea representa contribuição importante para os resultados das companhias de transporte de passageiros", disse Ulrich Ogiermann, presidente da Associação Internacional de Carga Aérea. O potencial de receita alternativa "caso os passageiros embarquem menos malas a fim de evitar as taxas de bagagem não deve ser subestimado", ele acrescentou.
Um relatório sobre bagagens divulgado no mês passado pela SITA, uma empresa de tecnologia de informação para o transporte aéreo que acompanha as tendências de bagagem dos passageiros, constatou que um em cada quatro passageiros optou por não embarcar malas no ano passado, ante um em seis em 2008 -o primeiro ano em que virtualmente todas as grandes companhias de aviação passaram a cobrar taxas de bagagem.
A queda no número de malas embarcadas no ano passado, que o relatório atribui também a uma queda no número geral de passageiros aéreos, resultou em 24% de redução no volume de bagagens que enfrentaram problemas de danos ou extravio. Isso por sua vez representou economia de US$ 94 milhões para o setor de transporte aéreo, segundo o relatório.
Joseph Pascarella, que trabalhou no setor de descarga de bagagens do aeroporto de Tampa, Flórida, por 37 anos, disse ter reparado na diferença. "Antes das taxas de bagagens, nós desembarcávamos em média 250 bagagens por voo. Agora o total é de 150 a 175. As pessoas também começaram a pensar duas vezes antes de levar uma segunda mala".
Se os passageiros estão sendo mais cautelosos quanto ao que levam como bagagem, os benefícios podem ser muitos, disse Catherine Meyer, vice-presidente da SITA. "Há menos desgaste para a companhia de aviação, e menos custo de manipulação de bagagem".
As companhias de aviação não se apressam a reconhecer o fato, no entanto. United Airlines, Delta Air Lines e American Airlines afirmam não estar acompanhando a relação entre as taxas de bagagem e reduções de custos. Mas Daniel McKenzie, analista de transporte aéreo da Hudson Securities, em Chicago, disse que as companhias de aviação em geral vêm ressaltando essas vantagens em suas conversas telefônicas com analistas financeiros.
"Eles falam sobre as vantagens do volume menor de bagagem a manipular e sobre a redução nos pedidos de indenização de trabalhadores lesionados, e sobre a liberação de reservas para contingências que isso propicia", disse McKenzie. "Outra vantagem é que se há menos bagagem a transportar, a necessidade de indenizar passageiros por malas perdidas tende a se reduzir".
Ele disse acreditar que as companhias de aviação não desejem falar publicamente a respeito das vantagens das taxas porque "elas gostam de administrar o que dizem em público", acrescentando: "Elas não param de ser criticadas. São criticadas pelo Congresso, pelo Departamento do Transporte, pelos defensores dos direitos dos passageiros".
A Ryanair, uma companhia de aviação que opera com baixas tarifas na Irlanda e é conhecida pelos preços muito baixos que oferece, está agora estudando uma nova medida importante para estimular passageiros a viajar com pouca bagagem. A partir do final deste ano, ela pretende eliminar de vez a possibilidade de embarcar malas, em certos horários do dia ou em certas rotas.
"Trazer uma mala grande e esperar que ela seja transportada de graça é esperar demais", disse Stephen McNamara, diretor de comunicações da Ryanair. "É caro embarcar algo pesado em um avião quando os preços do combustível são muito elevados". McNamara disse que o objetivo de sua empresa era nada menos que mudar o comportamento dos passageiros. "As pessoas levam bagagens demais, as mulheres levam quatro pares de sapatos, secadores de cabelo, essas coisas".
Nos Estados Unidos, a consequência mais visível das taxas para embarque de malas foi o aumento no número e peso das bagagens de mão, exatamente o comportamento que levou a Spirit a adotar sua nova taxa. Uma pesquisa pela Associação dos Comissários de Bordo constatou "volume excessivo de bagagens de mão de tamanho desproporcional", o que causa mais lesões entre o pessoal de bordo. Oitenta por cento dos comissários de bordo reportaram distensões e lesões musculares, e 35% deles disseram já ter sido atingidos por malas em queda.
Lesões e inconveniências na cabine são dois motivos mencionados pelo deputado federal Daniel Lipinski, democrata do Illinois, para seu projeto de lei que limita o tamanho das bagagens de mão. "O projeto reforçaria a segurança, ajudaria a reduzir o tempo de embarque e desembarque e impediria superlotação dos compartimentos superiores de bagagem na cabine", afirmou o legislador em mensagem de e-mail.
Uma das coisas que as taxas de bagagem supostamente propiciariam mas que não aconteceu seria reduzir o tempo de parada dos aviões nos portões de embarque e desembarque. Com tantos passageiros tentando trazer tudo que precisam para uma viagem à cabine, as partidas muitas vezes são atrasadas devido ao problema de malas demais disputando espaço limitado.
"Em quase todos os voos, há problemas porque as pessoas querem encaixar malas demais como bagagem de mão", diz Pascarella. "São pelo menos 10 a 20 malas sem lugar a cada voo".
Em 2005, o peso médio dos passageiros e sua bagagem foi elevado para refletir mais precisamente o porte físico dos viajantes e a gama mais ampla de malas transportadas. Mas a Administração Federal da Aviação (FAA) dos Estados Unidos não acompanha a distribuição de bagagens entre o compartimento de carga e a cabine. Em mensagem de e-mail, Les Dorr Jr., porta-voz da FAA, informou que isso poderia mudar.
"Estamos cientes da potencial mudança no comportamento dos passageiros em função da imposição de taxas de bagagem, e no momento estamos estudando se deveríamos revisar nossas normas existentes", afirmou.

 


 

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