Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 6 de março de 2010

ECONOMIA E NEGÓCIOS - PÉRCIO DE SOUZA, quem é?

 

SÃO PAULO. O engenheiro Pércio de Souza, 46 anos, passou os últimos dias conversando com corretores de imóveis. Está atrás de mais espaço para a sua Estáter Gestão e Finanças, butique de assessoria financeira que abriu em 2003 com outros três sócios, e que nos últimos dois anos ganhou o status de consultoria mais bem sucedida na área de fusões e aquisições. Só em 2009, a empresa esteve à frente de operações avaliadas em R$ 23 bilhões.
A Estáter já ocupa um andar inteiro em um prédio espelhado na avenida Juscelino Kubitschek, novo centro financeiro de São Paulo. A ideia é fechar o aluguel de mais um andar para ampliar as instalações e dar mais conforto e privacidade aos clientes.
- O espaço ficou pequeno - contou ele ao GLOBO.
No nome da empresa, uma referência à Grécia antiga
A julgar pelo ritmo de trabalho em janeiro e fevereiro, Souza terá mais um ano de ouro pela frente. A Estáter - nome retirado de uma das primeiras moedas do mundo, cunhada a ouro na Grécia antiga - coordenou naquele período duas grandes operações: a aquisição da Brenco pela ETH (do grupo Odebrecht) e da Quattor pela Braskem (que passou a ser a maior empresa do setor petroquímico nas Américas). Os dois negócios foram avaliados em R$ 11 bilhões.
Sem revelar nomes, Souza afirma que sua equipe (são 30 pessoas, mas somente 15, além dos sócios, se envolvem diretamente nas negociações) já avaliam outras quatro possibilidades - completando seis operações no ano, número considerado por ele como ideal para $atual tamanho da empresa.
- Temos um índice de sucesso por volta de 75%, que é alto para esse tipo de transação - disse ele, executivo egresso do antigo banco BBA.
Oficialmente, Souza e os sócios têm o mesmo cargo: o de sócios-gestores. Eles costumam se revezar nas seis salas de reuniões espalhadas pelo andar, onde as negociações são feitas.
- Temos uma estrutura desverticalizada. Não sou presidente da Estáter. Aqui, não temos chefes, não temos hierarquia, temos gestores, que determinam as regras e cobram as pessoas. Mas não significa que vivemos numa anarquia.
E essas regras podem valer até mesmo para os clientes. Souza diz que prefere que as reuniões sejam realizadas na própria Estáter. Como o tempo é um fator crítico em operações que envolvem milhões de reais, ele sabe que a vida seria mais difícil se tivesse de enfrentar a toda hora o caótico trânsito paulistano.
- Não é uma estratégia negocial, mas uma forma prática para gerir o negócio.
No mercado, ele ganhou a fama de agressivo - que na avaliação de alguns poderia ser também autoritário. Souza prefere dizer que é "assertivo desde criança", um efeito colateral de uma "obstinação" quase patológica de concluir os negócios.
- Essa obstinação é um dos fatores de nosso sucesso - diz, lembrando que muitas vezes é necessário "dar cotoveladas" para que o negócio ande.
Desde que abriu as portas, a Estáter ganhou 28 contratos, dos quais 19 resultaram em negócios. Para o economista Júlio César Gomes de Almeida, da Unicamp, a Estáter aproveitou as oportunidades geradas pela crise financeira global que acabou ajudando os grandes grupos nacionais a se juntarem para competir no mercado global. Ele frisa ainda que esse movimento, que começou antes dos primeiros sinais da crise, mas foi potencializado por ela, também mostra a força das companhias brasileiras que estão aproveitando para se internacionalizar.
- Esse processo não aconteceria se não houvesse um grande grupo varejista como o Pão de Açúcar, ou uma Braskem, do setor petroquímico - salientou Almeida.
Metódico, até os fins de semana são dedicados ao trabalho. Mas há tempo também para os prazeres da vida, como a atividade física, e da família. Corre de seis a dez quilômetros duas vezes por semana, mesma frequência com que joga tênis e faz musculação. Os filhos e a mulher também não perderam espaço, apesar da agenda apertada. Ele diz que não abre mão de buscar $filhos na escola ("pelo menos três vezes por semana") e almoçar alguns dias com a família ("moro pertinho do escritório e faço tudo a pé"). A família Souza ganhou recentemente mais um membro: há pouco mais de um mês, nasceu o terceiro filho, desta vez uma menina.
- Em sete anos, fiquei pela primeira vez sem trabalhar durante quatro dias para ficar com o bebezinho - contou, lembrando que o trabalho só rende com "o equilíbrio do bem estar físico, familiar e do trabalho".
Consultor rejeita rótulo de 'banqueiro de Diniz'
Sobre a amizade com Abílio Diniz, dono do grupo Pão de Açúcar, diz que tem uma grande admiração pelo empresário, hoje o "rei do varejo" brasileiro, e que aprendeu muito com ele. Souza revela que Diniz não gosta da pecha que ganhou no mercado, que o chama de "banqueiro do Diniz". O apelido foi cunhado na década de 1990, quando atendia o Pão de Açúcar pelo antigo banco BBA. Apesar do apelido, Diniz considera o amigo "um cara extremamente competente e agressivo".
- Ele mete a cara. Usando a linguagem do futebol, Souza é um cara como eu que muitas vezes chama o jogo para si - elogiou o empresário.
No ano passado, Souza esteve à frente das negociações do Pão de Açúcar. Primeiro, na incorporação do Ponto Frio e, depois, na surpreendente fusão do grupo de Diniz com a Casas Bahia. Além desses dois negócios, a Estáter também articulou a união da Votorantim com a Aracruz, que formou a Fibria, e a incorporação da Tenda pela Gafisa.
Apesar do sucesso, Souza admite que, em alguns momentos, é preciso "patrolar" (atropelar) para que o negócio deslanche.

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