O apagão que deixou milhões de brasileiros no escuro em novembro de 2009 acendeu a luz de alerta sobre a infraestrutura energética do país. Mas, apesar da advertência, o Grupo Eletrobrás – composto atualmente por 15 entidades responsáveis pelo setor elétrico – deixou de investir R$ 1,7 bilhão no ano passado. Isso porque dos R$ 6,9 bilhões planejados para serem aplicados nos sistemas de geração e transmissão sob sua responsabilidade, 25% não foram desembolsados. Desde 2000, um ano antes da primeira grande queda de energia no Brasil, cerca de R$ 20,1 bilhões (já descontada a inflação do período) deixaram de ser investidos pela estatal.
As empresas não investiram, em média, 32% dos recursos autorizados em orçamento nos últimos nove anos. A pior performance foi em 2007, quando, dos R$ 6,2 bilhões previstos, somente R$ 3,5 bilhões (57%) foram desembolsados. Desde 2000, o desempenho dos investimentos do Grupo Eletrobrás ficou, em média, em 68%. Em 2002 o percentual chegou a 80%, melhor resultado de desembolso sobre o montante previsto.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Eletrobrás na última segunda-feira, quando o balanço oficial dos investimentos da empresa no ano de 2009 foi publicado no Diário Oficial da União. Até o fechamento da matéria, no entanto, a assessoria não apresentou esclarecimentos sobre o montante não aplicado no ano passado.
Mas de acordo com informações do chamado “Sistema Eletrobrás”, divulgadas em novembro de 2009, a execução orçamentária “tem sido impactada pelos procedimentos legais e ambientais que necessitam ser cumpridos”. A instituição cita como exemplo a usina Angra 3, que deveria ter começado a ser construída em 2008, mas, devido ao processo de licenciamento e renegociação dos contratos, só iniciou as obras em outubro do ano passado. Ao longo de 2009, o Grupo investiu R$ 5,2 bilhões, valor 38% maior do que o desembolsado no ano anterior.
De acordo com a nota, as estatais do ramo energético tocaram, em 2009, obras de geração de energia, como as usinas de Baguari, Batalha, Mauá e Candiota, por exemplo. Em linhas de transmissão, as empresas da Eletrobrás também realizaram melhorias nas linhas dos estados de São Paulo e Minas Gerais, e na implantação do sistema de transmissão associado à hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Segundo informações da empresa, o orçamento de 2009 contemplou ainda investimentos na distribuição e nos programas de universalização do acesso à energia elétrica.
Os maiores investimentos do Grupo, que ainda têm a Eletrobrás, a Eletronorte, a Eletrosul e a Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) como vinculadas, são em hidrelétricas. Destaque para a de Jirau, em Rondônia, que terá capacidade para gerar 3.300 megawatts (MW), a de Santo Antônio, também em Rondônia, para gerar 3.150 MW, e de Estreito, na divisa entre Tocantins e Maranhão, com capacidade de 3.300 MW.
Furnas
Os investimentos específicos de Furnas Centrais Elétricas foram os maiores dentre os gastos do Grupo Eletrobrás. Da quantia prevista para 2009, orçada em R$ 1,6 bilhão, R$ 1,4 bilhão foi aplicado, ou seja, 90% do montante autorizado. Furnas, que conta com um complexo de 11 usinas hidrelétricas e duas termelétricas, totalizando uma potência de 9.910 MW, investiu R$ 12,9 bilhões desde 2000, em valores atualizados. Segundo o governo, a empresa Furnas Centrais Elétricas gerencia as linhas de transmissão que ligam a hidrelétrica Itaipu ao Sistema Interligado Nacional (SIN) que, devido à queda de três linhas, provocou o apagão que atingiu boa parte do país em 2009.
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Milton Júnior
Do Contas Abertas
06/02/2010
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