Liana Verdini
Publicação: 07/02/2010 09:26
Publicação: 07/02/2010 09:26
Nunca tantas montadoras de veículos promoveram tantos recalls para conserto de modelos variados de automóveis em regiões tão diversas no mundo. Tudo ao mesmo tempo. Proprietários de carros estão às voltas com convocações inesperadas nos Estados Unidos, na Europa, na África, no Oriente Médio e na América Latina, incluindo o Brasil. Para se ter uma ideia, em apenas 20 dias neste ano, quatro grandes montadoras em todo o mundo promoveram convocações: Audi, Toyota, Honda e Peugeot. A impressão crescente aos olhos do consumidor é que os carros perdem qualidade e ficam cada vez menos seguros. Mas o que de fato está acontecendo?
Para o professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Campinas (Unicamp), Celso Arruda, há uma combinação perversa entre a preocupação em diminuir custos e a pressa em lançar mais modelos. “As estatísticas mostram que para cada 1% de redução no valor do automóvel, há um aumento de 2% nas vendas”, disse Arruda. Além disso, como essas indústrias produzem em grande escala, qualquer inovação que signifique economia pode ter resultado bastante impactante. “Se uma fábrica produz 1 milhão de veículos e um engenheiro propuser a retirada de um parafuso que custa R$ 1 por automóvel, no fim a economia será de R$ 1 milhão. É muito significativo.”
Pressão
A pressão por redução de despesa, a introdução de inovações e a agilidade no lançamento compõem uma equação difícil de ser gerenciada. Some-se a isso, o processo de terceirização da produção de diversos componentes dos veículos. “Hoje, a montadora tem entre 2 mil e 2.500 fornecedores. Se já é difícil controlar a qualidade de cada componente produzido dentro da própria fábrica, que dirá quando é feita por outra indústria”, observou Marcos Morita, mestre em administração de empresas e professor da Universidade Mackenzie. “Tudo isso acaba complicando a vida da empresa.”
Para o diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça, Ricardo Morishita, o aumento do número de convocações no Brasil, por um lado, não preocupa. “É importante que as empresas continuem convocando os recalls. Essa é uma ação preventiva, na qual a empresa informa ao consumidor sobre o defeito e, também, uma ação reparadora, quando promove a troca do item defeituoso evitando um dano maior”, disse. “Mas, por outro, deixa clara a necessidade de uma política de qualidade industrial.”
Padrões
Morishita contou que o Grupo de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo (Gepac), do qual o Inmetro faz parte, está preocupado em mostrar a necessidade de aprimoramento das normas de montagem de veículos. “É preciso avançar, criando padronizações. Só assim, teremos menos recalls”, recomendou.
Mas para o diretor do DPDC, é importante que o consumidor faça a sua parte e atenda aos chamados dos fabricantes. De acordo com o economista Rodolfo Alberto Rizzotto, autor do livro Recall — 4 milhões de carros com defeito de fábrica, apenas 50% dos convocados efetivamente comparecem aos recalls. “Não quero falar em números, mas o consumidor deve ter ciência que atrás de um problema de natureza individual pode estar um de natureza coletiva. Por isso, é importante reportar defeitos apresentados por seus veículos para as montadoras, os procons e as defensorias públicas”, pediu ele. “Nossa avaliação é de que já houve uma evolução grande nos recalls ou avisos de risco no Brasil. Mas sabemos que temos que avançar mais para garantir os direitos do consumidor”, advertiu.
1 - Mais acidentes
O governo japonês confirmou cinco novos acidentes do modelo híbrido Prius, da montadora Toyota, e pedirá à companhia que investigue os casos, informou ontem o jornal Tokio Shimbun. O Ministério dos Transportes do Japão recebeu 80 queixas este mês sobre falhas no sistema de freio do último modelo do Prius, segundo o jornal, que não citou as fontes. Cinco deles foram batidas nas quais os motoristas alegaram que os freios não funcionaram corretamente. Na sexta-feira, a Toyota anunciou que ainda estudava a possibilidade de recall do Prius.
Marca deve perder valor
A realização de sucessivos recalls pode ter impacto significativo no valor da marca de uma empresa. De acordo com Marcos Morita, mestre em administração de empresas e professor da Universidade Mackenzie, estudos mostram que depois da terceira convocação os clientes começam a perder a confiança na marca.
Pesquisa da Consumer Reports’ 2010 Car Brand Perception, feita nos Estados Unidos com 2.017 adultos donos de pelo menos um automóvel, mostra que entre os sete fatores mais importantes para os consumidores na hora de decidir a compra de um veículo estão segurança (64%), qualidade (58%) e nome da montadora (51%). Essa mesma pesquisa apresenta como líderes em “qualidade” as fabricantes Toyota, Honda e Ford. E como primeiros em “marca”, Honda, Toyota e Ford.
A convocação de milhões de usuários de veículos Toyota ao redor do mundo para consertar o pedal do acelerador que pode travar, provocando acidentes, teve reflexo direto no preço das ações. Morita lembrou que desde o anúncio da convocação o preço dos papéis da Toyota caiu 14%. “Houve uma redução no valor de mercado da empresa de US$ 21 bilhões”, disse. Especialistas acreditam em queda de U$ 2,47 bilhões nas vendas de carros novos e usados.
Enquanto a Toyota perde mercado por ter suspendido a venda de oito modelos nos Estados Unidos (queda de 16% nos negócios em janeiro), Ford e GM avançam. A Ford anunciou aumento de 25% nas vendas de seus veículos no mês passado e a GM teve incremento de 14%. “Esse recall atingiu um dos pilares da marca Toyota, que é a qualidade”, analisou Morita. “Hoje, milhões de consumidores não sabem se podem ou não sair dirigindo seus veículos. É isso o que compromete uma marca.”
Para o professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Campinas (Unicamp), Celso Arruda, há uma combinação perversa entre a preocupação em diminuir custos e a pressa em lançar mais modelos. “As estatísticas mostram que para cada 1% de redução no valor do automóvel, há um aumento de 2% nas vendas”, disse Arruda. Além disso, como essas indústrias produzem em grande escala, qualquer inovação que signifique economia pode ter resultado bastante impactante. “Se uma fábrica produz 1 milhão de veículos e um engenheiro propuser a retirada de um parafuso que custa R$ 1 por automóvel, no fim a economia será de R$ 1 milhão. É muito significativo.”
Pressão
A pressão por redução de despesa, a introdução de inovações e a agilidade no lançamento compõem uma equação difícil de ser gerenciada. Some-se a isso, o processo de terceirização da produção de diversos componentes dos veículos. “Hoje, a montadora tem entre 2 mil e 2.500 fornecedores. Se já é difícil controlar a qualidade de cada componente produzido dentro da própria fábrica, que dirá quando é feita por outra indústria”, observou Marcos Morita, mestre em administração de empresas e professor da Universidade Mackenzie. “Tudo isso acaba complicando a vida da empresa.”
Para o diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça, Ricardo Morishita, o aumento do número de convocações no Brasil, por um lado, não preocupa. “É importante que as empresas continuem convocando os recalls. Essa é uma ação preventiva, na qual a empresa informa ao consumidor sobre o defeito e, também, uma ação reparadora, quando promove a troca do item defeituoso evitando um dano maior”, disse. “Mas, por outro, deixa clara a necessidade de uma política de qualidade industrial.”
Padrões
Morishita contou que o Grupo de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo (Gepac), do qual o Inmetro faz parte, está preocupado em mostrar a necessidade de aprimoramento das normas de montagem de veículos. “É preciso avançar, criando padronizações. Só assim, teremos menos recalls”, recomendou.
Mas para o diretor do DPDC, é importante que o consumidor faça a sua parte e atenda aos chamados dos fabricantes. De acordo com o economista Rodolfo Alberto Rizzotto, autor do livro Recall — 4 milhões de carros com defeito de fábrica, apenas 50% dos convocados efetivamente comparecem aos recalls. “Não quero falar em números, mas o consumidor deve ter ciência que atrás de um problema de natureza individual pode estar um de natureza coletiva. Por isso, é importante reportar defeitos apresentados por seus veículos para as montadoras, os procons e as defensorias públicas”, pediu ele. “Nossa avaliação é de que já houve uma evolução grande nos recalls ou avisos de risco no Brasil. Mas sabemos que temos que avançar mais para garantir os direitos do consumidor”, advertiu.
1 - Mais acidentes
O governo japonês confirmou cinco novos acidentes do modelo híbrido Prius, da montadora Toyota, e pedirá à companhia que investigue os casos, informou ontem o jornal Tokio Shimbun. O Ministério dos Transportes do Japão recebeu 80 queixas este mês sobre falhas no sistema de freio do último modelo do Prius, segundo o jornal, que não citou as fontes. Cinco deles foram batidas nas quais os motoristas alegaram que os freios não funcionaram corretamente. Na sexta-feira, a Toyota anunciou que ainda estudava a possibilidade de recall do Prius.
Marca deve perder valor
A realização de sucessivos recalls pode ter impacto significativo no valor da marca de uma empresa. De acordo com Marcos Morita, mestre em administração de empresas e professor da Universidade Mackenzie, estudos mostram que depois da terceira convocação os clientes começam a perder a confiança na marca.
Pesquisa da Consumer Reports’ 2010 Car Brand Perception, feita nos Estados Unidos com 2.017 adultos donos de pelo menos um automóvel, mostra que entre os sete fatores mais importantes para os consumidores na hora de decidir a compra de um veículo estão segurança (64%), qualidade (58%) e nome da montadora (51%). Essa mesma pesquisa apresenta como líderes em “qualidade” as fabricantes Toyota, Honda e Ford. E como primeiros em “marca”, Honda, Toyota e Ford.
A convocação de milhões de usuários de veículos Toyota ao redor do mundo para consertar o pedal do acelerador que pode travar, provocando acidentes, teve reflexo direto no preço das ações. Morita lembrou que desde o anúncio da convocação o preço dos papéis da Toyota caiu 14%. “Houve uma redução no valor de mercado da empresa de US$ 21 bilhões”, disse. Especialistas acreditam em queda de U$ 2,47 bilhões nas vendas de carros novos e usados.
Enquanto a Toyota perde mercado por ter suspendido a venda de oito modelos nos Estados Unidos (queda de 16% nos negócios em janeiro), Ford e GM avançam. A Ford anunciou aumento de 25% nas vendas de seus veículos no mês passado e a GM teve incremento de 14%. “Esse recall atingiu um dos pilares da marca Toyota, que é a qualidade”, analisou Morita. “Hoje, milhões de consumidores não sabem se podem ou não sair dirigindo seus veículos. É isso o que compromete uma marca.”
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