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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ImPERÍCIA NO RIO - Ninguém explica acidente com catamarã e tarifa pode aumentar

Ninguém explica acidente com catamarã e tarifa pode aumentar
Agetransp, responsável pela fiscalização, estuda um aumento de R$ 2,80 para R$ 4,70 na tarifa Rio-Niterói

Isabel de Araujo
Waleska Borges
Marcelo Dias


Passageiros formam longas filas no terminal da Praça Arariboia, em Niterói Márcia Foletto / O Globo

RIO - Um dia depois do acidente de segunda-feira, que deixou 65 feridos, as causas da colisão do catamarã social Gávea I contra um píer desativado na Praça Quinze ainda são um mistério. Nem a concessionária Barcas S/A — que arrematou o serviço por cerca de R$ 33 milhões em 1998 e tornou-se detentora do monopólio em 2009 — soube explicar o choque. Apesar dos problemas enfrentados pelos passageiros, a Agência Reguladora de Transportes (Agetransp), responsável pela fiscalização, estuda um aumento de R$ 2,80 para R$ 4,70 na tarifa Rio-Niterói. O estado informou, porém, que não permitirá reajuste neste percentual (67,8%). Ágil quando o assunto é aumento, a agência julgou apenas 11 dos 30 processos abertos contra a concessionária em 2010 e 2011, período em que foram aplicadas multas no valor de R$ 1.441.780,09. A agência não informou quanto desse montante foi pago.

As soluções para os problemas ainda demoram. O governo do estado informou, por meio de nota, que a aquisição de 11 novas embarcações, anunciadas ano passado, não tem data para acontecer. Segundo o estado, a aprovação do empréstimo de cerca de R$ 350 milhões deverá ser concluída até janeiro de 2012, quando então poderá ser aberta a licitação para compra das barcas.

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A concessionária que administra o serviço diz que está operando abaixo de sua capacidade para atender à demanda diária que quase 100 mil passageiros. A maré poderá melhorar com a aquisição das embarcações da Transtur, que depende ainda de um processo de desapropriação pelo estado. De acordo com o governo, já foram realizadas as avaliações periciais e judiciais. O estado desapropriará uma barca no próximo mês e a segunda, assim que for reformada pela Transtur.

Usuário deve evitar horário de pico
A colisão de segunda-feira tirou de circulação uma embarcação e provocou a interdição de duas pontes de embarque. O acidente reduziu para 80% a capacidade da concessionária. A Barcas S/A pede que, nos próximos dias, os usuários evitem utilizar o serviço nos horários de pico. A mesma solicitação já foi feita em abril de 2009, um dia depois de um quebra-quebra na Praça Quinze, motivado por atrasos nas embarcações e excesso de passageiros.

Na terça-feira, pelo menos, o pedido foi ignorado, e o cenário nos acessos à Estação Arariboia, em Niterói, ficou caótico. Longas filas se formaram entre 7h e 9h. Os usuários chegaram a aguardar até 30 minutos para conseguir embarcar. Para passar o tempo, o assunto não poderia ser outro: o que teria provocado a colisão foi a pergunta que mais ouvida no saguão.

Por meio de nota, a Capitania dos Portos informou que as causas serão conhecidas em até 90 dias, com a conclusão do inquérito sobre o caso. A capitania também esclareceu que a Gávea I, após reparo, necessitará ser submetida a nova inspeção pelo órgão.

O gerente de logística e relacionamento com o cliente das Barcas S/A, Mário Góis, disse que o acidente está sendo analisado pelos técnicos da empresa. Ele rebateu as acusações de que os tripulantes demoraram a atender as vítimas e informou ainda que o Gávea 1 deve ficar pelo menos dez dias fora de operação.

A concessionária afirma que, no último mês, houve um aumento de 20% na demanda por causa das obras do projeto Porto Maravilha, que têm acarretado longos engarrafamentos na Ponte Rio-Niterói e seus acessos. Somente com passagens, a concessionária arrecada R$ 320.400 por dia. No entanto, a empresa informa que a previsão é de fechar o ano no vermelho, com prejuízo de R$ 27 milhões.

Para o professor do Departamento de Engenharia da PUC-RJ José Eugênio Leal, a concessão não foi um bom negócio para a Barcas S/A:

— Do ponto de vista do operador, a concessão foi a pior possível. A Barcas tem que arcar com tudo, desde a manutenção até a aquisição de novas embarcações. Acredito que a empresa privada quis assumir a concessão para evitar concorrência e se atrapalhou.

Sindicato diz que falta treinamento

Leal acrescenta que o governo estadual e a concessionária devem priorizar o bom senso.

— Estamos falando de um transporte de massa. Nesse caso, o estado não tem a obrigação de intervir, mas pode colaborar. A Barcas também deve negociar.

O engenheiro Fernando Macdowell lembra ainda que, para o bom funcionamento do sistema de transporte marítimo, há necessidade de um plano integrado de transportes. Ele conta que, na década de 80, quando foi contratado pelo governo estadual para fazer um estudo sobre o assunto, sugeriu que os deslocamentos do Rio fossem semelhantes aos de Vancouver, no Canadá.

— Há necessidade de compatibilizar o transporte marítimo com o metrô. Atualmente, também falta flexibilidade operacional à Barcas.

Já o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), Severino Almeida Filho, alertou para o risco da falta de treinamento da tripulação:

— É inexplicável que o catamarã tenha se aproximado do píer sem que fosse permitida nenhuma manobra. A embarcação deveria estar numa velocidade superior à recomendada. Esses profissionais devem passar por cursos que simulam acidentes e os procedimentos rápidos que devem adotar. Mas esse investimento no profissional não existe. Com isso, estamos abusando da sorte, com risco de vermos acidentes ainda muito maiores — comenta Severino Almeida, que acrescenta: — Não acredito que o acidente tenha sido por questão de máquinas ou equipamentos, mas sim de condições operacionais.

Apenas nos anos de 2010 e 2011, a Barcas S/A teve que responder a 30 processos regulatórios abertos pela Agetransp. De acordo com a agência reguladora, os principais motivos foram atrasos em viagens e problemas técnicos nas embarcações.

Ainda de acordo com a Agetransp, do total de processos aplicados, 11 foram julgados em sessão regulatória, mas dez são passíveis de recurso. Os outros processos estão em fase de instrução

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