Gustavo Goulartgus@oglobo.com.br e Vera Araújovaraujo@oglobo.com.br
RIO - O assassinato da juíza da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, Patrícia Acioli, tem um mandante. É essa a conclusão a que os investigadores da Divisão de Homicídios (DH) chegaram, a partir de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça e das apreensões feitas nas casas dos três policiais militares acusados da morte da magistrada. Segundo uma fonte na polícia, o tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes e os cabos Sérgio Costa Junior e Jefferson de Araújo Miranda, do Grupo de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM (São Gonçalo), que já estão presos, foram os autores do crime, mas não agiram sozinhos.
A fonte contou que, durante as buscas, foram encontrados documentos que comprovam a atuação do mandante do crime. Segundo o titular da DH, delegado Felipe Ettore, a juíza, morta em 11 de agosto em Niterói, decretou no mesmo dia a prisão dos PMs, acusados do assassinato de um jovem em São Gonçalo. Como os três policiais foram avisados pela advogada sobre a prisão, de acordo com a DH, escolheram aquele dia para a execução, embora um mês antes já estivessem planejando o crime.
De acordo com Ettore, uma prova disso é que, em julho, os acusados estiveram no condomínio da juíza num carro do 12º BPM (Niterói), apesar de serem do 7º BPM (São Gonçalo). O fato também indica que há mais policiais envolvidos.
A Justiça expediu 15 mandados de busca e apreensão em endereços nos municípios de São Gonçalo, Maricá e nos bairros de Senador Camará e Jacarepaguá. Os alvos foram imóveis dos acusados e de parentes deles. A DH também apreendeu 757 pistolas e revólveres usadas pelo 7º BPM (São Gonçalo). O Instituto de Criminalística Carlos Éboli pôs uma força-tarefa para analisar o armamento. O trabalho pode levar de semanas a meses, dependendo da sorte de se encontrar a pistola e o revólver usados no crime. O exame é feito a partir da ranhura do cano, uma espécie de impressão digital da arma. Tenente investigado por roubar cerveja
A família de Patrícia Acioli ainda não está satisfeita com o resultado das investigações. A advogada dos parentes da juíza, Letícia Lins e Silva, informou que não está tendo acesso aos documentos.
- A família está aguardando o desfecho, mas não temos conhecimento oficial das investigações. A polícia pediu mais 30 dias para concluir o inquérito. Os advogados da família não têm acesso a nada - disse Letícia.
A família está aguardando o desfecho, mas não temos conhecimento oficial das investigações. A polícia pediu mais 30 dias para concluir o inquérito. Os advogados da família não têm acesso a nada
Na noite de terça-feira, durante uma manifestação realizada na Praia de Icaraí, em Niterói, parentes da juíza salientaram a importância da prisão dos mandantes do crime. Eles têm convicção de que houve participação de outros policiais.
TAMBÉM NA VIDA PRIVADA: Juíza executada prendia PMs e tinha relações perigosas com policiais
INFOGRÁFICO: A senhora do martelo de ferro
LOCALIZAÇÃO: Onde ocorreu o crime
CRIME: Juíza assassinada em Niterói foi alvejada com 21 tiros, diz delegado
FOTOGALERIA: Veja imagens do trabalho da perícia no carro da juíza e do sepultamento de Patrícia
O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, disse que sempre soube da participação de policiais no crime:
- Desde o primeiro momento, trabalhávamos com a hipótese da participação de policiais. Em momento nenhum afastamos essa possibilidade. É muito importante a conclusão das investigações, porque aí se chega às pessoas. Nós temos um crime individualizado, particularizado, e deixa de existir uma culpa coletiva sobre toda uma unidade, o 7º BPM, como estava acontecendo. À medida que o crime é investigado e se descobrem os verdadeiros culpados, vai-se conduzir essas pessoas ao julgamento e aliviar a unidade de uma culpa coletiva que estava recaindo sobre ela - disse o comandante, acrescentando que a participação de outras pessoas não deve ser descartada. - Todas as hipóteses devem ser consideradas. Acho que as investigações devem ser conduzidas para a possibilidade de participação de outros atores nesse crime.
Um dos acusados, o tenente Benitez, já respondeu por outros crimes antes. Um dos casos ganhou destaque nas páginas dos jornais em janeiro de 2008, quando um grupo de PMs foi flagrado furtando cerveja e outras bebidas de um caminhão da AmBev, no Lins de Vasconcelos. Até carros da PM foram usados para o transporte da cerveja. Benitez já era tenente nessa época e trabalhava como supervisor da equipe. Na época, o subcomandante do 3BPM (Méier) era o tenente-coronel Cláudio Luiz Oliveira, o mesmo que estava comandando o quartel de São Gonçalo na época em que Patrícia foi morta. Cláudio levou Benitez para comandar o GAT no batalhão de São Gonçalo.
Os três policiais presos sob a acusação de executar Patrícia Acioli prestaram depoimento durante a tarde e a noite de terça-feira. Eles foram levados para a Divisão de Homicídios por uma escolta com três caminhonetes do Batalhão de Choque, na segunda-feira, e passaram a noite da unidade. A advogada Alzira de Castro permaneceu durante todo o tempo em busca de informações sobre o inquérito. Ela foi à DH acompanhada da mulher do tenente Daniel Benitez. Alzira defende o oficial no caso do assassinato da juíza. Além disso, tem Benitez e os dois cabos como clientes no processo em que tiveram as prisões decretadas por Patrícia Acioli, pela morte de um adolescente no bairro Salgueiro, em São Gonçalo.
O depoimento do tenente durou cerca de quatro horas. Já à noite foram ouvidos os dois cabos. Por volta das 22h15m de terça-feira, eles deixaram a DH sob escolta de policiais da Batalhão de Choque. Sem algemas e com casacos com capuzes, os dois cabos embarcaram na parte detrás de uma caminhonete encostada estrategicamente em frente à porta principal da delegacia. O tenente embarcou em seguida em outra caminhonete. Os três policiais militares acusados procuraram esconder o rosto e demonstravam cansaço. Todos eles negam ter cometido o crime.
A juíza foi assassinada em meados de agosto quando chegava em casa, no bairro de Piratininga, Região Oceânica de Niterói. As ameaças de morte à juíza não eram um segredo. Dois dias antes do assassinato, um policial civil da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) esteve na Polícia Federal para informar que havia um plano para executar a magistrada , considerada linha-dura nos julgamentos contra PMs da banda podre de São Gonçalo. A própria Patrícia esteve, na semana anterior ao crime, na sede da Corregedoria da Polícia Militar, onde teria contado que estava sendo ameaçada por policiais do 7º BPM (São Gonçalo) e do 12º BPM (Niterói). O Disque-Denúncia recebeu, em 2009, duas informações de que ela corria risco. Na época, as denúncias foram repassadas para a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco)
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/09/14/policia-conclui-que-assassinato-de-juiza-patricia-acioli-teve-um-mentor-925359799.asp#ixzz1Y18Ey9Vj
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RIO - O assassinato da juíza da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, Patrícia Acioli, tem um mandante. É essa a conclusão a que os investigadores da Divisão de Homicídios (DH) chegaram, a partir de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça e das apreensões feitas nas casas dos três policiais militares acusados da morte da magistrada. Segundo uma fonte na polícia, o tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes e os cabos Sérgio Costa Junior e Jefferson de Araújo Miranda, do Grupo de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM (São Gonçalo), que já estão presos, foram os autores do crime, mas não agiram sozinhos.
A fonte contou que, durante as buscas, foram encontrados documentos que comprovam a atuação do mandante do crime. Segundo o titular da DH, delegado Felipe Ettore, a juíza, morta em 11 de agosto em Niterói, decretou no mesmo dia a prisão dos PMs, acusados do assassinato de um jovem em São Gonçalo. Como os três policiais foram avisados pela advogada sobre a prisão, de acordo com a DH, escolheram aquele dia para a execução, embora um mês antes já estivessem planejando o crime.
De acordo com Ettore, uma prova disso é que, em julho, os acusados estiveram no condomínio da juíza num carro do 12º BPM (Niterói), apesar de serem do 7º BPM (São Gonçalo). O fato também indica que há mais policiais envolvidos.
A Justiça expediu 15 mandados de busca e apreensão em endereços nos municípios de São Gonçalo, Maricá e nos bairros de Senador Camará e Jacarepaguá. Os alvos foram imóveis dos acusados e de parentes deles. A DH também apreendeu 757 pistolas e revólveres usadas pelo 7º BPM (São Gonçalo). O Instituto de Criminalística Carlos Éboli pôs uma força-tarefa para analisar o armamento. O trabalho pode levar de semanas a meses, dependendo da sorte de se encontrar a pistola e o revólver usados no crime. O exame é feito a partir da ranhura do cano, uma espécie de impressão digital da arma. Tenente investigado por roubar cerveja
A família de Patrícia Acioli ainda não está satisfeita com o resultado das investigações. A advogada dos parentes da juíza, Letícia Lins e Silva, informou que não está tendo acesso aos documentos.
- A família está aguardando o desfecho, mas não temos conhecimento oficial das investigações. A polícia pediu mais 30 dias para concluir o inquérito. Os advogados da família não têm acesso a nada - disse Letícia.
A família está aguardando o desfecho, mas não temos conhecimento oficial das investigações. A polícia pediu mais 30 dias para concluir o inquérito. Os advogados da família não têm acesso a nada
Na noite de terça-feira, durante uma manifestação realizada na Praia de Icaraí, em Niterói, parentes da juíza salientaram a importância da prisão dos mandantes do crime. Eles têm convicção de que houve participação de outros policiais.
TAMBÉM NA VIDA PRIVADA: Juíza executada prendia PMs e tinha relações perigosas com policiais
INFOGRÁFICO: A senhora do martelo de ferro
LOCALIZAÇÃO: Onde ocorreu o crime
CRIME: Juíza assassinada em Niterói foi alvejada com 21 tiros, diz delegado
FOTOGALERIA: Veja imagens do trabalho da perícia no carro da juíza e do sepultamento de Patrícia
O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, disse que sempre soube da participação de policiais no crime:
- Desde o primeiro momento, trabalhávamos com a hipótese da participação de policiais. Em momento nenhum afastamos essa possibilidade. É muito importante a conclusão das investigações, porque aí se chega às pessoas. Nós temos um crime individualizado, particularizado, e deixa de existir uma culpa coletiva sobre toda uma unidade, o 7º BPM, como estava acontecendo. À medida que o crime é investigado e se descobrem os verdadeiros culpados, vai-se conduzir essas pessoas ao julgamento e aliviar a unidade de uma culpa coletiva que estava recaindo sobre ela - disse o comandante, acrescentando que a participação de outras pessoas não deve ser descartada. - Todas as hipóteses devem ser consideradas. Acho que as investigações devem ser conduzidas para a possibilidade de participação de outros atores nesse crime.
Um dos acusados, o tenente Benitez, já respondeu por outros crimes antes. Um dos casos ganhou destaque nas páginas dos jornais em janeiro de 2008, quando um grupo de PMs foi flagrado furtando cerveja e outras bebidas de um caminhão da AmBev, no Lins de Vasconcelos. Até carros da PM foram usados para o transporte da cerveja. Benitez já era tenente nessa época e trabalhava como supervisor da equipe. Na época, o subcomandante do 3BPM (Méier) era o tenente-coronel Cláudio Luiz Oliveira, o mesmo que estava comandando o quartel de São Gonçalo na época em que Patrícia foi morta. Cláudio levou Benitez para comandar o GAT no batalhão de São Gonçalo.
Os três policiais presos sob a acusação de executar Patrícia Acioli prestaram depoimento durante a tarde e a noite de terça-feira. Eles foram levados para a Divisão de Homicídios por uma escolta com três caminhonetes do Batalhão de Choque, na segunda-feira, e passaram a noite da unidade. A advogada Alzira de Castro permaneceu durante todo o tempo em busca de informações sobre o inquérito. Ela foi à DH acompanhada da mulher do tenente Daniel Benitez. Alzira defende o oficial no caso do assassinato da juíza. Além disso, tem Benitez e os dois cabos como clientes no processo em que tiveram as prisões decretadas por Patrícia Acioli, pela morte de um adolescente no bairro Salgueiro, em São Gonçalo.
O depoimento do tenente durou cerca de quatro horas. Já à noite foram ouvidos os dois cabos. Por volta das 22h15m de terça-feira, eles deixaram a DH sob escolta de policiais da Batalhão de Choque. Sem algemas e com casacos com capuzes, os dois cabos embarcaram na parte detrás de uma caminhonete encostada estrategicamente em frente à porta principal da delegacia. O tenente embarcou em seguida em outra caminhonete. Os três policiais militares acusados procuraram esconder o rosto e demonstravam cansaço. Todos eles negam ter cometido o crime.
A juíza foi assassinada em meados de agosto quando chegava em casa, no bairro de Piratininga, Região Oceânica de Niterói. As ameaças de morte à juíza não eram um segredo. Dois dias antes do assassinato, um policial civil da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) esteve na Polícia Federal para informar que havia um plano para executar a magistrada , considerada linha-dura nos julgamentos contra PMs da banda podre de São Gonçalo. A própria Patrícia esteve, na semana anterior ao crime, na sede da Corregedoria da Polícia Militar, onde teria contado que estava sendo ameaçada por policiais do 7º BPM (São Gonçalo) e do 12º BPM (Niterói). O Disque-Denúncia recebeu, em 2009, duas informações de que ela corria risco. Na época, as denúncias foram repassadas para a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco)
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/09/14/policia-conclui-que-assassinato-de-juiza-patricia-acioli-teve-um-mentor-925359799.asp#ixzz1Y18Ey9Vj
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