Priscilla Souza
Sete horas dentro de uma ambulância. Oitenta e oito quilômetros percorridos. Seis hospitais procurados e nenhum atendimento. Este foi o drama vivido pela família de Gabriel Paulino dos Santos de Sales, de 21 anos, que sofreu um acidente às 16h30m de segunda-feira, mas apenas por volta de meia-noite conseguiu pôr fim à peregrinação ao ser internado no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, no Rio.
— Ver meu filho nessa situação, me dá vergonha de ser brasileiro. Se fosse o filho de um deputado, já tinha saído boletim médico logo pela manhã, mas ele é filho de um operário. É muito ruim ver meu filho dentro de uma ambulância e não ser atendido. Como vou para minha casa tranquilo, se estou vendo meu filho praticamente morto? — desabafou o aposentado.
Quando tentava consertar a antena de internet — na casa onde mora em Xerém, Duque de Caxias — Gabriel se desequilibrou e caiu da laje (de uma altura de cinco metros), batendo a cabeça no chão. O jovem foi levado ao Posto de Saúde de Xerém.
— Ele teve um atendimento bom lá. O médico foi atencioso, mas mandaram ele para Saracuruna, porque disseram que lá (Posto de Saúde de Xerém) não tinha aparelhagem — contou a mãe do jovem, Maria dos Santos Bezerra.
Os momentos de angústia se agravaram a cada não recebido nos hospitais por onde passavam. E não foram poucos: Adão Pereira Nunes, em Saracuruna; Getúlio Vargas, na Penha; Souza Aguiar, no Centro; e Carlos Chagas, em Marechal Hermes. Nesse último, Gabriel chegou a ser recebido, mas, por falta de neurocirurgião, foi levado para o Salgado Filho.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde, Gabriel sofreu traumatismo crânio encefálico e teve fraturas em várias partes do corpo. O jovem está em coma induzido.
— Em todos os hospitais diziam que não havia médicos, não tinham recursos. É um descaso — afirmou o irmão do jovem, Rafael Paulino dos Santos de Sales.
Para secretário, é uma situação ‘inadmissível’
O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, determinou a abertura de uma sindicância para investigar as denúncias de falha no atendimento a Gabriel Sales. Côrtes afirmou ser "inadmissível" o que chamou de "peregrinação" da família do jovem em busca de atendimento na rede pública.
— Na sindicância nós vamos solicitar todo o atendimento dele em cada um desses locais por onde passou, desde o posto de saúde em Xerém, ao hospital de Saracuruna, ao Carlos Chagas e até mesmo ao Salgado Filho. É uma situação inadmissível.
Em nota, a Secretaria estadual de Saúde informou que o paciente chegou entubado ao hospital Carlos Chagas, mas, como a unidade não tem atendimento de politrauma e neurocirurgião, foi transferido para o Salgado Filho. Ainda segundo a nota, o Hospital de Saracuruna não recusou o paciente, e a decisão de procurar outra unidade teria sido do médico da ambulância (da Secretaria de Saúde de Caxias), já que o tomógrafo do hospital estava em manutenção.
A Secretaria municipal de Saúde informou "que não consta no Sistema de Regulação municipal solicitação de internação para este paciente (Gabriel), que é de fora do Rio e não conseguiu atendimento no seu município". A nota continua: "Apesar de não ter havido contato prévio, conforme estabelecido em protocolos, o Hospital Salgado Filho está tratando do paciente". E justifica o não atendimento no Souza Aguiar: "No início da noite de ontem (segunda-feira), o hospital estava com o serviço de neurocirurgia atendendo a três casos graves, sendo dois de acidente vascular cerebral hemorrágico e um baleado"
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