De Andrés Oppenheimer:
O importante apoio diplomático do Brasil ao regime cada vez mais isolado do Irã deixa atônita a comunidade internacional. Há várias teorias sobre o comportamento do Brasil, algumas bastante perturbadoras.
Nos últimos dias, quando a tradicionalmente cautelosa Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU finalmente concluiu que o Irã provavelmente vai desenvolver uma arma nuclear, e até a Rússia começou a se distanciar do Irã, o o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manterá seus planos de visitar o Irã em 15 de maio.
O Brasil, uma das potências ascendentes do mundo, dará, assim, uma legitimidade a um regime que, além de burlar as normas internacionais sobre energia nuclear, é considerado por boa parte do mundo um dos principais patrocinadores do terrorismo.
O Irã é conhecido também por ajudar grupos terroristas islâmicos como o Hezbollah, e promete publicamente varrer Israel da face da Terra.
Até o governo populista argentino, que normalmente se alinha com o Brasil em questões de política externa, diz que o Irã esteve por trás dos atentados terroristas do Hezbollah em Buenos Aires nos anos 90.
No fim do ano passado, Lula surpreendeu o mundo ao receber com tapete vermelho em Brasília o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. O Brasil tornou-se, assim, um dos primeiros países não radicais a dar sua bênção a Ahmadinejad após as controvertidas eleições de 12 de junho de 2009.
Por que o Brasil está colocando em risco sua reputação de bom cidadão internacional fazendo isso? Entre as teorias mais disseminadas:
Presunção. Segundo essa escola de pensamento, o sucesso econômico do Brasil e a sabedoria convencional de que ele forma com a China e a Índia as potências emergentes do mundo, subiram à cabeça de Lula.
O brasileiro, que recentemente previu que o Brasil será a quinta maior economia mundial em dez anos, quer enviar uma mensagem de que seu país é um novo ator global que terá de ser levado a sério. E a teoria prossegue: o que poderia ser melhor para atrair a atenção mundial que ter um papel no conflito internacional do momento?
Devaneio diplomático. Lula, encorajado pelo status de celebridade em seu país e no exterior, pode estar levando a sério suas reiteradas ofertas de mediar a crise no Oriente Médio. Lula tem programada uma visita a Israel, aos territórios palestinos e à Jordânia dia 15.
Embora seja difícil de acreditar que Lula possa resolver alguma coisa no Oriente Médio - durante uma visita recente aos Emirados Árabes Unidos e a Israel, não encontrei uma única pessoa que me dissesse que Lula tem alguma chance de obter sucesso onde poderosos mediadores americanos, franceses e russos fracassaram - o presidente brasileiro pode honestamente pensar que conseguirá fazer história.
Ambições nucleares secretas. Lula está sendo cordial com o Irã porque o Brasil quer desenvolver armas nucleares, ou ao menos deixar essa opção em aberto após a vizinha Venezuela ter assinado vários acordos de cooperação nuclear com o Irã.
Com isso em mente, o Brasil pode querer que um outro país - neste caso o Irã - alargue os limites dos acordos nucleares mundiais existentes e crie um precedente.
Política doméstica. Lula está tentando apaziguar seus apoiadores esquerdistas do Partido dos Trabalhadores, a maioria dos quais é ferozmente antiamericana, projetando-se como um estadista vigorosamente independente, enquanto persegue suas políticas favoráveis à economia empresarial.
Minha opinião: é uma combinação da primeira teoria, presunção, com a segunda, devaneio diplomático. Mas não posso deixar de me perguntar se a presunção não conduzirá, mais cedo ou mais tarde, a mais ambições nucleares.
Por enquanto, as aberturas do governo brasileiro a Ahmadinejad estão sabotando esforços internacionais para pressionar o Irã a cumprir acordos da ONU e encorajando um regime repressivo nesse país.
Andrés Oppenheimer é analista político e colunista
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