Levantamento indica repasses a 13 empresas sob suspeita; CPI convoca Fernando Cavendish
O GLOBO
Muitas explicações. Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta, terá que prestar depoimento à CPI no próximo dia 29
O GLOBO / MARCO ANTONIO CAVALCANTI
BRASÍLIA - Com o depoimento marcado para o próximo dia 29 na CPI do Cachoeira, o empresário Fernando Cavendish terá que explicar, entre outras pendências, repasses de mais de R$ 302 milhões da Delta Construções a empresas que só existiriam no papel, segundo levantamento da comissão. A CPI teve acesso a dados da quebra dos sigilos bancários da Delta fornecidos por três bancos, referentes a transações de 2008 a 2012. Técnicos do gabinete do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que acompanham os repasses da empreiteira a empresas de fachada, já calcularam repasses de R$ 302,2 milhões a 13 empresas, quatro delas comprovadamente pertencentes ao grupo de Cachoeira.
Os outros empreendimentos suspeitos surgiram no curso da apuração. Duas empresas movimentadas pelo grupo de Cachoeira e abastecidas com dinheiro da empreiteira já são conhecidas desde a deflagração da Operação Monte Carlo, em fevereiro: a Alberto & Pantoja Construções e a Brava Construções, que receberam, em conjunto, quase R$ 40 milhões desde 2010. Rosely Pantoja da Silva, que seria sócia da Alberto & Pantoja, depõe nesta quarta-feira na comissão.
A apreensão de documentos de integrantes da organização criminosa, cuja perícia foi remetida pela PF à CPI, permitiu ampliar o pente-fino. São os casos da Miranda e Silva Construções e da Adécio & Rafael Construção, cujas contas bancárias receberam R$ 48 milhões da Delta.
O levantamento feito pelos técnicos do gabinete de Randolfe inclui mais seis empresas de São Paulo (R$ 149 milhões), duas do Rio (R$ 56,2 milhões) e uma de Goiás (R$ 97 milhões). Mas o volume de dinheiro pode ser maior.
— Vou perguntar a Fernando Cavendish por que a empreiteira adota o modus operandi de transferir recursos a empresas de fachada. Os laranjas existem para desviar o dinheiro com outras finalidades. O esquema deve ser bilionário — disse Randolfe.
Por meio da assessoria de imprensa, a Delta afirmou não ter conhecimento dos valores desses repasses e que, por essa razão, não iria comentar a informação: “As convocações da CPI serão atendidas de acordo com a orientação da assessoria jurídica da empresa”.
Pagot vai depor no dia 28
Além de Cavendish, a CPI vai ouvir outro depoimento temido, o do ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot, que irá dia 28. Ele já manifestou publicamente o interesse de comparecer à comissão.
A CPI também aprovou nesta terça-feira a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e de SMS da namorada do contraventor, Andressa Mendonça, e de outros integrantes do esquema. A reconvocação preventiva de Cachoeira também foi aprovada, mesmo que o contraventor não indique intenção de colaborar com a CPI.
— Aprovamos o requerimento para deixar a convocação pronta. Se houver sinal de que ele pretende falar, podemos marcar a data — disse o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
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