Cidade foi devastada por enchente no dia 1º de janeiro.
Prefeita, delegada e promotora contam ao G1 como a vida mudou.
Prefeita, delegada e promotora contam ao G1 como a vida mudou.
O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de Março, será de muito trabalho em São Luiz do Paraitinga, a 180 km de São Paulo. A cidade, devastada por uma enchente em 1º de janeiro, ainda luta para se reerguer e voltar a ser um destino turístico procurado na região. As mulheres comandam esse trabalho, ocupando todos os postos-chave da cidade. Em entrevista ao G1, três delas contaram os desafios de ser mulher em suas áreas e como a vida mudou após a tragédia.
Natural do município, a prefeita Ana Lúcia Bilard Sicherle, de 38 anos, personifica essa luta. A mulher bonita de olhos claros e voz baixa não se abala com as dificuldades. Com o prédio da prefeitura afetado pela inundação, ela chegou a despachar da praça da cidade e de um imóvel pessoal. Seus maiores desejos agora, dois meses após a enchente, são que o período chuvoso acabe e que arranje uma maneira de auxiliar na recuperação dos imóveis particulares, como os casarões históricos destruídos.
Natural do município, a prefeita Ana Lúcia Bilard Sicherle, de 38 anos, personifica essa luta. A mulher bonita de olhos claros e voz baixa não se abala com as dificuldades. Com o prédio da prefeitura afetado pela inundação, ela chegou a despachar da praça da cidade e de um imóvel pessoal. Seus maiores desejos agora, dois meses após a enchente, são que o período chuvoso acabe e que arranje uma maneira de auxiliar na recuperação dos imóveis particulares, como os casarões históricos destruídos.
“A enchente atingiu todo mundo. A gente tem uma grande dificuldade de ajudar com recursos públicos o particular. Precisamos recuperar o comércio para que essa cidade não fique fantasma”, afirmou. Na noite de 31 de dezembro, horas antes de o Rio Paraitinga transbordar, Ana Lúcia assistiu com outros moradores à última missa do ano na Igreja Matriz, cujas paredes feitas com barro ruíram após a inundação.
Já em casa, às 4h de 1º de janeiro, ela foi acordada com um telefonema. Um distrito próximo já estava debaixo d’água. A inundação chegou até a porta da casa da prefeita, mas não entrou. A primeira preocupação foi salvar todas as pessoas. “No momento que a gente viu que não tinha morrido ninguém, nos sentimos mais protegidos. Você se sente responsável por todos, é uma sensação de guerra.”
Já em casa, às 4h de 1º de janeiro, ela foi acordada com um telefonema. Um distrito próximo já estava debaixo d’água. A inundação chegou até a porta da casa da prefeita, mas não entrou. A primeira preocupação foi salvar todas as pessoas. “No momento que a gente viu que não tinha morrido ninguém, nos sentimos mais protegidos. Você se sente responsável por todos, é uma sensação de guerra.”
Coreto da cidade, que também foi atingido, chegou a ser palco de reuniões. Foto do dia 4 de janeiro (Foto: Juliana Cardilli/G1)
A delegada Vânia Idalina Zácaro de Oliveira, de 42 anos, também foi pega de surpresa na madrugada. Titular da cidade desde 2004, ela estava de plantão em outro município quando recebeu uma ligação do plantonista em São Luiz do Paraitinga. “Ele relatou uma coisa que em princípio me deixou estarrecida”, contou ela, que seguiu para a cidade ainda durante a madrugada. “Não tinha luz, então era só mesmo aquele atendimento básico, para a população saber que a polícia estava ali.”
Nos dias seguintes, a rotina de registrar ocorrências como furtos, acidentes de trânsito e embriaguez ao volante foi substituída por transportar pessoas ilhadas, mantimentos e combustível. “O lado da investigação ficou um pouco de lado e a gente priorizou o social. Mesmo porque não se tinha acesso à delegacia, que ficou ilhada.”
Início da reconstrução
Primeira a voltar ao centro histórico depois que a água baixou, a prefeita descreveu como desesperador o momento em que viu a destruição e percebeu que muitas famílias haviam perdido tudo. “Mas eu acho que a gente tinha que passar por isso, eu sempre falo para a população que não é castigo.”
Na segunda-feira (1º), ela iniciou a mudança de volta para o prédio da prefeitura, parcialmente liberado. Um pequeno passo que levou um sorriso ao rosto de Ana Lúcia, primeira mulher a ocupar a prefeitura da cidade.
Quando a água foi embora e os estragos começaram a aparecer, o trabalho na delegacia mudou novamente e passou a ser o registro de boletins de ocorrência, necessários para seguros de casas e automóveis afetados pela enchente. Normalmente, a média de registros de todos os casos nos meses de janeiro é de 70. Neste ano, foram 250 – 90% relacionados a seguros. Houve denúncias em relação a saques, mas não confirmadas pela polícia.
Novata na cidade
Última das mulheres na “chefia” de São Luiz do Paraitinga a chegar à cidade, a promotora Paula Gizzi de Almeida Pedroso, de 28 anos, dá expediente desde o início de fevereiro em uma tenda e em um trailer instalados no estacionamento do Fórum, que também foi inundado e continua interditado. Sem internet, fax e acesso aos processos, que foram molhados e estão sendo recuperados, ela se desdobra para tentar melhorar a situação dos moradores e alertar sobre a necessidade de preservar o ambiente para evitar situações semelhantes.
Nos dias seguintes, a rotina de registrar ocorrências como furtos, acidentes de trânsito e embriaguez ao volante foi substituída por transportar pessoas ilhadas, mantimentos e combustível. “O lado da investigação ficou um pouco de lado e a gente priorizou o social. Mesmo porque não se tinha acesso à delegacia, que ficou ilhada.”
Início da reconstrução
Primeira a voltar ao centro histórico depois que a água baixou, a prefeita descreveu como desesperador o momento em que viu a destruição e percebeu que muitas famílias haviam perdido tudo. “Mas eu acho que a gente tinha que passar por isso, eu sempre falo para a população que não é castigo.”
Na segunda-feira (1º), ela iniciou a mudança de volta para o prédio da prefeitura, parcialmente liberado. Um pequeno passo que levou um sorriso ao rosto de Ana Lúcia, primeira mulher a ocupar a prefeitura da cidade.
Quando a água foi embora e os estragos começaram a aparecer, o trabalho na delegacia mudou novamente e passou a ser o registro de boletins de ocorrência, necessários para seguros de casas e automóveis afetados pela enchente. Normalmente, a média de registros de todos os casos nos meses de janeiro é de 70. Neste ano, foram 250 – 90% relacionados a seguros. Houve denúncias em relação a saques, mas não confirmadas pela polícia.
Novata na cidade
Última das mulheres na “chefia” de São Luiz do Paraitinga a chegar à cidade, a promotora Paula Gizzi de Almeida Pedroso, de 28 anos, dá expediente desde o início de fevereiro em uma tenda e em um trailer instalados no estacionamento do Fórum, que também foi inundado e continua interditado. Sem internet, fax e acesso aos processos, que foram molhados e estão sendo recuperados, ela se desdobra para tentar melhorar a situação dos moradores e alertar sobre a necessidade de preservar o ambiente para evitar situações semelhantes.
“Minha atuação aqui é completamente diferente das outras cidades onde morei. Estamos tendo uma atuação mais extraprocessual. O atendimento ao público se intensificou. As pessoas têm mais problemas e o Ministério Público está atendendo todos os dias para tentar amenizá-los pelo menos”, contou ela.
Cidade ficou coberta de lama depois que a água baixou, em imagem do dia 4 de janeiro (Foto: Juliana Cardilli/G1)
Sem prédio, a promotora já realizou uma reunião no coreto da cidade. “A falta de estrutura dificulta demais o nosso trabalho, mas nós estamos em uma situação que temos que reunir esforços para que as pessoas voltem para suas casas, recuperem seus empregos, vivam, em suma, com dignidade.”
Desafio como mulher
Ter crescido em São Luiz do Paraitinga não livrou a prefeita de alguns percalços. Em algumas casas em que foi pedir votos, ouviu dos moradores que não votariam em uma mulher. De outros, recebeu incentivos. “Uma mulher na zona rural disse: ‘Como eu gostaria que meu pai estivesse vivo. Ele não me deixou estudar, casei cedo e hoje vou votar em você’”, conta Ana Lúcia.
Casada e mãe de dois filhos, ela considera seu maior desafio conciliar a família e o trabalho. “A mulher é guerreira, e está dando certo. Ela pede mais, consegue ver detalhes que o homem não vê.”
Para a delegada Vânia, ter esse conhecimento da casa é uma característica que ajuda as mulheres a gerenciar uma cidade. “A cidade é uma extensão da casa, eu acho que isso facilita”. Separada e mãe de três filhos, ela diz não ter enfrentado problemas nem preconceito na cidade. “Por ser uma cidade pequena, há mais contato do povo com o delegado.”
A promotora Paula ressalta que, por serem “mais coração”, as mulheres têm facilidade em situações como a enfrentada pelo município. Ainda mais com uma população tão resistente. “É impressionante que, apesar de terem perdido tudo, eu senti uma população completamente solidária, acolhedora e para mim isso foi um exemplo de humanidade, de solidariedade.”
Desafio como mulher
Ter crescido em São Luiz do Paraitinga não livrou a prefeita de alguns percalços. Em algumas casas em que foi pedir votos, ouviu dos moradores que não votariam em uma mulher. De outros, recebeu incentivos. “Uma mulher na zona rural disse: ‘Como eu gostaria que meu pai estivesse vivo. Ele não me deixou estudar, casei cedo e hoje vou votar em você’”, conta Ana Lúcia.
Casada e mãe de dois filhos, ela considera seu maior desafio conciliar a família e o trabalho. “A mulher é guerreira, e está dando certo. Ela pede mais, consegue ver detalhes que o homem não vê.”
Para a delegada Vânia, ter esse conhecimento da casa é uma característica que ajuda as mulheres a gerenciar uma cidade. “A cidade é uma extensão da casa, eu acho que isso facilita”. Separada e mãe de três filhos, ela diz não ter enfrentado problemas nem preconceito na cidade. “Por ser uma cidade pequena, há mais contato do povo com o delegado.”
A promotora Paula ressalta que, por serem “mais coração”, as mulheres têm facilidade em situações como a enfrentada pelo município. Ainda mais com uma população tão resistente. “É impressionante que, apesar de terem perdido tudo, eu senti uma população completamente solidária, acolhedora e para mim isso foi um exemplo de humanidade, de solidariedade.”
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