Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sexta-feira, 12 de março de 2010

CHILE/DESPEDIDA - Bachelet deixa governo chileno sob aplausos e críticas

MARCIA CARMO
enviada especial da BBC Brasil a Valparaíso
A ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, entregou, nesta quinta-feira, a faixa presidencial ao sucessor e opositor, Sebastián Piñera --primeiro presidente de centro-direita a chegar à Presidência por voto popular em mais de 50 anos.
Bachelet deixou o palácio La Moneda, na capital chilena, aplaudida por uma multidão que se reuniu na praça em frente ao prédio, erguendo lenços brancos e cartazes que diziam: "Michelle 2014".
A ex-presidente abraçou alguns chilenos que participavam da manifestação, emocionada. Ela foi novamente aplaudida na chegada ao Congresso Nacional, na cidade de Valparaíso, onde passou o cargo para Piñera.
Herança do governo
Bachelet deixou a Presidência com mais de 80% de apoio popular. Mas analistas afirmam que a herança do governo dela inclui a primeira derrota para a frente de centro-esquerda Concertación em vinte anos.
Segundo especialistas, ela também será lembrada pela demora com que reagiu ao terremoto e tsunamis.
"Bachelet será lembrada como a presidente que se preocupou com o social. Mas que não fez sucessor", disse o professor de ciências políticas, Guillermo Holzman, da Universidade do Chile.
Nos últimos dias do governo de Bachelet, a mídia local destacou a demora na chegada de ajuda oficial às áreas arrasadas pelo terremoto e também o desencontro de informações que adiou o alerta de tsunamis e que poderia ter evitado diversas mortes.
"Minha filha morreu na ilha de Robinson Crusoé porque demoraram em dar o alerta de tsunami", disse a mãe de uma bióloga, de 28 anos.
Mas nas ruas de Santiago e de Valparaíso, a reportagem da BBC Brasil observou a simpatia dos chilenos pela ex-líder, mas com ressalvas de alguns eleitores.
"Quero que Bachelet volte daqui a quatro anos", disse a telefonista Mirta Alves, de Valparaíso.
"Bachelet foi boa presidente, mas precisávamos de mudanças. Vinte anos com o mesmo sistema é muito", afirmou o jornaleiro Jaime Godoy, também de Valparaíso.
Em Santiago, a percepção não foi diferente. Para o taxista Sergio Vidigal, Bachelet foi uma "boa presidente".
"Por algum motivo nós votamos pela oposição. Era hora de mudar", disse o taxista.
Segundo o instituto de opinião Adimark, que apontou que Bachelet deixa o cargo com nível de aceitação recorde para um presidente, ela entrou para a história como a líder que "mostrou carinho" aos chilenos.
"Ele se sentiram lembrados, bem atendidos por ela. Por isso, o terremoto e os tsunamis não afetaram sua imagem", disse um assessor do instituto.
Nos bastidores da oposição, houve, porém, quem observasse que ela "chegou com o caos do trânsito e sai com a catástrofe do terremoto e maremoto".
Os opositores se referiam ao sistema de ônibus e metrôs implementados por Bachelet logo no início do mandato na Região Metropolitana (a maior do país, que inclui Santiago). O novo sistema provocou fortes protestos e queda da popularidade da então nova presidente.
Bachelet parece ter descartado qualquer hipótese de retornar à Presidência. Quando questionada sobre a possibilidade de voltar ao cargo em 2014, após o mandato de Piñera, ela afirmou: "Deixemos para lá os filmes de ficção".
Ela deixou a Presidência, no entanto, dizendo "até logo" diante das câmeras de televisão.

 

 

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