Na Rodoviária do Plano Piloto, teve de desfile da terceira idade a distribuição de panfletos
Flávia Maia
Publicação: 09/03/2010 09:16 Atualização: 09/03/2010 09:24
Flávia Maia
Publicação: 09/03/2010 09:16 Atualização: 09/03/2010 09:24
Idosas desfilaram todo o seu charme e elegância na Rodoviária do Plano Piloto para lembrar a data |
A diversidade nas comemorações mostra o que Joana Jesus de Oliveira, 63 anos, percebeu desde que passou a comemorar o Dia da Mulher. “A festa tem ficado cada dia mais bonita”, conta a aposentada. Segundo ela, só depois que atingiu a maturidade, passou a comemorar a data. “Tinha uma amiga que me convidou para uma festa e um diálogo sobre a mulher, só então comecei a conhecer e dar valor a esse dia”, lembra a ex-telefonista.
A maioria das mulheres não se recorda o ano certo em que a data realmente entrou no calendário de festas, mas que tem ficado cada vez mais especial. “De uns quatro anos pra cá é que passaram a valorizar essa data e os homens têm se mostrado mais conscientes”, diz Isaudi Lustosa, 50 anos. “Meu genro até ligou para me dar os parabéns. Esse é um dia bonito, que podia ter mais vezes”, completa a esteticista.
Isaudi coloriu a data pegando uma rosa enquanto passava pela Praça do Relógio, em Taguatinga. Foram distribuídas 10 mil durante todo o dia. Porém, não foram todas que passaram por lá que se mostraram satisfeitas com os avanços masculinos. “De zero a 10, dou três para os homens. Têm que melhorar mais”, pontua a autônoma Márcia Cristina, de 36 anos, que ajudava na distribuição das flores.
Concentração
Além de Taguatinga, o Guará e Arapoanga, em Planaltina, também prestaram suas homenagens às mulheres, com cursos e palestras. Mas a Rodoviária do Plano Piloto, por onde passam 500 mil pessoas diariamente, concentrou os mais diversos tipos de homenagem, de distribuição de cartilhas sobre a lei Maria da Penha (leia O que diz a lei) e doenças sexualmente transmissíveis (DST) a um desfile de moda de idosas, com direito a música e a poesia, como a de Judson Seraine, que em poucas palavras traduziu o que pensa das mulheres. “A força feminina é de forma tamanha que só comparo com o poder da fé, que como mágica remove montanhas”, ressaltou Vô Judson, como é conhecido.
Mulheres que viveram em um século de grandes mudanças em relação ao papel delas na sociedade exibiram toda a sua feminilidade na Rodoviária. “As mulheres idosas são muito mais participativas que os homens, por isso essa festa”, constata Janet Azevedo, presidente do Conselho do Idoso do Distrito Federal.
Maria José Lélis de Sousa, 74 anos, estava entre elas. Ela esbanjou charme e elegância no vestido vermelho e com a maquiagem de lápis azul combinando com a cor dos olhos. Segundo ela, só aos 60 anos, quando os colegas de trabalho a homenagearam em 8 de março, é que ela passou a comemorar a data (veja Para saber mais).
A aposentada festejou com o brilho de Miss Terceira Idade do DF. Além de puxar o desfile na passarela montada próxima à estação do metrô, Maria José convidou quem passava por lá a dançar com ela e com as amigas. “Vivi primeiro para o meu marido, me divorciei e passei a viver para os meus filhos. Agora, vivo para mim, por isso quando me perguntam se eu gostaria de ter 20 anos a menos, digo que não”, afirma.
"A força feminina é de forma tamanha que só comparo com o poder da fé, que como mágica remove montanhas"
Vô Judson Seraine
Para saber mais
Histórias de lutas
Ao contrário do que muita gente imagina, o 8 de março não foi a única data escolhida como o Dia da Mulher. As mulheres foram homenageadas em outros dias no calendário, como 19 de março e o último domingo de fevereiro. A data de 8 de março foi escolhida oficialmente em 1975 pelas Organizações das Nações Unidas. O dia tornou-se emblemático por causa da repressão policial contra as mulheres que protestavam por melhores condições de trabalho em uma fábrica de Nova York, em 1857. Virou data-símbolo de manifestações femininas, como a força única por direitos trabalhistas em 1859 e a manifestação de 15 mil mulheres em Nova York, em 1908. Em 25 de março de 1911, no mesmo estado americano, trabalhadores, entre eles mulheres e crianças, morreram em um incêndio na companhia Triangle Waist Company. Após os relatos desesperados e as histórias das condições subumanas a que eram submetidos na fábrica, a revolução começava a dar voz e direito às pessoas, principalmente para as mulheres. (FM)
O que diz a lei
Mais rigor na punição
A Lei nº11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, guarda em seu nome uma homenagem à cearense que ficou paraplégica depois de várias agressões cometidas pelo marido. A biofarmacêutica Maria da Penha Maia não se conformou com os únicos dois anos de detenção que o marido cumpriu e apelou à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos para que a violência fosse devidamente penalizada. Logo depois, o Brasil sancionou a legislação que reconhece a gravidade dos casos de violência doméstica contra a mulher e retira dos juizados especiais criminais – que analisam crimes de menor potencial ofensivo – a competência para julgá-los. Além disso, a lei tipifica as formas da violência como física, psicológica, sexual, patrimonial e moral e proíbe a substituição de pena por pagamentos de multas e serviços à comunidade. (FM)
No Museu do Automóvel, mulheres passaram o dia de ontem aprendendo a mexer em veículos |
Lugares exclusivamente masculinos não existem mais no dicionário feminino. Não há piadinha que sobreviva à vontade das mulheres de aprender e conquistar o seu espaço. Por isso, nada mais coerente que um curso de mecânica de carros como presente no dia 8 de março. Realizado pelo Museu do Automóvel, no Setor de Garagens Norte, o curso já tem 17 matriculadas que não querem mais ser enganadas pelo discurso malandro de alguns mecânicos.
“Só sei que ninguém mais vai me passar a perna”, conta, satisfeita, Andréa Viana da Silva, 25 anos. Ela e outras duas colegas ganharam o curso do chefe da concessionária onde trabalham. “Enquanto a gente está aqui no curso, hoje (ontem), os homens estão trabalhando”, diz Thariana Oliveira Silva, 25 anos.
Elas contam que a paixão com os veículos nasceu, em muito, depois do trabalho na concessionária. “Eu faço o teste e entrego os carros, e adoro o que faço. Tem gente que acha que esse tipo de serviço mulher não faz, mas com esse conhecimento de mecânica, vou reforçar e melhorar meu trabalho”, acredita Luciana Albuquerque, 23 anos, colega de Andréa e Thariana.
Ansiosas
As três tiveram aulas com o professor Kefere Lúcio da Rocha e esperam ansiosas a aula de motor, que deve acontecer mais para o fim da semana. “Eu não sei nada de motor e quero muito aprender”, diz Andréa. Kefere elogiou as alunas e o público feminino. “Das turmas que eu ministro, com média de 15 alunos, seis, sete são mulheres e se saem bem”, calcula.
Para prestigiar o público feminino, o Museu do Automóvel, além do curso, ainda está com uma exposição com a presença de Mercedes, Giulietta, Giulia, Isabella, Julia Mc Laren e Chevrolet Marta Rocha, todos carros cujo nome homenageiam mulheres. (FM)
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