Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Arruda é acusado de espionagem

Policiais presos estariam a serviço de auxiliares do governador para gravar conversas nos gabinetes dos opositores

Rodrigo Rangel - Estadão
 
Ainda mais debilitado política e juridicamente pela suspeita de subornar uma importante testemunha do escândalo do "mensalão do DEM", o governador José Roberto Arruda (sem partido) agora é acusado de espionar e montar dossiês contra seus adversários. Na sexta-feira, a deputada Érika Kokay (PT) enviou à Secretaria de Segurança do Distrito Federal pedido de informações sobre um episódio ocorrido dois dias antes: agentes da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil prenderam, diante da Câmara Legislativa, dois policiais civis de Goiás com equipamentos de escuta ambiental.

Os policiais, segundo a deputada, estavam a serviço de auxiliares de Arruda, com a missão de gravar conversas nos gabinetes de opositores do governador. Dentre os alvos, estariam a própria Érika e a deputada Jaqueline Roriz (PMN), filha do ex-governador Joaquim Roriz, hoje arquirrival de Arruda.

"Recebi a informação de que os policiais disseram, em depoimento, que tinham sido contratados por Fábio Simão", contou Érica. Até estourar o escândalo no governo do DF, Fábio Simão era chefe de gabinete de Arruda. Foi demitido após aparecer nos vídeos que flagraram a distribuição de propina no governo.

Dois dias depois da descoberta do suposto esquema de espionagem, o diretor-geral da Polícia Civil do DF, Cleber Monteiro, pediu exoneração. Não há informações se a decisão tem relação com o episódio.

A ofensiva contra os adversários do governador vai além. Na semana passada, a ex-presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal, Estefânia Viveiros, procurou a Polícia Federal dizendo-se vítima de suposta trama de aliados do governador.

Estefânia, que comandou a OAB até dezembro e foi a responsável por formalizar um dos primeiros pedidos de afastamento de Arruda, entregou aos delegados duas fotos em que aparece conversando com Durval Barbosa, delator e personagem-chave do escândalo. A ex-presidente da OAB diz que as fotos foram "claramente montadas".

"Isso foi feito para tentar atingir minha imagem e me intimidar", afirmou ela ao Estado, ontem. "Eu recebi informação de que essas imagens, que foram enviadas para redações de jornais de Brasília, circularam no gabinete do governador." Estefânia está sob proteção de agentes federais.

Autoridades encarregadas da investigação sobre a corrupção no governo foram informadas da existência de um grupo que estaria produzindo dossiês contra adversários de Arruda. Um desses documentos, que já chegou às mãos dos investigadores, tem como alvos promotores de Justiça e testemunhas que colaboram com a apuração.

Um dos personagens que aparecem nos dossiês é o jornalista Edmilson Édson dos Santos, o Sombra, amigo de Barbosa e importante testemunha do caso. Na quarta-feira, um suposto emissário de Arruda foi preso em flagrante ao entregar R$ 200 mil a Sombra para que lançasse dúvidas sobre os vídeos gravados por Barbosa. Foi o próprio jornalista quem avisou à PF.

Antes, ele gravou todas as negociações. Num dos vídeos, a que o Estado teve acesso, Antônio Bento da Silva, o suposto emissário do governador, oferece o pagamento. "Qual é a garantia que eu vou ter?", pergunta Sombra. "A palavra", responde Bento.

O assessor de imprensa de Arruda, André Duda, nega que o governador esteja por trás dos dossiês e da tentativa de grampear os deputados.

"Quem produz dossiês e faz gravações ilegais nesta cidade todos sabem quem é, e não é o governador", disse. Sobre a montagem das fotos da ex-presidente da OAB, ele ironizou: "Se ela está preocupada, é porque ela talvez ela tenha estado mesmo com o Durval Barbosa algum dia."

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