Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

>>>Personagem do Dia - Dom Pedro II<<<<


Dom Pedro II do Brasil (nome completo: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Habsburgo; Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 — Paris, 5 de dezembro de 1891), chamado O Magnânimo, foi o segundo e último Imperador do Brasil de facto. D. Pedro II foi o sétimo filho de Dom Pedro I e da arquiduquesa Dona Leopoldina de Áustria. Sucedeu ao seu pai, que abdicara em seu favor para retomar a coroa de Portugal, à qual renunciara em nome da filha mais velha, D. Maria da Glória. Pelo lado paterno, era sobrinho de Miguel I de Portugal, enquanto, pelo lado materno, sobrinho de Napoleão Bonaparte e primo dos imperadores Napoleão II da França, Francisco José I da Áustria e Maximiliano I do México. Sendo o irmão mais novo de D. Maria da Glória, também fora tio de D. Pedro V e D. Luís I, reis de Portugal.

Pedro II governou de 1840, quando foi antecipada sua maioridade, até 1889 ano em que foi deposto com a proclamação da república. Além dos registro históricos e jornalísticos da época, Pedro II deixou à posteridade 5.500 páginas de seu diário registradas a lápis em 43 cadernos, além de correspondências, que nos possibilitam conhecer um pouco mais do seu perfil e pensamento.

Ele é, ainda hoje, um dos políticos mais admirados do cenário nacional, e é lembrado pela defesa à integridade da nação, ao incentivo à educação e cultura, pela defesa à abolição da escravidão e pela diplomacia e relações com personalidades internacionais, sendo considerado um príncipe filósofo por Lamartine, um neto de Marco Aurélio por Victor Hugo e um homem de ciência por Louis Pasteur. Durante todo a sua administração como imperador, o Brasil viveu um período de estabilidade e desenvolvimento econômico e grande valorização da cultura, além de utilizar o patriotismo como força de defesa à integridade nacional. Apesar de, muitas vezes, demonstrar certo desgosto pelas intensas atividades políticas, o último imperador do Brasil construiu em torno de si uma aura de simpatia e confiança entre os brasileiros.

Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.[1]

— Pedro II
Índice
1 Infância
1.1 Príncipe Imperial
2 Regência
2.1 Ascensão
2.2 Educação
2.3 Coroação
3 Imperador do Brasil
3.1 Casamento
3.2 Maioridade
3.3 Concepções raciais e abolicionismo
3.4 Educação no seu governo
3.5 Relação com a ciência
3.6 Liberdade de expressão
4 Decadência
4.1 Republicanismo
4.2 Terceira viagem à Europa
4.3 Queda
4.4 Partida para o exílio
5 Exílio
5.1 Últimos anos
5.2 Morte
5.3 Funeral
5.4 Repercussão à morte do Imperador
6 Legado
6.1 Post mortem
6.2 O fim do banimento
6.3 O Imperador retorna para casa
7 Posteridade
8 Ascendência
9 Títulos
10 Representações na cultura


Infância
Príncipe Imperial
D. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga nasceu no Paço de São Cristóvão, na capital brasileira, Rio de Janeiro, em 2 de dezembro de 1825, filho de D. Pedro I, imperador do Brasil e Dona Maria Leopoldina da Áustria, arquiduquesa da Áustria.


Pedro II aos 10 meses de idade, 1826.Seus avós paternos eram Dom João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves, e Dona Carlota Joaquina, infanta da Espanha, enquanto seus avós maternos eram Francisco I da Áustria, último sacro imperador romano-germânico, e Maria Teresa, princesa das Duas Sicílias.[2]

O jovem príncipe era descendente dos reis de Portugal, tais como Afonso Henriques, Dom João I e Dom João IV, assim como os reis da França, como Hugo Capeto, Felipe IV, o Belo, São Luís e Luís XIV, o Rei Sol, também dos reis da Espanha, como Fernando II e Isabel, os Reis Católicos e Filipe II, assim como dos Imperadores Romano-Germânicos, tais como Otto I, o Grande, Frederico Barbarossa e Carlos V, dos Imperadores Romanos do Oriente, como Aleixo I Comneno, João II Comneno, Isaac II Angelos, Miguel VIII Paleólogo, Leo VI e Constantino IX, dos reis da Inglaterra, como Guilherme, o Conquistador, Alfredo, o Grande e Eduardo III, dos reis dos Francos, como Meroveu, Clóvis, Pepino, o Breve e principalmente, de Carlos Magno, restaurador do Império Romano, e de todas as demais Casas Ducais, Reais e Imperiais da Europa.[2][3][4]

Seu nascimento foi comemorado com festas durante três dias no Rio de Janeiro. Sendo o único filho homem do Imperador dom Pedro I a sobreviver à infância, tornou-se o herdeiro da coroa imperial do Brasil, com o título de Príncipe Imperial.[2] Mas tornou-se órfão de mãe com pouco mais de um ano de idade[3] e na infância, o visconde de Barbacena o considerou um "menino magrinho e muito amarelo", e que sofria constantemente de febres e ataques convulsivos.[5] Do pai, recebeu carinho e afeto, revelando uma grande ternura pelo filho[2] e dizia com orgulho: "Meu filho tem sobre mim a vantagem de ser brasileiro".[6] Verdadeiramente, o pequeno príncipe era antes um símbolo, por ser considerado "genuinamente brasileiro".[4]

Regência
Ascensão
Ao acordar no dia 7 de abril de 1831, Pedro II encontrou sobre sua cama a coroa imperial de seu pai,[7] que já havia partido junto à madrasta.[8] Com a ajuda de Mariana de Verna Magalhães Coutinho, escreveu uma carta de despedida ao pai.[7] Pedro I, que se encontrava na fragata britânica Warspite, respondeu ao filho emocionado, chamando-o de "Meu querido filho, e meu Imperador".[7][9] Seu pai partiu somente no dia 13, mas não se viram e nem voltariam a se reverem. A distância dos filhos e a incerteza quanto as suas seguranças atormentava Pedro I.[10] Pedro II, por sua vez, sofreria com a falta do pai e da madrasta a quem considerava como mãe e como conseqüência agravaria ainda mais o seu comportamento costumeiramente reprimido.[8] Além de Pedro II, ficaram no Brasil três irmãs: Januária, Paula e Francisca.


D. Pedro II na infância.A aclamação oficial de Pedro II como novo Imperador brasileiro ocorreu em 9 de abril.[11] Foi levado na carruagem ao lado de Mariana de Verna até o Paço da Cidade, em choque devido à ausência do pai e da madrasta e completamente aterrorizado com a multidão que o cercava e pelo barulho causado pelos tiros da artilharia.[7][9] Um assustado Pedro II foi exibido ao lado das irmãs numa das janelas do paço sobre uma cadeira para que pudesse observar a sua aclamação pela multidão.[7][12] Os brasileiros de todo o país simpatizavam "com a figura do pequeno órfão que deveria governá-la um dia".[13] O espetáculo foi seguido por tiros de artilharia que assustaram ainda mais a criança de apenas cinco anos de idade e deste trauma infantil que provavelmente resultou em parte na aversão do monarca a pompa do poder.[14]

O período que se seguiu a aclamação foi provavelmente o mais conturbado da história do Brasil independente.[15] Como não poderia exercer as prerrogativas reservadas somente ao Imperador constitucional até que atingisse a maioridade, uma regência foi criada para atuar em seu lugar.[13] A primeira regência fora formada como um triunvirato, sendo um de seus membros o Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, o mesmo homem que havia apresentado o bebê Pedro ao Governo.[16] As lutas entre as facções políticas resultaram em uma regência instável e quase anárquica. Os liberais que haviam derrubado Pedro I logo se desmembraram em dois grupos: os liberais moderados (monarquistas constitucionais que mais tarde se tornariam o Partido Liberal e Conservador)[17] e os republicanos (uma pequena minoria, mas extremamente radical e revoltosa). Havia também os restauradores que eram anteriormente conhecidos como Bonifácios.[18]

Diversas rebeliões ocorreram pelo país durante a regência.[19] As primeiras, como a Rebelião de Santa Rita (1831),[20] a Revolta do Ano da Fumaça (1833)[21] e a Cabanada (ou Guerra dos Cabanos, 1832-34)[22][23] visavam o retorno de Pedro I ao poder, e contavam com a participação de pessoas comuns, inclusive ex-escravos e até mesmo escravos.[24][25] A morte de Pedro I em 24 de setembro de 1834[26] eliminou as aspirações dos restauradores.[17] Novas rebeliões ocorreram após a descentralização política e administrativa criada promulgação do Ato Adicional em 1834. Esta emenda constitucional acirrou os conflitos entre os grupos políticos, que sabiam que quem tivesse controle das províncias, teria poder sobre a máquina eleitoral e política. Os grupos que perdiam as eleições rebelavam-se e tentavam tomar o poder a força.[27] Contudo, todas defendiam o trono de Pedro II, tais como a Cabanagem (1835-40),[22] a Sabinada (1837-38),[22] e a Balaiada (1838-41),[22][28] apesar de algumas terem declarado a secessão das províncias como repúblicas independentes (enquanto Pedro II fosse menor). A exceção coube a Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos, 1835-45), que iniciou-se como mais uma disputa entre grupos políticos na província de Rio Grande do Sul,[27] mas logo evoluiu para uma rebelião separatista financiada pelo ditador Dom Manuel Rosas.[29] Entretanto, a maior parte da sua população, assim como as maiores e mais prósperas cidades, permaneceu leal ao Império.[30]

Educação
O Imperador Pedro I escolheu três pessoas para cuidar de seus filhos ao partir do país. A primeira foi José Bonifácio, a quem nomeou tutor de seus filhos,[11][31] posição esta confirmada em seguida pela Assembléia Geral.[7][11] A segunda foi Mariana de Verna que já ocupava o cargo de aia desde o nascimento de Pedro II.[32] A terceira foi o afro-brasileiro Rafael, veterano da Guerra da Cisplatina,[32][33] empregado no Paço de São Cristóvão e homem de confiança de Pedro I, a quem pediu para que tomasse conta do filho, e de fato o fez, até o fim de sua vida.[33][34] José Bonifácio não pôde ficar no cargo por muito tempo, e foi destituído em dezembro de 1833.[14] Suas relações com a regência liberal tornaram-se insustentáveis[14] devido ao seu papel como líder dos restauradores que desejavam o retorno de Pedro I,[14][35] não como Imperador, mas como regente até a maioridade de seu filho.[36] A Assembléia Geral nomeou para substituir-lo Manuel Inácio de Andrade Souto Maior Pinto Coelho, Marquês de Itanhaém.[26][37][38]


Dom Pedro II aos 12 anos de idade, 1838.Itanhaém fora escolhido pelo fato de ser considerado submisso e manipulável.[39] Era um homem de inteligência medíocre,[37] mas honesto[39] e teve sabedoria o suficiente para providenciar ao pequeno Imperador uma educação extraordinária. O tutor teve uma "grande influência sobre o caráter e o pensamento democrático de Pedro II".[40] Manteve os mesmos professores que já lecionavam a Pedro II e suas irmãs quando José Bonifácio era tutor.[41] A exceção coube ao Frei Pedro de Santa Mariana que foi nomeado para ocupar o lugar Frei Antônio de Arrábida (que também educou Dom Pedro I na infância).[42][43] Frei Pedro Mariana atuou como um diretor geral dos estudos de Pedro II e também lhe ensinou latim, religião e matemática. Foi uma das poucas pessoas além de sua família que Pedro II nutriu uma grande afeição.[44] Itanhaém e Frei Pedro Mariana educaram Pedro II para que considerasse todos os seres humanos como iguais, para que fosse imparcial e justo, para que fiscalizasse os funcionários públicos, inclusive os ministros, que não tivesse favoritos e que sempre se preocupasse com o bem público.[43] Ambos tinham como objetivo "formar um monarca humano, sábio, justo, honesto, constitucional, pacifista, tolerante. Isto é, um governante perfeito, dedicado integralmente as suas obrigações, acima das paixões políticas e dos interesses privados".[45]

A educação de Pedro II começou quando ainda era herdeiro do trono, quando já sabia ler e escrever em português aos cinco anos de idade. Seus primeiros professores foram Mariana de Verna e frei Antonio de Arrábida.[46] Ao tornar-se Imperador já possuía vários mestres. Dentre eles, estavam Félix Taunay e Luís Alves de Lima e Silva (filho do regente Francisco de Lima e Silva), professores de francês e esgrima, respectivamente, pelos quais teria uma amizade e admiração que perduraria por toda a vida.[47][48] Pedro II passava o dia inteiro estudando[45] e apenas duas horas eram destinadas a diversão.[13] Acordava as seis e meia da manhã e começava os estudos as sete e continuava até as dez da noite, quando iria para cama.[49] As disciplinas eram diversas, iam desde línguas, história, filosofia, astronomia, geografia, música a caça, equitação e esgrima.[13] Tinha-se um grande cuidado para que fosse o oposto do pai, tanto na educação, quanto no caráter e também na personalidade.[26] Aprenderia ao longo da vida a falar e escrever em português, Latim, Francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, sânscrito, chinês, provençal e tupi-guarani.[50][51] Sua paixão pela leitura permitiu-o assimilar tantas informações.[52] Mas Pedro II, apesar de inteligente, não era um gênio,[53] mas tinha uma grande facilidade para acumular conhecimento.[54] Sendo um monarca constitucional, sua educação era acompanhada atentamente pela Assembléia Geral que exigia por parte de Itanhaém relatórios acerca de seu progresso nos estudos.[40] Enquanto isto, Pedro II era mantido completamente alheio ao que se passava fora do palácio, inclusive quanto a questões políticas e a anarquia generalizada.[37]

O jovem monarca teve uma infância triste e solitária.[55] Era considerado precoce, dócil e obediente,[52] mas sempre chorava e nada parecia o agradar.[34][55] Não "foi criado com luxo e tudo era muito simples".[56] Só tinha permissão para encontrar as irmãs após o almoço e somente por uma hora,[26] que não podiam lhe fazer companhia.[45] Tinha poucos amigos de sua idade, e o único que manteve até a idade adulta foi Luís Pedreira do Couto Ferraz, futuro Visconde do Bom Retiro.[32][49] Contudo, recebeu carinhos de Mariana de Verna que o criou como um filho e de Rafael, que o carregava nos ombros[32] e permitia que Pedro II se escondesse em seu quarto para escapar dos estudos.[34] Na maior parte do tempo ficava com os empregados do palácio que só tinham permissão para falar consigo quando interrogados.[26] A criação que recebeu o transformou numa pessoa tímida e carente[40][57] e para fugir da realidade fez dos "livros um mundo à parte, em que podia isolar-se e proteger-se".[43] Por "trás das pompas da monarquia, da aparência de auto-suficiência, pode ter vivido um homem infeliz".[57]

Coroação
O período regencial, início do reinado de dom Pedro II, foi o período mais problemático na história do Brasil.[3] Diversas rebeliões e tentativas de secessão ocorreram, e apesar do sucesso que o governo fora capaz de obter debelando-as, para muitos, inclusive para o povo brasileiro, a única forma de pôr fim definitivo ao caos e restaurar a ordem seria declarando dom Pedro II maior de idade antes do tempo.[4]

Não acreditavam que um rapaz de apenas catorze anos de idade pudesse obter sucesso onde os mais experientes governantes fracassaram, apesar de toda a educação que recebeu. Entretanto, dom Pedro II era considerado um símbolo vivo da unidade do país.[4] Essa posição lhe dava, diante da opinião pública, uma autoridade maior do que a de qualquer regente.[58] Uma demonstração clara do desejo de tornar imperador maior de idade foi o surgimento de uma quadrinha popular cantada pela população da cidade do Rio de Janeiro nessa época:[58]

"Queremos Pedro II

Embora não tenha idade!

A Nação dispensa a lei

E viva a Maioridade!"

O regente, Araújo Lima, se viu sem opção a não ser aceitar o império das circunstâncias e se dirigiu ao paço imperial, onde explicou a dom Pedro a situação crítica pelo qual o país passava e perguntou quando desejaria tornar-se maior de idade. O jovem imperador teria respondido de forma direta e curta:"Quero já!"[2] No entanto, tratava-se de uma invenção dos maioristas para tornar o ato simbólico e deixar claro aos brasileiros que o adolescente estava preparado para assumir o seu devido lugar. Dom Pedro de fato não proferiu tal frase, tão distante do seu caráter retraído e tímido. Limitou-se a pedir a opinião do regente e então aceitou a proposta.[3] Posteriormente viria a negar diversas vezes ter dito a famosa frase e muito menos de ter sido partícipe do plano dos deputados maioristas.[5]

A decretação oficial da maioridade de monarca foi recebida com enorme alegria pelo povo brasileiro. Pela segunda vez (a primeira, quando seu pai abdicou), dom Pedro foi aclamado por cerca de 8 mil pessoas que se reuniram no paço da cidade para saudá-lo. No dia de seu aniversário, em 2 de dezembro de 1840, alguns meses após ser declarado maior de idade, o evento ocorre sob grande manifestação popular, com direito a festas e cortejos. O mesmo ocorre no primeiro ano de aniversário da Maioridade. O imperador registrou em seu diário:[58] "Quanto me custa um cortejo, como mói! Mas ele é sinal de gratidão de meus amados súditos. Devo recebê-lo com boa cara."

Imperador do Brasil
Casamento
D. Pedro II se casou por procuração em Nápoles a 30 de maio de 1843 e em pessoa no Rio de Janeiro a 4 de setembro de 1843 com Teresa Cristina Maria de Bourbon-Duas Sicílias, nascida em Nápoles em 14 de março de 1822 e morta em 28 de dezembro de 1889 no Porto, estando sepultada em Petrópolis, no Brasil, desde 1925. Era filha caçula de Francisco, Duque da Calábria, futuro Francisco I das Duas Sicílias (1777-1830) e de sua segunda esposa Maria Isabel de Bourbon, quinta filha de Carlos IV rei da Espanha e portanto irmã de Carlota Joaquina de Bourbon. D. Teresa Cristina trouxe um dote de dois milhões de francos. Tiveram quatro filhos.

Maioridade
Contrastando com o período conturbado da Regência, seu reinado foi de paz interna, uma vez encerrada a Guerra dos Farrapos, que se iniciara em 1835, e vencidas as Revoluções Liberal de 1842, em São Paulo e Minas Gerais, e Praiana, em 1848, em Pernambuco. Introduziram-se novas invenções e apoiou-se a cultura. Durante seu reinado, foi aberta a primeira estrada de rodagem, a União e Indústria; correu a primeira locomotiva a vapor; foi instalado o cabo submarino; inaugurado o telefone e instituído o selo postal.


Foi colocado no trono aos 15 anos, um jovem louro, alto e de olhos azuis. Os políticos disputavam o poder, ferozmente, achando que seria fácil dominá-lo. A princípio, seu governo representou o triunfo do Partido Liberal sobre o Conservador, mas, um ano depois, este voltou à carga, com medidas reacionárias que deixaram clara sua disposição de retomar a cúpula do poder — como a criação do Conselho de Estado e a reforma do código de processo criminal — e que suscitaram a Revolução Liberal de 1842, circunscrita a Minas Gerais e São Paulo. Em maio do mesmo ano, o imperador casou-se com a princesa Teresa Cristina Maria, após outras negociações mal sucedidas junto às cortes da Áustria, Espanha e Rússia. Somente em 23 de julho a notícia chegou ao Rio de Janeiro. A primeira questão foi a da sucessão, pois as leis da sucessão davam o trono a uma mulher apenas na ausência de filho varão. Na década de 1840, poucas princesas européias estavam dispostas a se arriscar numa enorme viagem rumo ao Hemisfério sul. Enviaram-se emissários para a Europa com resultados pouco satisfatórios. Conseguiu-se afinal uma prima distante, do ramo napolitano da Casa real espanhola, onde reinavam como reis das Duas Sicílias. O bisavô de Pedro II, Carlos IV da Espanha, era irmão de Fernando I das Duas Sicílias, avô da princesa que se dispôs a se tornar imperatriz. Um ano depois eram pais de Afonso, nascido em 1845 (achado morto no berço em 1847, sem razão aparente) e em 1848 nasceria outro menino.

Depois de perder o segundo filho, o casal viu que não mais poderia ter outros. O imperador resignou-se e fez da filha primogênita, a Princesa Imperial, herdeira oficial. Reinava porém sobre uma corte de poucas festas, trabalhadora, séria. Aboliu gradualmente muitas das cerimônias que antes mostravam pompa, abriu a família imperial ao contato mais próximo com seus súditos. O beija-mão, porém, perdurou por muito tempo, apesar de já abolido em outros países. Era tido, sobretudo no exterior, como governante liberal.

Em 1845, no final da guerra dos Farrapos, os liberais dominaram a situação, mas os conservadores logo reconquistaram a liderança e, em conseqüência de sua atuação, deflagrou-se a insurreição praieira de 1848, em Pernambuco. Com 23 anos e já pai de Afonso, Isabel (que seria cognominada "a Redentora"), Leopoldina e Pedro (que morreu também criança, em 1850), D. Pedro II não era mais um mero observador dos acontecimentos: começara um amplo trabalho de conciliação política apartidária, nas nomeações dos integrantes do Conselho de Estado e dos presidentes de província. Encarnou esse espírito conciliador Honório Hermeto Carneiro Leão, mais tarde marquês de Paraná, que dobrou a resistência do Partido Conservador. Tal comportamento político propiciou, na década de 1860, a criação da Liga Progressista, que cindiu a ala conservadora e permitiu a Zacarias de Góis e Vasconcelos, à frente do Conselho de Ministros, realizar importantes reformas no final do período.

Doncepções raciais e abolicionismo
Quando criança, dom Pedro recebeu uma grande influência por parte do pai e também de seus mestres quanto a sua visão em relação as demais etnias e culturas existentes no mundo. Em um período onde era comum o entendimento científico de que existia de fato uma separação racial entre brancos, negros e amarelos, o Imperador sempre demonstrou um profundo ceticismo quanto a tal teoria e nunca se deixou convencer pela tese de diferenciação racial.[6]


Por ser um homem naturalmente tímido e avesso a intimidades, o monarca possuía poucos e sinceros amigos. Um deles se chamava Rafael, negro e veterano da Guerra da Cisplatina e trabalhava no paço como seu criado particular (e fora homem de confiança de Pedro I). Tendo tido uma infância solitária e triste, um dos atenuantes para Pedro II foi o carinho recebido por parte de Rafael, que servira de certa forma como um pai que o pequeno Bragança não tivera. A amizade de ambos viria a perdurar até o fim do regime monárquico e Rafael inclusive o acompanhou em uma de suas viagens ao exterior (Rafael, então um octagenário, viria a falecer em 15 de novembro de 1889, ao saber que Dom Pedro II seria exilado.[59]).[3][5] Também são conhecidas suas relações com o veterano da guerra do Paraguai, Cândido da Fonseca Galvão, figura quase folclórica no Rio de Janeiro, líder da comunidade de negros livres da cidade, conhecido como Dom Obá II, da África. O engenheiro André Rebouças, também negro, tinha grande trânsito junto à família imperial, e, após a proclamação da República, auto exilou-se em solidariedade.

Sua visão quanto à escravidão e a própria condição do negro no mundo moderno fora afetada por sua criação. E assim percebera, não só como apreciador da ciência, mas também como cristão e governante, o grave erro que seria manter o regime escravocrata no Brasil. Entretanto, sabia perfeitamente que seria impossível abolir a escravidão de uma forma simples e direta, pois acreditava que tal ato viria a causar uma guerra civil semelhante a que ocorreu nos EUA em 1860 e desestabilizaria irremediavelmente a economia brasileira, levando o país ao colapso.[3] Dessa forma, dom Pedro realizou um projeto de extinguir a escravidão por etapas, a iniciar por uma iniciativa pessoal sua, que ao ser declarado maior de idade recebeu como parte de sua herança pouco mais de quarenta escravos e mandou libertar todos.[60]

O Imperador nunca escondeu do público a repulsa que possuía pelos traficantes de escravos e da própria escravidão. Inclusive, nem os interesses dos políticos, lavradores e proprietários de escravos pesaram de forma alguma em suas deliberações ou opiniões. Foi iniciativa sua aproveitar a crise com a Grã-Bretanha durante a década de 1840 e pressionar os políticos a extinguirem de fato o tráfico de escravos, chegando a ponto de ameaçar abdicar a ter que manter o comércio. Seu esforço de revelou frutífero e em 4 de setembro de 1850 foi promulgada uma lei que tornou o tráfico ilegal.[61] No início da década de 1860, o monarca manifestou o seu interesse em levar a cabo o seu projeto de abolição gradual da escravidão, pois obtivera sucesso em eliminar a principal fonte de novos escravos: a importação. Agora desejava extinguir outra fonte: o nascimento de novos escravos. E deixou claro em carta:

"A emancipação dos escravos, conseqüência necessária da abolição do tráfico [negreiro], não é senão uma questão de forma e de oportunidade. Quando as circunstâncias penosas [referia-se à Guerra do Paraguai] em que se encontra o país o permitirem, o Governo Brasileiro considerará objeto de primeira importância a realização daquilo que o espírito do Cristinianismo há muito reclama do mundo civilizado." [61]

De fato, a sua vontade de libertar os nascituros não fora proveniente do conflito contra o Paraguai, e sim grandemente retardada pelo mesmo. Revelou sua idéia publicamente na Fala do Trono de 1866, sendo duramente atacado não só pelos políticos, mas também pela sociedade em geral, que alegavam que tal ato seria um "suicídio nacional" como recordaria mais tarde Joaquim Nabuco. Mesmo assim, mais uma vez logrou sucesso e, terminado o conflito, uma nova lei foi promulgada em 18 de setembro de 1871, concedendo liberdade a todos os filhos nascidos de escravas a partir daquela data.[61] Seu próximo projeto foi à libertação dos escravos sexagenários: tal idéia não fora concebida tendo em vista uma emancipação ampla, mas sim, concluir um trabalho longo que iniciara com a extinção do tráfico. Não havendo mais escravos a nascer, e os idosos sendo libertados, seria questão de tempo até que a escravidão deixasse de existir em território nacional, ao mesmo tempo em que não abalaria a economia e permitiria aos agricultores buscarem formas alternativas de mão-de-obra. Fora o Imperador quem escolheu Manuel Dantas e em seguida, após a queda deste, Antônio Saraiva, que conseguiu promulgar em 28 de setembro de 1885 a Lei dos Sexagenários.[61]

Dom Pedro II não teve participação na promulgação da Lei Áurea ocorrida três anos depois por sua filha e herdeira, Dona Isabel, por estar em viagem a Europa. Mas ao ouvir a notícia da extinção completa da escravidão em solo brasileiro, um sonho alentado desde sua juventude, proferiu emocionado em seu leito de enfermo: "Grande Povo! Grande Povo!"[4] Mesmo assim, tornou-se a figura mais popular do país com a abolição.[3] O historiador Heitor Lyra em sua biografia acerca do imperador, "História de Dom Pedro II" v.3, asseverou:

"O inspirador da campanha [abolicionista], o estrategista dela, a alma do movimento, aquele que buscara o general [Presidente do Conselho de Ministros] e o colocara na frente das hostes [Assembléia Geral], que lhe armara o braço e o prestigiara na avançada, com uma decisão sempre firme, constante, fiél - fora o Imperador." [61]

O papel de protagonista de dom Pedro II na campanha abolicionista seria, com o passar do tempo, praticamente esquecido em prol de sua filha mais velha, sendo o monarca relegado ao papel de coadjuvante, se não de um mero espectador dos acontecimentos.

A tolerância do Imperador não se restringia somente aos negros, mas também aos muçulmanos, pois acreditava que a paz mundial seria sempre uma utopia, enquanto não se estabelecesse uma sincera conciliação entre o Ocidente e o Oriente.[2] O mesmo se estendia aos judeus, como na vez em que respondeu ao seu amigo Gobineau a razão de não existir leis no Brasil contra os mesmos: "Não combaterei os judeus, pois de sua raça nasceu o Deus da minha religião".[6]

Educação no seu governo
Dada a pequena estrutura educacional herdada da época em que seu avô, D. João VI, esteve no Brasil, Dom Pedro II criou e reformulou escolas e faculdades. Fundou em 21 de Outubro de 1838 o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o IHGB, inspirado no Institut Historique de Paris.

O monarca nutria um profundo interesse pelas questões diretamente relacionadas ao desenvolvimento da Educação, especialmente a educação pública, em nosso país, tendo se detido em expor o tema, inúmeras vezes. Na última Fala do Trono, de 3 de maio de 1889 retomou a questão sob o viés institucional, propondo a criação do Ministério da Instrução e reforçando a diretriz constitucional (1824) da criação do Sistema Nacional de Instrução. Além disso, são várias as posturas e as falas em que encontramo-lo envolvido com a questão, como ressalta Lilia Moritz Schwarcz:

"Interessado na educação, o imperador freqüentava concursos nas escolas de Medicina, Politécnica, Militar e Naval. Isso sem falar do Colégio Pedro II, a grande predileção do monarca.

[…] era d. Pedro quem, em carta a José Bonifácio, o Moço, orgulhava-se de dizer: "Eu só governo duas coisas no Brasil: a minha casa e o Colégio Pedro II."

[…] esse colégio, o único que de certa forma, escapava ao ensino excessivamente livresco, anticientífico e pouco abrangente da época. Com efeito, apesar de obrigatória, a instrução primária era insuficiente: as escolas,poucas, estavam quase todas centralizadas na corte. O monarca parecia, porém, desconhecer essa realidade e concentrar-se, sobretudo, no "seu colégio", como costumava dizer, onde assistia a provas,selecionava professores e conferia médias. Em seu diário escreveria d. Pedro II: "Se não fosse imperador do Brasil quisera ser mestre-escola", uma opção que condizia, ao menos, com a representação que mais e mais se divulgava."[4]

Os primeiros republicanos legaram à historiografia brasileira uma imagem de D. Pedro II como um governante omisso em relação às questões educacionais. Neste particular, Rachel Aparecida Bueno da Silva faz um contraponto:

"Ainda realizando uma leitura da obra de Schwarcz (1999), não podemos deixar de nos ater a duas questões, que de certa forma se confrontam no tocante à instrução pública durante o império: se existia o interesse pessoal de D. Pedro II pela educação (demonstrado inclusive nas Falas do Trono), ao mesmo tempo, há o fato de que o sistema de governo era parlamentar e inexistia uma centralização e concentração absoluta de poder. Os primeiros republicanos – e mesmo a maior parte dos autores que estudam a transição do Império para a República – aludem a uma centralização política e um poder de decisão pessoal do monarca, expresso pela prerrogativa do uso do poder moderador, o qual é bastante relativo: não existiu uma constância na utilização das prerrogativas do trono e, no auge do império, o imperador foi bastante parcimonioso na utilização de seus poderes constitucionais.

Na verdade, passados mais de 100 anos da Proclamação da República, podemos nos questionar o quanto de ideológico existia nas colocações dos primeiros republicanos, imbuídos que estavam da vontade de consolidar um regime recém inaugurado e prover a devida justificativa teórica para a mudança da forma e do sistema de governo: de monárquico para republicano e de parlamentar para presidencialista."[62]

Mesmo no exílio, Pedro II continuou a contribuir para a cultura nacional através da doação de sua coleção particular de documentos e peças de arte. O esforço educacional, embora prejudicado pelas inúmeras deficiências trouxe resultados. Em 1869, havia 3516 escolas primárias no Império, frequentada por 115735 crianças. A quantia era ainda pequena, considerando-se que naquela ocasião existiam 1.902.424 crianças livres em idade escolar, mas de qualquer modo as necessidades nacionais iam sendo suprimidas, formando-se paulatinamente uma camada de profissionais liberais e funcionários.[63] É equivocado dizer que o Brasil naquela época não havia universidades, não havia sim a amplitude de oportunidades para o seu ingresso.[carece de fontes?] Mas pode-se dizer que, pela ação de Dom João VI, fora criada a Faculdade de Medicina da Bahia, em 1792, em 1827 logo após a independência, deu-se a criação da Faculdade de Direito de Olinda e de São Paulo. Igualmente pode-se dizer que, até mesmo antes da chegada de seu avô Dom João VI, sua bisavó, Dona Maria I, ordenou a criação e instalação, na cidade do Rio de Janeiro, da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho [o atual Insituto Militar de Engenharia (IME)], sendo esta a primeira escola de engenharia das Américas e a terceira do mundo.

Relação com a ciência
Dom Pedro jurara fidelidade à Igreja Católica porque assim exigia a Constituição imperial de 1824. Porém, na verdade, "era ele um viajante em busca da resposta da vida. Um livre pensador fascidado pela filosofia. Onde houvesse possibilidade de novos conhecimentos, viesse de onde viesse, lá estava o seu interesse". (...) Com a mesma facilidade com que participava com naturalidade e interesse, de festejos que envolviam crendices de africanos e mulados , manifestava curiosidade pelos estudos iniciaticos da Maçonaria. Também manifestava interesse pelo Espiritismo, pela homeopatia, como igualmente pelo Judaísmo"´. É o que narra o livro "Dom Pedro II e a Princesa Isabel, Uma Visão Espírita-cristã do Segundo Reinado", publicação da Editora Lorenz.

Homem ilustrado, e particularmente apaixonado pelas inovações cientificas, Pedro II desde muito jovem foi sócio-correspondente de dezenas de instituições científicas, entre as quais o prestigiado Instituto da França.

Dom Pedro II aos 32 anos de idade, 1858..Manteve correspondência com diversas personalidades proeminentes da época, tendo se encontrado com alguns durante suas viagens ao exterior, entre os quais Nietzsche e Emerson, além de escritores famosos, como Lewis Carrol, Júlio Verne e Victor Hugo, com quem teve um célebre encontro em Paris. Hugo dizia ser ele um "neto de Marco Aurélio".

O poeta francês Lamartine o denominava "Príncipe filósofo" e Eça de Queiroz dizia que ele mostrava uma "rara ilustração".

Amigo de Camille Flammarion, um dos maiores astrônomos da época, empenhou-se em equipar e reorganizar o atual Observatório Nacional, que tornou-se um destacado centro de pesquisas. Sua paixão pela astronomia, a ciência preferida, valeu-lhe constantes caricaturas na imprensa brasileira, ilustrando-o acompanhado de sua luneta.

Pedro II esteve na exposição de Filadélfia, Estados Unidos, em 1876, ocasião em que Alexander Graham Bell demonstrou a sua nova invenção: o telefone. Provavelmente, Pedro II foi o primeiro brasileiro a usar um telefone. Na ocasião, ele citou o clássico de William Shakespeare em Hamlet: Ser ou não ser, para em seguida exclamar: Esta coisa fala! Consta que teve relevante participação na divulgação e no posterior financiamento do invento.

Foi o primeiro financista de Louis Pasteur, que o reconheceu com um "um homem de ciências". Admirava as pesquisas de Pasteur, muito antes de que o cientista fosse reconhecido na França, tendo inclusive convidado-o para morar no Brasil. Apaixonado pela arqueologia, visitou as ruínas de Tróia e as pirâmides do Egito, tendo sido recebido e conduzido nessas ocasiões pelos próprios Schliemann e Mariette.

Também foi amigo e protetor do famoso neurologista Jean Charcot, cujas teorias seriam a base para a psicanálise de Freud. Charcot, inclusive, foi quem assinou seu atestado de óbito.

O imperador ajudou na industrialização do país, sendo o responsável pela introdução do trem no Brasil, através da concessão dada ao Visconde de Mauá para a construção da primeira ferrovia brasileira, a Estrada de Ferro Dom Pedro II (que após a proclamação da república foi renomeada Estrada de Ferro Central do Brasil).

Pioneiro das preocupações ecológicas, pode-se citar a ordem que deu, em 1861, para o replantio com espécies nativas da Mata Atlântica da área da Floresta da Tijuca, devastada pelo cultivo de café.

Fato pouco conhecido, financiou a primeira expedição brasileira à Antártida, em 1882, em que a corveta Parayba atingiu os arredores do estreito de Drake, com propósitos de coletar informações científicas, o que causou grande protesto da imprensa e de diversos políticos.

Foi o fundador, mantenedor e incentivador de inúmeras instituições científicas no Brasil, entre as quais se destacam, além do já citado observatório astronômico, o Instituto Baiano de Agricultura, o Instituto Agronômico de Campinas, o Museu Paraense, o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional e a Escola de Minas de Ouro Preto. Critica-se o imperador pelo fato de seu apoio ter-se dado no plano do mecenato, tendo auxiliado estas instituições com seus recursos privados, sem procurar vinculá-las ao aparelho do estado, o que fez com que perdessem a continuidade com a sua deposição e somente muito mais tarde se recuperassem. Não se deve esquecer, entretanto, que tais iniciativas não tinham um segmento social que o apoiasse, diferentemente do caso dos Estados Unidos e da Europa.

Liberdade de expressão
Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, em seu D. Pedro II (Companhia das Letras: 2007), nunca o Brasil desfrutou de tanta liberdade de expressão quanto no Segundo Reinado. Até mesmo injúrias ao monarca eram publicadas, não admitindo ele que fossem punidas ou que os jornais que as divulgavam fossem processados ou fechados. Com efeito, no Brasil republicano proíbe-se o anonimato nos órgãos de imprensa, que era aceito no período imperial. Mas, de todo modo, assegura Carvalho, o imperador defendia a liberdade de imprensa por convicção e não por conveniência.

Decadência
Republicanismo
O republicanismo como movimento constante surgiu no Brasil em dezembro de 1870 no Rio de Janeiro com o lançamento de um manifesto assinado por 57 pessoas e a criação do Clube Republicano.[64][65][66] Era uma "minoria insignificante de letrados".[67] Não constava no manifesto qualquer repúdio ou desejo de extinção da escravidão.[64] Em 1873 surgiu o Partido Republicano Paulista em São Paulo, que afirmava que a escravidão deveria ser tratada pelos partidos monarquistas. Boa parte dos republicanos paulistas eram fazendeiros proprietários de escravos.[68] A maior parte dos republicanos tinha por objetivo esperar a morte de Pedro II e por meios pacíficos (como um plebiscito, por exemplo), impedir o reinado da Princesa Isabel.[65][69][70] Os republicanos não desejavam qualquer "reajuste social" (como melhorar a condição de vida dos ex-escravos) e não "eram revolucionários no sentido profundo do termo".[71] O movimento republicano "teve evolução lenta e irregular, concentrado nas províncias ao sul da Bahia", mais precisamente nas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.[68] Era "um grupo extremamente reduzido",[72] com "precária a organização nas províncias"[73] e "nenhuma coesão, sem a menor sombra de ligação".[72] O único grupo republicano que possuía alguma notoriedade era o Partido Republicano Paulista, que conseguiu eleger apenas dois deputados gerais em 1884[65] e nenhum na última legislatura do Império em 1889.[73] Na "década de 1880, angariou simpatizantes em número menor que o abolicionismo, e num ritmo mais lento".[74] Seu número aumentou somente após 1888, com a adesão de fazendeiros donos de escravos que se sentiram injustiçados pela extinção da escravidão sem qualquer tipo de indenização.[74][75][76] Ainda assim, em 1889 os "republicanos declarados eram provavelmente uma pequena minoria".[77]


Como "os próprios republicanos reconheciam, o partido não tinha tamanho, organização e apoio popular suficientes para derrubar o regime monárquico".[69] O republicanismo "não chegou, em tempo algum de seu desenvolvimento, a galvanizar a alma nacional. Jamais teve o condão de provocar um entusiasmo forte e de arregimentar todas as forças que se divorciavam do trono".[78] Mesmo com uma propaganda radical e com a pouca interferência das autoridades, o Partido Republicano que atuava desde 1870 era pequeno.[77] Sua propaganda louvava repúblicas como os Estados Unidos, a França e Argentina, mas convenientemente ignoravam monarquias progressistas como o Reino Unido e as nações escandinavas.[79] Em 1889, seus membros eram alguns "discursadores de praça pública e escrevinhadores de jornais. Estavam longe do poder desenvolver uma propaganda que pudesse abalar, os alicerces do trono".[80] No "processo político do segundo império, o partido republicano tem um papel tão apagado e tão secundário que poderia mesmo ser esquecido, que não se alteraria a ordem de raciocínios em que se pretendesse explicar os motivos da desagregação do regime".[81] Foi a crise entre os militares e o Governo, "de origem e evolução muito diversas" do republicanismo, que foi o principal fator para a queda do trono.[80]

Pedro II, contudo, não se importou com o manifesto republicano de 1870.[68] O Marquês de São Vicente, então Presidente do Conselho de Ministros, sugeriu ao Imperador que fosse proibido o ingresso de republicanos na carreira pública, prática comum nas monarquias. Pedro II respondeu: "Sr. São Vicente, o país que se governe como entender e dê razão a quem tiver." O presidente censurou o monarca: "Vossa Majestade não tem direito de pensar por este modo. A Monarquia é um dogma da Constituição, que Vossa Majestade jurou manter; ela não está encarnada na pessoa de Vossa Majestade". Mas o Imperador não se importou e respondeu: "Ora, se os brasileiros não me quiserem para seu Imperador, irei ser professor!".[82][83]

O Imperador sempre se recusou a proibir que republicanos tivessem cargos públicos e inclusive empregou Benjamin Constant como professor de matemática de seus netos.[84] Permitia as manifestações de republicanos, fossem em jornais, comícios, reuniões ou partidos.[83] e isentou os deputados republicanos de jurarem fidelidade a coroa.[85] A "liberdade de Imprensa, que constituía uma das bases do regime, continuava a permitir as críticas mais ferozes, as caricaturas mais ignóbeis contra o regime e seus homens públicos".[86] Pedro II era intransigente na defesa da irrestrita liberdade de expressão[86] que existia no Brasil desde 1822.[87] Era acusado de ser excessivamente tolerante em relação aos republicanos,[84] mas "não deu atenção as varias advertências no sentido de que sua ação minava as bases políticas da monarquia".[84] Em 1889, Pedro II revelou a Saraiva que não se importaria se o país se tornasse uma república.[88][89] O "indiferentismo do Imperador pela sorte do regime foi também um dos fatores que mais contribuíram para o desprestígio e, portanto, para a queda da Monarquia".[83]

Terceira viagem à Europa
A saúde de Pedro II havia piorado consideravelmente e em 1887 os ataques de febre haviam se tornado comuns.[90] Seus médicos pessoais sugeriram uma viagem a Europa para tratamento médico.[91][92][93][94] Ao embarcar, foi saudado por uma multidão, que gritava: “Viva Sua Majestade o Imperador do Brasil!”[95] Partiu em 30 de junho de 1887 com a esposa e o neto Pedro Augusto.[91][94] Mais uma vez sua filha Isabel tornou-se regente em seu lugar.[96] Permaneceu pouco tempo em Portugal e foi para Paris onde se hospedou como de costume no Grande Hotel.[91] Lá recebeu as visitas de Pasteur, Ambroise Thomas, Levaseur, François Coppée, Dumas Filho, Arsène Houssaye, Guerra Junqueira, de dois netos de Victor Hugo, dentre outros.[97] Em uma conversa com Houssaye o imperador lamentou a coroa de espinhos que carregava.[98] Pedro II visitou seu velho amigo Michel Eugène Chevrel que estava então com 102 anos de idade.[98]

O monarca foi examinado pelos médicos franceses Charles-Édouard Brown-Séquard, Jean-Martin Charcot e Michel Peter que recomendaram uma visita as estações de cura em Baden-Baden.[98][99] Permaneceu em Baden-Baden por 2 meses[98] e lá encontrou-se com velhos conhecidos como Guilherme I da Alemanha e Leopoldo II da Bélgica.[100] Também visitou o túmulo de sua filha Leopoldina em Coburgo.[100] Retornou a Paris em 8 de outubro de 1887, com a saúde aparentemente reabilitada e encontrou-se com suas irmãs Januária e Francisca.[100] De lá partiu para Itália onde foi convidado para um jantar com o rei da Itália, Vitoria da Inglaterra e a Rainha da Sérvia.[101] Em Florença inaugurou a obra Independência ou Morte do pintor brasileiro Pedro Américo na presença da Rainha da Inglaterra, da rainha Sérvia e do Rei do Wurtemberg.[102] Em Milão encontrou-se com Cesare Cantù.[102]

A saúde do imperador piorou dramaticamente em Milão em 3 de maio de 1888 e passou duas semanas entre a vida e a morte, chegando a receber a extrema-unção.[94][103][104] Chamaram Jean-Martin Charcot de Paris que ao chegar injetou na veia do monarca cafeína, resultando numa melhora de seu estado de saúde.[105][106] Apenas em 22 de maio que recebeu a notícia de que a escravidão havia sido abolida no Brasil.[105] Estava deitado na cama extremamente fragilizado e com a voz fraca e lágrimas nos olhos falou: “Grande povo! Grande povo!”[105][107][108][109]

Pedro II retornou ao Brasil e desembarcou no Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1888.[106][110] O “país todo o recebeu com um entusiasmo jamais visto. Da corte, das Províncias, de toda parte, chegavam-lhe provas de carinho e de veneração. A emoção dos que o viram desembarcar, alquebrado, magro, o corpo curvado, as pernas fracas, foi a mais profunda”.[111] Os alunos da Escola Militar escalaram o Pão de Açúcar e colocaram uma faixa gigantesca onde estava escrito “Salve”.[106][112][113] Não se viu tal demonstração de entusiasmo popular dirigido ao imperador nem mesmo nas celebrações de sua maioridade em 1840, ou na Questão Christie em 1864, ou na partida para o Rio Grande do Sul em 1865 ou mesmo com a vitória na Guerra da Tríplice Aliança em 1870.[112][114] A “julgar pelas manifestações gerais de simpatia que acolheram o Imperador e a Imperatriz por ocasião de sua chegada da Europa, nesse inverno de 1888, nenhuma instituição política podia pretender estar tão forte quanto a Monarquia no Brasil”.[114] Até mesmo os ex-escravos manifestavam lealdade a monarquia e se opunham veementemente aos republicanos, a quem chamavam de “os paulistas”.[115] A “Monarquia parecia estar no auge da popularidade”.[106] Pedro II havia atingido o ponto de sua maior popularidade entre os brasileiros.[116][117]

O fim da escravidão resultou no apoio explícito dos ricos fazendeiros de café (que de fato detinham o poder político, econômico e social no país) ao republicanismo.[118][119] Apesar de não haver no Brasil qualquer desejo pela mudança na forma de governo, os republicanos passaram a pressionar o Exército e seu principal líder, o Marechal Deodoro da Fonseca, a derrubar a monarquia.[120]

Queda
Em 9 de novembro de 1889, um grande número de oficiais se reuniu no Clube Militar, presidido por Benjamin Constant, e decidiu realizar o golpe de Estado para derrubar a monarquia.[121] Dois dias depois, na casa de Rui Barbosa, alguns oficiais, incluindo Benjamin Constant e o Marechal Deodoro da Fonseca, além de outros dois civis, Quintino Bocaiúva e Aristides Lobo, foi confirmada a realização do golpe. Foi à única reunião que contou com a participação dos republicanos civis e Deodoro não desejava a presença dos mesmos no que considerava um problema militar.[122] Deodoro ainda hesitava[123] e falou: "Eu queria acompanhar o caixão do Imperador, que está velho e a quem respeito muito".[124] Mas acabou cedendo depois de pressionado por Benjamin Constant: "Ele [Benjamin Constant] assim o quer, façamos a República. Benjamin e eu cuidaremos da ação militar; o Sr. Quintino e seus amigos organizarão o resto".[124] Às 23 horas do dia 14 de novembro,[125] Deodoro assumiu o comando de 600 homens, cuja maioria não sabia o que estava ocorrendo ou acreditava que iria se defender de um ataque da Guarda Nacional ou da Guarda Negra.[126] Alguns poucos republicanos deram vivas a república, mas Deodoro mandou-os calarem a boca.[127]

O Presidente do Conselho de Ministros, Afonso Celso, Visconde de Ouro Preto, ao saber da revolta partiu com os demais ministros do Gabinete para o Quartel-General do Exército que se localizava no Campo de Santa, no coração da capital.[125][127][128] As tropas supostamente leais eram maiores e melhores armadas que as rebeldes.[128] O Ajudante-geral [Comandante] do Exército, Marechal Floriano Peixoto garantiu a Ouro Preto a lealdade de suas tropas, mas era secretamente aliado dos revoltosos.[127] Floriano e o Ministro da Guerra Rufino Enéias, Visconde de Maracajú (primo de Deodoro) ignoravam as reiteradas ordens de Ouro Preto para que as tropas leais atacassem os rebeldes que se aproximavam do Quartel-General.[125][127] Tentou convencê-los relembrando os atos de bravura dos militares brasileiros na Guerra do Paraguai, mas recebeu como resposta de Floriano de "mas lá tínhamos em frente inimigos, e aqui somos todos brasileiros" e finalmente compreendeu o alcance da rebelião.[128][129] As tropas supostamente leais abriram os portões do Quartel-General para Deodoro[130] e este gritou: "Viva Sua Majestade o Imperador!"[128][131] Deodoro encontrou-se com Ouro Preto e afirmou que enviaria pessoalmente ao imperador uma lista com nomes que iria indicar para um novo gabinete.[130] Para a decepção dos republicanos civis e militares, Deodoro não havia proclamado a República e dava a entender que iria apenas derrubar o Conselho.[130] Deodoro não tinha certeza de que deveria agir contra Pedro II e os próprios rebeldes não acreditavam na possibilidade de sucesso do golpe.[132] As poucas pessoas que presenciaram a movimentação de tropa não sabiam o que estava ocorrendo e nas palavras do republicano Aristides Lobo, elas assistiram tudo "bestializadas".[132][133] "Raramente uma revolução havia sido tão minoritária".[134]

Na manhã do dia 15 Pedro II estava em Petrópolis quando recebeu um primeiro telegrama de Ouro Preto avisando da rebelião, mas não deu importância ao fato.[130][135] O monarca recebeu um segundo telegrama as 11 da manhã quando saia da missa em homenagem aos 45 anos da morte de sua irmã Maria II e decidiu retornar ao Rio de Janeiro.[130][132][135][136] Sua esposa demonstrou preocupação e ele apenas respondeu: "Qual senhora, chegando lá isso acaba!" [137] Viajou de trem, lendo jornais e revistas científicas, sem imaginar a gravidade da situação e chegou ao paço da cidade as 3 da tarde.[130][138] André Rebouças sugeriu que partisse para o interior para organizar a resistência.[130][139] O Marquês de Tamandaré pediu a permissão do imperador para liderar a Armada para atacar as tropas de Deodoro.[140] Ele simplesmente ignorava todos os pedidos para resistir[138] e falou: "Isso é fogo de palha, conheço meus patrícios".[137] Também perguntou ao senador conservador Manuel Francisco Correia o que achava da situação. Correira respondeu que acreditava que era o fim da monarquia. Pedro II não demonstrou qualquer sentimento, como se não se importasse.[141]

Ouro Preto chegou ao paço às 4 da tarde e sugeriu a Pedro II que nomeasse o senador Gaspar da Silveira Martins, que só chegaria à cidade dois dias mais tarde, como novo Presidente.[132][142][143] Deodoro evitava encontrar-se pessoalmente com Pedro II[132] mas ao saber que o imperador havia escolhido um inimigo seu para o cargo de Presidente do Conselho de Ministros decidiu-se finalmente pela instauração da República.[142][144][145][146] A Câmara recém-eleita só se reuniria no dia 20 e o Senado estava em recesso.[130] Por tal razão, a Princesa Isabel insistia com o pai para que convocasse o Conselho de Estado para discutir a questão, mas sempre ouvia como resposta: "Mais tarde".[142][147] A princesa, por conta própria, chamou os conselheiros.[142][148] O Conselho de Estado reuniu-se às 11 da noite e após duas horas sugeriram a Pedro II que nomeasse Antonio Saraiva ao invés de Silveira Martins.[145][148][149] Saraiva aceitou o cargo e enviou um emissário para dialogar com Deodoro, que recebeu como resposta que era tarde demais.[141][149] Ao saber da notícia, Pedro II comentou: "Se assim for, será a minha aposentadoria. Já trabalhei muito e estou cansado. Irei então descansar".[150]

Partida para o exílio
No dia 16, um sábado, a família imperial permaneceu no paço, que foi cercado por um regimento de cavalaria.[150][151] Pedro II apenas lia revistas científicas, demonstrando calma o dia inteiro.[151] Às 3 da tarde, o major Frederico Solón Sampaio Ribeiro apareceu no paço para informar a Família Imperial de que a República havia sido proclamada e de que deveria partir em 24 horas para o exílio.[132][152] Os "republicanos não tiveram coragem para se enfrentar face a face com o Imperador, que intimamente admiravam" [153] e, portanto enviavam oficiais subalternos para se comunicarem com Pedro II.[132] Solón ao cumprimentar o imperador o chamou de vossa excelência, mas Pedro II manteve-se impassível. Chamou-o em seguida de vossa alteza e finalmente de vossa majestade.[132][154][155] O Major falou: "Venho da parte do Governo Provisório, entregar respeitosamente a Vossa Majestade esta mensagem. Não tem Vossa Majestade uma resposta a dar?" O imperador: "Por ora não." Solón: "Então posso retirar-me?" E por fim, Pedro II falou: "Sim."[154][156] A notícia do banimento levou as mulheres presentes a chorarem, enquanto os homens ficaram emocionados, com a exceção de Pedro II, que permanecia sereno e indiferente aos acontecimentos.[137][145][154][156] O monarca decidiu viajar na tarde do dia seguinte, 17 de novembro e enviou uma mensagem escrita ao Governo provisório avisando que aceitava partir do país.[141][145][146][151][157]

O Governo republicano temia que no dia 17, uma segunda-feira, ocorressem manifestações a favor do imperador.[158][159][160][161] O tenente coronel Mallet foi enviado para avisar que a família imperial deveria partir imediatamente.[162] Houve certa comoção até que Pedro II apareceu na sala e fez-se silêncio. Ele perguntou: "Que é isto? Então vou embarcar a esta hora da noite?" Mallet respeitosamente respondeu que o Governo pediu para que embarcasse de madrugada. Então ocorreu um diálogo entre ambos em o imperador teve a confirmação de Deodoro no golpe e exclamou por fim: "Então estão todos malucos!"[159][160][163][164][165] O imperador recusou-se a partir naquele momento alegando que não era um escravo que fugia no meio da noite.[166][167] Mallet buscou persuadir Pedro II alegando que estudantes republicanos fariam manifestações contra a sua pessoa. O imperador revelou-se descrente: "Quem dá importância a estudantes?"[168] Neste exato momento, ouviram-se tiros do lado de fora. Mallet retirou-se do paço para descobrir o que havia ocorrido. Cerca de quinze imperiais marinheiros tentaram desembarcar dando vivas ao Imperador, mas foram rechaçados pelas tropas revoltosas e em seguida aprisionados. Mallet retornou ao prédio e afirmou a Pedro II que eram republicanos exaltados que tentavam atacar a ele e sua família.[168] Assim, o imperador aceitou partir.[168][169][170]

Quando Pedro II saiu do paço, os soldados do lado de foram apresentaram instintivamente as armas e ele correspondeu erguendo o seu chapéu.[170] Alguns amigos mais próximos partiram com a família imperial por vontade própria para o exílio, incluindo André Rebouças e Franklin Dória, Barão de Loreto.[171][172] Pouquíssimas pessoas viram a partida.[173] Foram transladados para o vapor Parnaíba e em seguida para o navio Alagoas, de onde partiram para a Europa quase um dia depois, a uma hora da madrugada de 18 de novembro.[171][174][175] Antes de seguir definitivamente, Pedro II enviou uma mensagem curta ao seu fiel amigo Tamandaré, que permaneceu ao seu lado o tempo todo: "O que está feito, está feito. Resta estabelecer a ordem e consolidar as vossas instituições".[176] Ao saber da partida, Benjamin Constant falou: "Está cumprido o mais doloroso dos nossos deveres."[177] Depois, Rui Barbosa, relembrando o ocorrido, falou ao Major Carlos Nunes de Aguiar que estava ao seu lado assistindo de longe o navio levantar âncoras: "Você teve razão de chorar quando o imperador partiu".[178] Era "o fim da monarquia mas não do mito chamado d. Pedro".[172]

O governo chefiado por Deodoro "foi pouco mais que uma ditadura militar. O exército dominava tudo tanto no Rio de Janeiro quanto nos estados. A liberdade de impressa desapareceu e as eleições eram controladas por aqueles que estavam no poder".[179] O regime republicano que se seguiu a monarquia deposta revelou-se extremamente instável. Em "pouco mais de um século de existência, a República brasileira enfrentou doze estados de sítio, dezessete atos institucionais, seis dissoluções do Congresso, dezenove revoluções militares, duas renúncias presidenciais, três presidentes impedidos de tomar posse, quatro presidentes depostos, sete Constituições diferentes, quatro ditaduras e nove governos autoritários".[180]

Exílio
Últimos anos
O ex-imperador e sua família foram exilados e mudaram-se inicialmente para Portugal (onde assistiram às exéquias do rei Luís I, falecido em 19 de Outubro de 1889, à cerimónia de aclamação de seu filho e herdeiro Carlos I, bem como à de baptismo do infante D. Manuel, Duque de Beja e filho segundo do monarca português, nascido exactamente no dia da sua deposição, e do qual viria a ser padrinho de baptizado) e a seguir para França.

A partir de 1890 até a sua morte, o imperador deposto viveu nas cidades de Nice e Paris. Em Nice, viveu em uma casa alugada por sua filha até que esta se estabelecesse em uma propriedade de seu marido. Foi também em Nice que Pedro II recebeu a notícia da morte da Condessa de Barral.

Morte
Em 23 de novembro de 1891 Pedro II compareceu a Academia de Ciências pela última vez para participar de uma eleição.[181][182] Na manhã seguinte anotou friamente em seu diário a notícia de que o ditador Deodoro da Fonseca havia renunciado: "10:30. O Deodoro demitiu-se."[183] Realizou logo mais um longo passeio pelo Sena em carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao retornar para o hotel Bedford à noite, sentiu-se resfriado.[181][184] A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia.[181][185] Não houve celebração em seu aniversário no dia 2 de dezembro, com a exceção de uma simples missa, onde ficou acamado e teve apenas a companhia da filha, genro e netos.[185][186][187] Contudo, recebeu a visita de diversos franceses e brasileiros que residiam em Paris que foram cumprimentá-lo.[185]

Seu estado de saúde piorou repentinamente na manhã do dia 3.[188] Outros parentes e amigos foram visitá-lo após saberem da gravidade da situação. No dia 4 recebeu os últimos sacramentos do abade Rébours, vigário de Madeleine.[189] Entrou em agonia na noite do mesmo dia e faleceu as 0:35 da manhã do dia 5.[186][187] Suas últimas palavras foram: "Deus que me conceda esses últimos desejos – paz e prosperidade para o Brasil…"[188] Estava tão enfraquecido que não sofreu qualquer tipo de dor.[189] Estavam ao seu lado sua filha Isabel, o Conde d´Eu, os netos Pedro, Luís, Antonio, Pedro Augusto e Augusto e suas irmãs Januária e Francisca, acompanhada de seus esposos.[190]

Segundo o atestado de óbito a causa mortis foi uma pneumonia aguda do pulmão esquerdo.[187][191][192] Pedro II faleceu sem abdicar de sua coroa e sua filha Isabel tornou-se a herdeira do trono do Império brasileiro.[187] Ela beijou solenemente as mãos do pai e em seguida todos os demais presentes, inclusive dezenas de brasileiros que já se encontravam no local, beijaram sua mão, reconhecendo-a como a Imperatriz de jure do Brasil.[192] O Barão de Rio Branco, que estava presente, escreveu mais tarde: "Os brasileiros presentes, trinta e tantos, foram desfilando um a um, lançando água benta sobre o cadáver e beijando-lhe a mão. Eu fiz o mesmo. Despediam-se do grande morto"[190] O senador Gaspar da Silveira Martins chegou logo após o falecimento e, ao ver o corpo do velho amigo, chorou convulsivamente.[193]

Foi dispensada a autopsia e o corpo do Imperador foi embalsamado as 9 horas do dia 5 de dezembro, após injetarem seis litros de cloridrato de zinco e de alumínio em sua carótida.[194] Também foi feita uma máscara mortuária.[193] Pedro II foi vestido como o uniforme de Marechal do Exército, representando sua posição como Chefe das Forças Armadas brasileiras.[191][194] Em seu peito foram colocadas as fitas das diversas ordens de que fazia parte e em suas mãos, um crucifixo de prata enviado pelo Papa Leão XIII. Duas bandeiras brasileiras foram colocadas em suas pernas para cobri-las.[187][194] Enquanto preparavam o corpo de Pedro II, o Conde d´Eu encontrou no quarto um pacote lacrado e uma mensagem escrita pelo próprio Imperador: "É terra de meu país, desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria".[187][195] O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras foi colocada dentro do caixão.[196] Foram utilizados três caixões: um de chumbo forrado de cetim branco com uma tampa de cristal, onde depositaram o corpo, e outros dois que revestiram o primeiro: um carvalho envernizado e outro de carvalho recoberto de veludo negro.[196]

Funeral
Poucas horas após a morte de Pedro II, milhares de pessoas compareceram ao hotel Bedford, dentre elas, o Presidente do Conselho, Freycinet e os ministros da Guerra e da Marinha.[193][197] Em apenas um dia, mais de 2 mil telegramas haviam sido enviados para o hotel com mensagens de condolências.[191][196] O presidente francês Sadi Carnot, que estava em viagem pelo sul do país, enviou todos os membros da Casa Militar para prestarem homenagens ao falecido monarca.[198] A princesa Isabel desejava realizar uma cerimônia discreta e íntima para o enterro de Pedro II.[199] Contudo, aceitou o pedido do Governo francês de realizar um funeral de Chefe de Estado.[200] Para evitar incidentes políticos,[201] o Governo decidiu que o enterro seria oficialmente realizado pelo fato do Imperador ser grã-cruz da Legião de Honra,[191][202] mas com as pompas devidas a um monarca.[187] Todos os pedidos feitos pelo governo republicano brasileiro para não se realizar qualquer tipo de funeral oficial ou de apresentar publicamente a bandeira imperial foram simplesmente ignorados pelo governo francês.[201]

Os caixões contendo o corpo de Pedro II saíram do hotel Bedford na noite de 8 de dezembro com destino a Igreja da Madeleine.[203] Oito militares franceses transportaram os caixões, cobertos pela bandeira imperial,[203][204] sendo assistidos por mais de cinco mil pessoas.[203] A carruagem utilizada fora à mesma dos enterros do cardeal Morlot, do Duque de Morny e de Adolphe Thiers.[191][204]


No dia seguinte, milhares de personalidades compareceram a cerimônia realizada em Madeleine. Além da família de Pedro II, estavam: Amadeo, ex-rei da Espanha, Francis II, ex-rei das Duas Sicílias, Isabella II, ex-rainha da Espanha, Philippe, Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza européia.[205][206] Também estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente Sadi Carnot, os presidentes do Senado e da Câmara,[191] assim como senadores, deputados, diplomatas e outros representantes do governo francês.[207] Quase todos os membros da Academia Francesa, do Instituto de França, da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e Belas-Artes também participaram.[191][204] Entre os presentes, estavam: Eça de Queiroz,[191] Alexandre Dumas, fils, Gabriel Auguste Daubrée, Jules Arsène Arnaud Claretie, Marcellin Berthelot, Jean Louis Armand de Quatrefages de Bréau, Edmond Jurien de la Gravière, Julius Oppert, Camille Doucet e outros.[204][205] Representantes de outros governos, tanto do continente americano, quanto europeu se fizeram presentes, além de países longínquos como Turquia, China, Japão e Pérsia,[207] com a exceção do Brasil.[191][205]

Em seguida os caixões foram levados em cortejo até a estação de trem, de onde partiria para Portugal. Apesar da chuva incessante e da temperatura extremamente baixa,[200] entre 200 mil[191] a 300 mil[208] pessoas assistiram ao evento. As tropas militares francesas que fizeram parte do cortejo eram compostas por 80 mil homens.[209] Duas carruagens levavam quase 200 coroas de flores. Nelas, estavam escritas mensagens homenageando o Imperador, tais como: "A D. Pedro, Vitória R.I.",[208] "Dos Voluntários da Pátria ao grande Imperador por quem se bateram Caxias, Osório, Andrade Neves e tantos outros heróis.",[208][210] "Um grupo de brasileiros estudantes em Paris.",[208] "Tempos felizes em que o pensamento, a palavra e a pena eram livres, que o Brasil libertava povos oprimidos…"(enviada pelo Barão de Ladário, Marquês de Tamandaré, Visconde de Sinimbu, Rodolfo Dantas, Joaquim Nabuco e Taunay),[208] "Ao grande brasileiro benemérito da Pátria e da Humanidade. Ubique Patria Memor."(enviada pelo Barão do Rio Branco),[208] "Os Rio-Grandenses ao rei liberal e patriota."[208] e "Um negro brasileiro em nome de sua raça".[208]

A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, próximo a Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças em 12 de dezembro, entre os de sua madrasta Amélia e de sua esposa, Teresa Cristina.[211][212] Em todos os locais que os caixões passaram, tanto na França, quanto como na Espanha, e por último, em Portugal, foram realizadas homenagens. Como sempre, com a exceção do Governo brasileiro republicano.[211]

Repercussão à morte do Imperador
Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande repercussão que tivera a morte do imperador", negaram a possibilidade de qualquer manifestação oficial.[213] Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de Pedro II, a "repercussão no Brasil foi também imensa, apesar dos esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos".[211] De acordo com o dr. João Mendes de Almeida, em artigo escrito em 7 de dezembro de 1891: "A notícia do passamento de S. M. o Imperador D. Pedro II vem pôr à prova os sentimentos da nação brasileira com a dinastia Imperial. A consternação tem sido geral".[214][215] Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime monárquico",[215] de maneira que a "República se calou diante da força e do impacto das manifestações".[213]

A polícia foi enviada para impedir manifestações públicas de pesar, "provocando sérios incidentes […] enquanto o povo se solidarizava com os manifestantes".[216] Uma reunião popular com o objetivo de homenagear o falecido imperador foi realizada no dia 9 de dezembro, tendo sido organizada pelo Marquês de Tamandaré, Visconde de Ouro Preto, Visconde de Sinimbu, Barão de Ladário, Carlos de Laet, Alfredo d'Escragnolle Taunay, Rodolfo Dantas, Afonso Celso e Joaquim Nabuco.[217] Até mesmo os antigos adversários políticos de Pedro II elogiaram o monarca deposto, mesmo que "criticando sua política, ressaltavam sempre seu patriotismo, honestidade, desinteresse, espírito de justiça, dedicação ao trabalho, tolerância, simplicidade".[218] Quintino Bocaiúva, um dos principais líderes republicanos, falou: "O mundo inteiro, pode-se dizer, tem prestado todas quantas homenagens tinha direito o Sr. Dom Pedro de Alcântara, conquistadas por suas virtudes de grande cidadão".[211] Alguns "membros de clubes republicanos protestaram contra o que chamaram de exagerado sentimentalismo das homenagens, vendo nelas manobras monarquistas. Foram vozes isoladas".[211]

A reação no exterior foi igualmente simpática ao monarca. O New York Times do dia 5 de dezembro elogiou Pedro II, considerando-o "o mais ilustrado monarca do século" e afirmando que "tornou o Brasil tão livre quanto uma monarquia pode ser".[219] The Herald escreveu: "Numa outra era, e em circunstâncias mais felizes, ele seria idolatrado e honrado por seus súditos e teria passado a história como ‘Dom Pedro, o Bom’".[220] The Tribune afirmou que seu "reinado foi sereno, pacífico e próspero".[220] The Times publicou um longo artigo: "Até novembro de 1889, acreditava-se que o falecido Imperador e sua consorte fossem unanimemente adorados no Brasil, devido a seus dotes intelectuais e morais e seu interesse afetuoso pelo bem-estar dos súditos […] Quando no Rio de Janeiro ele era constantemente visto em público; e duas vezes por semana recebia seus súditos, bem como viajantes estrangeiros, cativando a todos com sua cortesia".[220] O Weekly Register, por sua vez: "Ele mais parecia um poeta ou um sábio do que um imperador, mas se lhe tivesse sido dada a oportunidade de concretizar seus vários projetos, sem dúvida teria feito do Brasil um dos países mais ricos do Novo Mundo".[221] O periódico francês Le Jour afirmou que "ele foi efetivamente o primeiro soberano que, após nossos desastres de 1871, ousou nos visitar. Nossa derrota não o afastou de nós. A França lhe saberá ser agradecida".[199] Sobre o monarca, o The Globe asseverou que ele "era culto, ele era patriota; era gentil e indulgente; tinha todas as virtudes privadas, bem como as públicas, e morreu no exílio".[222]

Legado
Post mortem
A monarquia "caiu quando atingia se ponto mais alto de popularidade" entre a maior parte da população brasileira.[223] Indiferentes aos novos heróis republicanos, como Tiradentes, os brasileiros se mantinham apegados a figura do Imperador popular, pois o consideravam "um herói da gente [povo], um filho da terra".[224] Pois, pelo "físico, pelo temperamento, pelas circunstâncias, ninguém estava mais apto do que D. Pedro II a encarnar o tipo simbólico de pai do povo".[225] Esta imagem era ainda maior forte perante a população afro-descendente que acreditava que a monarquia "continuava estranhamente a representar, mesmo que metaforicamente, a libertação".[226] Os afro-brasileiros demonstravam o seu sentimento de lealdade ao monarca de maneiras sutis, através de tatuagens da coroa imperial no corpo.[227]


Para os brasileiros, o Imperador Pedro II é a representação típica da figura paterna sábia, benevolente, austera e honesta.Pelas cidades do país eram cantadas músicas populares que refletiam o sentimento geral: "Saiu d. Pedro Segundo/ Para o reino de Lisboa./ Acabou-se a monarquia/ O Brasil ficou a toa",[228] assim como "A mãe do Deodoro disse: "Este filho já foi meu/ Agora tá amaldiçoado/ De minha parte e de Deus".[228] Pois entre "os grandes – e poucos – nomes de nossa história que têm espaço no imaginário popular, está certamente a figura de Dom Pedro II. Sua imagem é a de um governante sábio, benevolente, austero e honesto".[229] Era "como se uma nova mística se abatesse sobre a população, vinculando a má sorte da República, e os problemas de ordem política e econômica, à partida de d. Pedro II."[230] Pedro II era visto como um herói popular, e aos poucos seria "reintroduzido lentamente como um herói oficial".[228]

Surpreendentemente, entre os republicanos surgiu um forte sentimento de culpa, "que se tornava mais e mais evidente após a morte de d. Pedro".[231] Na "memória, a monarquia estava ainda viva, assim como um certo sentimento de remorso".[224] Os republicanos "reconsideravam o longo banimento e ponderavam sobre a severidade da atitude".[232] Acreditavam que Pedro II merecia ter tido um fim melhor. Ocorreu que muitos "homens responsáveis pela República passaram a ver nos tempos do Império a época feliz, a idade de ouro, para sempre acabada".[233] Surgiu "um sentimento de que houve um tempo em que o Brasil era mais respeitável, mais honesto, mais poderoso".[229] Havia uma "estranha insistência em elogiar D. Pedro II e o regime monárquico" em "vários políticos republicanos", inclusive os "de maior projeção".[234] Não que desejassem a restauração, mas acreditavam que a República brasileira poderia aprender com os acertos do regime deposto. Assim, Pedro II "se tornava, paradoxalmente, um modelo dos ideais republicanos".[235] Para "os republicanos, d. Pedro aparecia como o melhor deles; para os monarquistas o elogio era, claro, outro".[235]

Após a morte do monarca, os apelos pelo retorno de seu corpo ao país se tornaram comuns ao longo dos anos. O jornal A Cidade do Rio afirmou que "o Brasil é tão grande que não pode lhe negar os minguados palmos de um pedaço de terra" e exigiu: "Mandem-no buscar".[217] A Gazeta da Tarde afirmou que Pedro II merecia um funeral oficial no país.[217] Em 1895, Afonso Celso escreveu no Comércio de São Paulo: "os despojos de D. Pedro não podem continuar a jazer em território estrangeiro".[236] Em 1906 Olavo Bilac demandou: "A pátria reclama o teu corpo e há de tê-lo".[236] O Jornal do Comércio, por outro lado, acreditava que "um dia talvez, quando as paixões tiverem perdido a sua agudez, hão de descansar aqui os seus restos mortais".[217]

O fim do banimento
Um projeto de lei na Câmara de Deputados Federais que autorizava o translado do corpo de Pedro II e sua esposa, e que contava com o apoio de republicanos históricos, foi arquivado frente à exigência da Princesa Isabel de que permitira tal somente se o banimento de sua família fosse extinto.[236] A inauguração de uma estátua do Imperador em Petrópolis em 5 de fevereiro de 1911 contou com a participação de mais de mil e quinhentas pessoas, inclusive com os membros do governo federal.[237] Diversas estátuas do monarca foram inauguradas ao longo dos anos seguintes por todo o país.[238] Logo em seguida um manifesto escrito em conjunto pelos ex-presidentes do Conselho de Ministros do Império, Lafaiete, Ouro Preto e João Alfredo declarou que "atento o amor que os brasileiros conservam aos seus soberanos, convém à transladação para cá dos venerandos restos mortais que estão lá em São Vicente de Fora".[237]

Um novo projeto de Lei que revogaria o banimento foi discutido e votado na Câmara em 1913.[239] O deputado federal e republicano Irineu Machado que participou das discussões alegou que havia "pretextos fúteis" que negavam "justiça à memória do imperador".[239] Outro deputado, Martim Francisco de Andrada afirmou que "D. Pedro II saiu pobre, deixando o país rico; não era justo que se manifestassem contra, os que estão ricos e deixam o país pobre."[239] Por sua vez, o deputado Pedro Moacir acreditava que o retorno dos restos mortais seria "à perpétua gratidão da posteridade, teria este, o de ter sido o mais clemente, o mais tolerante de todos os monarcas de seu tempo".[240] O deputado Maurício de Lacerda aproveitou a oportunidade para realizar um desabafo que havia se tornado comum: "acentue que agora é que estão desaparecendo os traços da obra política dele [do Imperador] – a moralidade."[241] No Senado, contudo, o projeto foi recusado graças a intervenção do caudilho e republicano radical Pinheiro Machado.[241] Em 1914, entretanto, seria de Rui Barbosa , o último dos republicanos que realizaram o golpe de 1889 (e também quem ordenou o banimento ), que viria o mais famoso discurso em homenagem a Dom Pedro II:

"A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. […] De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime [na Monarquia], o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante [Dom Pedro II], de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade"

Apenas dois anos mais tarde, em 1916, o presidente Venceslau Brás autorizou o retorno dos corpos e da extinção do banimento, mas optou por esperar para formalizar o ato após o término da I Guerra Mundial.[241] Seu sucessor, Epitácio Pessoa, assinou a lei (com uma pena de ouro oferecida pela Associação Brasileira de Imprensa) em 3 de setembro de 1920 que revogava finalmente o banimento e permitia o translado dos corpos.[241] Rui Barbosa falou que os "que fizeram a república federativa não têm reivindicações contra as cinzas do velho imperador, cujas virtudes eram muito maiores do que os seus defeitos".[242] E concluiu: "Na própria galeria republicana há, portanto, um lugar, e grande, para D. Pedro II".[242]

O Imperador retorna para casa
Em 1920 o encouraçado São Paulo trouxe para o Brasil os féretros imperiais.[242] O governo republicano português concedeu a Pedro II a exumação com honras de Chefe de Estado e o mesmo tratamento recebeu ao chegar ao Brasil.[242] O idoso Conde d´Eu, ao lado de seu único filho sobrevivente, Pedro de Alcântara, acompanhou o translado. Sua esposa, a princesa Isabel, estava idosa e enferma e não pôde vir. Morreria um ano depois sem ter visto a terra natal.[243] O presidente Artur Bernardes declarou feriado nacional e em todo o país festejou-se o retorno do Imperador.[235]

Para a solenidade principal no Rio de Janeiro veio o conselheiro Antônio Prado, o único ministro do Império ainda vivo.[243] Milhares de pessoas assistiram ao evento. Os "velhos choravam. Muitos ajoelhavam-se. Todos batiam palmas. Não se distinguiam mais republicanos e monárquicos. Eram brasileiros".[243] Contudo, "a recondução oficial da figura de d. Pedro como herói nacional se daria mesmo em 1922, grande festa de comemoração do centenário da independência do Brasil" quando o monarca foi bastante comemorado.[232]

Três anos mais tarde, os brasileiros espontaneamente comemoram o centenário de Pedro II. Havia uma clara "desproporção entre o entusiasmo gerado pelas festividades em torno do natalício de d. Pedro e o pouco-caso pelo aniversário da República, que completava, então, 36 anos".[244] O presidente Artur Bernardes reconheceu a popularidade do monarca e afirmou que não recusaria "ao Imperador a justiça que se lhe deve. Ele amou o Brasil e enquanto teve forças e energia procurou servi-lo rodeando-se dos melhores elementos de época".[245] Dom Pedro II se tornou, novamente, o "pai da pátria".[246]

Seu corpo seria mantido temporariamente na antiga Catedral do Rio de Janeiro até o término da construção da Catedral de Petrópolis.[243] O enterro definitivo ocorreria somente em 5 de dezembro de 1939, quando o ditador Getúlio Vargas utilizou a oportunidade em benefício próprio para angariar popularidade (tal qual Mussolini em relação ao funeral de Anita Garibaldi em 1931),[247] para inaugurar a capela mortuária na catedral de Petrópolis onde os restos mortais do Imperador e de sua esposa foram depositados.[248]

Posteridade
De sua esposa, D. Teresa de Bourbon, princesa das Duas Sicílias (1822-1889):

D. Afonso Pedro de Bragança e Bourbon, príncipe imperial do Brasil (1845-1847).
D. Isabel Leopoldina de Bragança e Bourbon, princesa do Brasil (1846-1850), princesa imperial do Brasil (1850-1921), casou-se com Gastão de Orléans, conde d'Eu.
D. Leopoldina Teresa de Bragança e Bourbon, princesa do Brasil (1847-1871), casou-se com o príncipe Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota.
D. Pedro Afonso de Bragança e Bourbon, príncipe imperial do Brasil (1848-1850).

Ascendência
Ancestrais de Pedro II do Brasil


16. João V de Portugal


8. Pedro III de Portugal


17. Maria Ana de Áustria



4. João VI de Portugal



18. José I de Portugal


9. Maria I de Portugal



19. Mariana Vitória de Espanha



2. Pedro I do Brasil (IV de Portugal)



20. Carlos III de Espanha



10. Carlos IV de Espanha



21. Maria Amália da Saxónia



5. Carlota Joaquina de Bourbon



22. Filipe, Duque de Parma



11. Maria Luísa de Parma



23. Princesa Luísa Isabel de França



1. Pedro II do Brasil



24. Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico



12. Leopoldo II, Imperador da Alemanha



25. Maria Teresa de Áustria



6. Francisco II, Imperador da Alemanha



26. Carlos III de Espanha (= 20)



13. Maria Luísa de Espanha



27. Maria Amália da Saxónia (= 21)



3. Maria Leopoldina da Áustria



28. Carlos III de Espanha (= 20)



14. Fernando I das Duas Sicílias



29. Maria Amália da Saxónia (= 21)



7. Maria Teresa das Duas Sicílias



30. Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico (= 24)



15. Maria Carolina de Áustria



31. Maria Teresa de Áustria (= 25)





Títulos
1825-1831: Sua Alteza Imperial O Príncipe Imperial do Brasil dom Pedro de Alcântara
1831-1889: Sua Majestade Imperial, dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.
1889-1891: Nenhum. Passou a assinar sempre como "dom Pedro de Alcântara".

Representações na cultura
Dom Pedro II já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Marcelo Picchi na novela Helena (1987), Philippe Noiret no filme O Jovem Toscanini (1988), Carlos Kroeber nas minisséries Abolição (1988) e República (1989), Cláudio Corrêa e Castro na novela Sangue do Meu Sangue de 1969 e por Sylvio Band no remake de 1995 no SBT, Antonio Pedro no filme Policarpo Quaresma, Herói do Brasil (1998), Rodrigo Penna no filme Mauá - O Imperador e o Rei (1999), Cláudio Marzo no filme O Xangô de Baker Street (2001), Ricardo Pavão na novela Bang Bang (2005), e Guillermo Hundadze (na infância) e Sérgio Britto (na velhice), no especial de fim de ano da TV Globo O Natal do Menino Imperador (2008).

Na literatura, merece destaque o romance do francês Jean Soublin, Je suis l´empereur du Brésil (1996), traduzido no Brasil Dom Pedro II, o Defensor Perpétuo do Brasil. Memórias Imaginárias do Último Imperador, em que o ex-imperador, exilado na França, rememora filosoficamente passagens de sua vida. Foi retratado sob o nome de Jean Theodore, príncipe erudito mas entediado com as cerimônias do poder, no romance Les Pléiades, do conde de Gobineau (1875). Também se diz que inspirou um personagem de Julio Verne, o rei de Malecarlie, da obra A ilha à hélice (1895), que abandonara o poder para se dedicar à astronomia.[249] Também faz uma breve aparição no romance de Machado de Assis, Dom Casmurro (1899). Mais recentemente apareceu no romance humorístico de Jô Soares, O Xangô de Baker Street (1995).

Também teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 100 (cem cruzeiros), de 1949, nas de Cr$ 10 (dez cruzeiros), de 1970, e cunhada no verso das moedas de réis em circulação no Brasil entre 1840 e 1889.

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