por Gerson Camarotti e Luiza Damé - O Globo
BRASÍLIA - Duas mulheres vão suceder à ministra Dilma Rousseff na Casa Civil a partir de abril, quando ela deixará o governo para disputar a eleição presidencial. Depois de forte resistência de setores do PT, a ministra vai emplacar como titular da pasta a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que ganhou notoriedade no auge do escândalo do cartão corporativo .
Mas Erenice terá o cargo de ministra esvaziado. O comando do chamado G-PAC, a gerência do principal programa do governo Lula, ficará com a petista Miriam Belchior. Ela já é a atual coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento e subchefe de Articulação e Monitoramento da pasta. Erenice é muito próxima e pessoa de total confiança de Dilma. Miriam, da mesma forma, do presidente Lula.
Essa é a solução desenhada pelo presidente para manter o prestígio de Dilma no governo e também contemplar lideranças petistas incomodadas com a ascensão de Erenice. Com a definição, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que foi cotado para a Casa Civil e vinha sendo chamado por alguns de "Tio do PAC", deve deixar o governo, também em abril, para disputar mandato de deputado federal.
O desgaste político que o governo pode sofrer com a efetivação de Erenice na Casa Civil não é mais motivo de preocupação de Lula nem de Dilma, garantem pessoas próximas dos dois. No auge do escândalo do cartão corporativo, há dois anos, ela foi apontada como a responsável por elaborar um dossiê com os gastos secretos da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Erenice ficou no olho do furacão durante a CPI do Cartão Corporativo, mas, com apoio de Dilma, foi mantida à distância da investigação pelas forças governistas. A avaliação que se faz hoje no governo é que esse episódio não afetará sua nomeação.
De acordo com um auxiliar direto do presidente, este é um governo que em sete anos já passou por várias crises e já "apanhou muito". Por isso, não haveria qualquer incômodo com críticas à nomeação de Erenice. Por essa avaliação, os ataques internos e externos durariam cerca de uma semana, dez dias, no máximo. Mas, depois, a rotina seria normal, sem prejuízo para a futura gestão de Erenice.
Braço direito da ministra, Erenice foi cotada ano passado para assumir uma vaga de ministra no Tribunal de Contas da União (TCU). Mas Lula foi alertado que o nome dela sofreria grande resistência na aprovação pelo Congresso. Temendo uma derrota do governo, o nomeado pelo presidente foi o ex-ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro , ex-deputado com trânsito no Legislativo.
Assessora foi cogitada para o STM
Erenice também foi cogitada para assumir uma vaga de ministra do Superior Tribunal Militar. Mas o pleito nem chegou a ser considerado.
Mesmo com a nítida preferência de Dilma por sua aliada, para substituí-la na Casa Civil, no PT havia forte pressão da cúpula para emplacar no cargo Miriam Belchior. O presidente Lula decidiu, então, manter o critério de empossar secretários-executivos no lugar dos titulares que vão sair para disputar mandatos eletivos, mas com um formato diferente na Casa Civil.
A justificativa é que a intenção é manter o ritmo da administração, com Miriam passando a ser a "comandante-chefe" do PAC - com o aval de Dilma, claro. A avaliação de um ministro é que ficaria difícil de explicar um veto explícito ao nome de Erenice.
Até então, o presidente dava sinais contraditórios. Sinalizou algumas vezes a preferência por Miriam. Em outras conversas, deixou a entender que respeitaria o critério de sucessão natural também na Casa Civil. Mas, recentemente, confirmou para Dilma sua decisão de nomear Erenice para o cargo.
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