Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

terça-feira, 7 de agosto de 2012

MILÍCIAS NO RIO - Justiça bloqueia bens de milícia em Jacarepaguá

Objetivo é desarticular braço financeiro de grupo chefiado pelo ex-vereador Girão, preso desde 2009

O GLOBO

Ex-vereador Cristiano Girão é denunciado pelo Ministério Público por envolvimento com milícia na Zona Oeste do Rio
LUIZ MORIER (ARQUIVO) / O GLOBO

RIO - A milícia que domina a comunidade da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, sob o comando do ex-vereador Cristiano Girão, preso desde 2009, sofreu nesta segunda-feira dois ataques da Justiça: além de decretar nova prisão preventiva do político e de outros seis integrantes do grupo, a 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá determinou o bloqueio dos aluguéis de 22 imóveis na comunidade, que rendiam cerca de R$ 80 mil mensais à quadrilha. Os aluguéis serão depositados em juízo.

A medida para quebrar o braço financeiro da milícia foi pedida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, com base em investigações da 32ª DP (Taquara). O juiz da 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá, Marco José Mattos Couto, determinou ainda o bloqueio do veículo usado por um dos milicianos para fazer a cobrança dos aluguéis na Gardênia Azul e conhecido pelos moradores como “caveirão da milícia”, segundo a denúncia do MP. Ainda de acordo com as investigações, os imóveis — alguns com até 15 unidades — foram erguidos com o dinheiro das atividades criminosas da quadrilha. Eles eram alugados aos moradores por meio de contratos que davam uma fachada de legalidade ao lucro da milícia.

Entre os seis milicianos comandados por Girão que tiveram a prisão preventiva decretada nesta segunda-feira, há quatro já presos e condenados no mesmo processo do ex-vereador, que recebeu pena de 14 anos de reclusão pela acusação de chefiar a milícia local. Com a nova prisão preventiva, Girão perde o direito à progressão de regime na pena. Os dois milicianos que ainda estavam em liberdade — Fábio de Souza Salustiano, o Rolamento, e Robson Dias Delgado, o Índio — foram presos ontem num cerco à favela. Na Associação de Moradores da Gardênia Azul, a polícia apreendeu mais de cem cópias de chaves dos imóveis da milícia, R$ 15 mil em notas de euro, dólar e real, e documentos. A associação não foi fechada, mas teve a presidente e a vice-presidente afastadas pela Justiça, que também proibiu, a pedido do MP, que a mulher e a irmã de Girão voltem a visitá-lo no presídio. Elas são acusadas de repassar ordens dele à quadrilha.

Em novembro de 2011, o ex-vereador Cristiano Girão foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a 14 anos, seis meses e seis dias de prisão, em regime fechado. Preso em 2009, ele foi considerado culpado pelos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Além do ex-vereador, três acusados de integrar o bando também foram condenados: o policial civil Wallace de Almeida Pires, o Robocop; o bombeiro Carlos Fernando de Souza, o Zeca (ambos a sete anos de reclusão por quadrilha armada, em regime fechado); e Solange Ferreira Vieira, primeira ex-mulher do Girão. Todos terão de cumprir quatro anos e oito meses de reclusão por lavagem de dinheiro, em regime semiaberto. Outras sete pessoas foram absolvidas.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, desde 1990 o bando cobrava dos comerciantes do bairro contribuições semanais em dinheiro em troca de segurança. Ainda segundo o MP, a quadrilha ainda obtém pagamentos de pessoas que exploram o transporte alternativo de passageiros, o comércio de botijões de gás e a distribuição clandestina de sinal de televisão a cabo.


Em outubro do ano passado, a Mesa Diretora da Câmara de Vereadores do Rio decretou por unanimidade (cinco votos a zero) a perda de mandato declarado do vereador Cristiano Girão. Girão foi o primeiro vereador a perder o mandato na História do Legislativo municipal. A punição, devido ao número de faltas, é prevista pelo regimento interno quando um vereador deixa de comparecer a 30% das sessões legislativas.

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