Traficantes e viciados transformam área próximo à linha do trem em território sem lei
POR MAHOMED SAIGG
Rio - Numa das regiões mais perigosas do Rio de Janeiro, conhecida como ‘Faixa de Gaza’, em Manguinhos, Zona Norte, o canteiro de obras do PAC está cercado pelo crack. Viciados na ‘droga da morte’, homens, mulheres e até crianças passam o dia se drogando e perambulando pelo local.
Encurralados, operários do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), projeto do governo federal, ainda são obrigados a conviver com o vaivém de traficantes armados, que circulam exibindo fuzis e pistolas. A facilidade de se conseguir a droga, que pode ser comprada por apenas R$ 2, também já levou trabalhadores da obra a experimentar o crack.
Arte: O Dia
Durante três semanas, equipe de O DIA acompanhou a rotina no canteiro de obras onde está sendo construído elevado para passar uma linha de trem, entre as estações de Manguinhos e Bonsucesso. Com uma microcâmera, foi possível caminhar pelo local, alvo de operação da Polícia Militar na sexta-feira. Os trabalhos no canteiro tiveram que ser interrompidos por causa do intenso tiroteio.
Conforto na 'boca'
Seguindo os passos dos viciados, no ‘quintal’ da obra do PAC ainda foi possível descobrir uma boca de fumo, instalada a poucos metros da estação de trem de Manguinhos. No local, como prova da ousadia dos criminosos, eles colocaram até um sofá para garantir a comodidade dos ‘vapores’ que trabalham na boca.
Jogados na linha férrea, sob o efeito devastador do crack, os viciados desafiam a morte. Sem se dar conta do risco de serem atropelados pelos trens da SuperVia, alguns chegam a sentar nos trilhos para consumir a droga
Nem a aproximação das composições intimida os dependentes. Diante do aviso desesperado dos maquinistas dos trens através de buzinas, eles se limitam a mover-se apenas alguns centímetros, enquanto aguardam a passagem das composições. Em seguida, voltam ao lugar e continuam a se drogar com naturalidade. A presença de estranhos também não intimida viciados.
Barraco improvisado os mais assíduos
Frequentadores assíduos do local, alguns usuários do crack improvisam até barracos de madeira, montados às margens da linha férrea. Em outro ponto da cracolândia de Manguinhos, viciados dormem em colchões e até jogados no chão, em meio ao lixo, ratos e insetos.
Apenas uma tela separa a cracolândia das obras do PAC, de onde é possível sentir até o cheiro da droga | Foto: Reprodução de vídeo
Especialista no tratamento de dependentes químicos, a psiquiatra Maria Thereza Aquino destacou a necessidade de se acabar com os atalhos que levam às bocas de fumo.
“A facilidade de acesso à droga é um poderoso estímulo para que a pessoa comece a fazer uso dela. No caso do crack, o baixo custo e os efeitos alucinógenos provocados acabam escravizando os usuários em pouco tempo”, ressalta a especialista, que coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade do Estado do Rio (Uerj).
Procurada por O DIA para comentar a situação nas proximidades da obra do PAC, a Secretaria de Segurança Pública do Rio enviou apenas declarações do comandante do 22º BPM (Maré), coronel Cláudio Oliveira. No texto, ele destaca as recentes operações policiais realizadas na favela de Manguinhos, e promete intensificar os trabalhos de combate ao tráfico de drogas na região.
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