Um total de 159 policiais de UPPs — efetivo maior que o da pacificadora do Santa Marta ou do Salgueiro — anunciam em uma espécie de balcão de negócios na internet seus postos de trabalho, pedindo para serem transferidos para outras unidades da Polícia Militar. Alguns desses soldados afirmam querer ir para batalhões perto de casa. Outros querem deixar a vitrine da segurança pública do Rio por qualquer outra unidade da PM. Há também policiais que decidiram pedir transferência por não concordar com supostas atitudes erradas de seus comandantes.
Hospedado pelo site Co$Fiel de Apoio ao Policial, criado por um major da Polícia Militar, o site se propõe a servir de banco de dados de vagas, formalizando uma prática antiga dentro da polícia. O anúncio de policiais lotados em UPPs — e os motivos por eles expostos para deixar as pacificadoras — revela, porém, outras faces sobre o processo de pacificação, que $conta com cerca de 3.100 policiais militares.
A gratificação de R$ 500 e a escala de trabalho — às vezes mais vantajosa do que a dos batalhões — não são vistas como benefícios de se atuar em UPPs. Embora todos anunciem as gratificações para atrair colegas para as vagas, os próprios admitem que não se importam tanto em perder o dinheiro. O soldado $Alves Tavares Ferreira, hoje lotado na UPP do Morro dos Macacos, não tem aguentado a distância.
— É longe da minha casa. Moro em Realengo, pegar a Avenida Brasil de manhã é difícil. Prefiro o conforto e abro mão dos R$ 500 em troca dos R$ 350 que ganho nos batalhões — explica Rodrigo, referindo-se ao bônus (incerto) pelo cumprimento de metas.
Alguns policiais, como o soldado João Patrício da Costa Silva, hoje no afirmam preferir o trabalho tradicional dos batalhões. Hoje já transferido, João tinha entre suas possibilidades um leque amplo de batalhões, das zonas Norte ou Oeste. Queria era deixar a UPP do Andaraí.
— Era vontade de ir trabalhar na rua. Eu gosto do trabalho de rua — afirmou.
Há também policiais que não se adaptaram ao comandante e às peculiaridades da favela em que atuam. Hoje transferido para a UPP do São João, o soldado Rodrigo Machado de Souza não gostava de trabalhar na Cidade de Deus. Discordava de atitudes do ex-comandante, capitão José Luiz de Medeiros.
— No antigo comando (de Medeiros), o baile era liberado. Havia uso de drogas e funk de apologia ao crime. As viaturas eram baseadas em locais sem ocorrências e, nos lugares onde avisávamos que tinha tráfico, ficava sem carro nenhum — afirma Rodrigo.
Coronel diz que permuta é normal
O Comando de Polícia Pacificadora (CPP) defendeu Medeiros.
"Os bailes eram autorizados com parâmetros pré-determinados. Quanto às viaturas, a ação baseava-se na mancha criminal, para reduzir a criminalidade", disse o CPP em nota.
Sobre o site de permutas citado na reportagem, o comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, acha que a iniciativa retrata uma prática interna.
— A iniciativa só não é oficial porque o contato para permuta sempre foi informal.
— Há policiais que desejam ganhar a gratificação das UPPs, além de terem experiência de policiamento comunitário. Outros querem ficar perto de casa.
Uma pesquisa feita no fim de 2010 pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) com 359 policiais de UPPs revelou que 70% dos entrevistados preferiam ser transferidos para batalhões.
— Chama a atenção é que recebem uma gratificação para atuar em UPPs e mesmo assim querem sair — disse a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Cesec.
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