Batalhão de Choque e Bope vão ficar por tempo indeterminado em três favelas de Santa Teresa; comandante e PMs de unidade são afastados
Publicada em 11/09/2011 às 23h33m
Pablo Rebello (pablo.rebello.personale@oglobo.com.br)
RIO - Pela primeira vez, a polícia intervém em favelas já pacificadas com suas tropas de elite, os batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Choque - que deverão ficar nas comunidades por tempo indeterminado - e afasta comandante, subcomandante e PMs de uma Unidade de Polícia Pacificadora. O alvo dessas medidas é a UPP inaugurada há apenas seis meses nos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa. O anúncio das mudanças foi feito no domingo pelo comandante-geral da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte, e pelo chefe do Comando de Polícia Pacificadora, coronel Robson Rodrigues. A PM evitou usar a palavra "intervenção" e, por meio de sua assessoria, afirmou que as ações são "ajustes" e não representam um retrocesso no projeto de pacificação. O comandante e o subcomandante da UPP sob investigação são, respectivamente, o capitão Elton Costa e o tenente Rafael Medeiros.
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A decisão foi tomada após ter vindo à tona uma investigação sobre o pagamento de propinas a 30 policiais da UPP, revelada pelo jornal "O Dia", para facilitar o tráfico de drogas na região. O esquema funcionaria como um mensalão estimado em cerca de R$ 53 mil mensais. Os traficantes fariam pagamentos fixos aos PMs de R$ 400 a R$ 2 mil. A Corregedoria de Inteligência da Polícia Militar, que investiga os policiais da unidade de Santa Teresa, teria informações de que os PMs que se recusavam a participar sofriam retaliação dos bandidos. Em junho, três PMs ficaram feridos numa explosão de granada - um deles perdeu uma perna - durante uma emboscada no Morro do Fallet.
Um outro incidente investigado foi a prisão de três PMs da UPP local com R$ 13 mil - em envelopes com nomes de policiais e valores entre R$ 100 e R$ 500 - na segunda-feira da semana passada, quando estavam de folga. A quantia foi achada por agentes da Corregedoria da Polícia Militar escondida no interior do veículo usado pelos PMs, num dos acessos ao Morro da Coroa. Um inquérito já havia sido instaurado na ocasião porque os PMs não explicaram a procedência do dinheiro. Agora, acredita-se que um sargento, que fazia parte do grupo, pode ser o operador da "caixinha" do tráfico. Escutas o teriam flagrado negociando valores para a retirada do policiamento de áreas onde há venda de drogas.
Policiais poderão ser expulsos
Segundo a reportagem, as investigações indicam que os valores da propina eram definidos de acordo com a patente de cada policial e sua influência na estruturação do policiamento. O levantamento do setor de inteligência da PM teria constatado que a repressão ao tráfico era afrouxada nos plantões dos policiais investigados. A estimativa é que 14,5% do efetivo de 206 policiais da UPP de Santa Teresa possam estar envolvidos no mensalão.
Em entrevista coletiva, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, e o chefe do Comando de Polícia Pacificadora, coronel Robson Rodrigues, não disseram se o comandante e o subcomandante da UPP também são suspeitos no caso de corrupção .
- Mesmo que não estejam envolvidos diretamente no esquema, é da conveniência que troquemos o comando daquela unidade - disse o coronel Robson.
Para o comandante Mário Sérgio Duarte é fundamental manter o sigilo das investigações neste momento:
- Precisamos manter o sigilo das investigações para que todos os policiais envolvidos sejam alcançados e levados a julgamento.
Precisamos manter o sigilo das investigações para que todos os policiais envolvidos sejam alcançados e levados a julgamento
O inquérito da PM que apura o caso deve ser concluído até o final desta semana. O comandante da PM afirmou que pretende adotar todas as medidas cabíveis para punir severamente os policiais corruptos, inclusive com a expulsão. Mas ele não revelou o número total de PMs que serão afastados. Os policiais suspeitos serão substituídos por outros trazidos do interior.
- Não nos interessa ter na corporação soldados que tomaram outro caminho. Essas pessoas devem ser afastadas para que sirvam de exemplo a outras - disse Mário Sérgio.
No sábado à noite, num confronto no Morro do Fogueteiro, um policial foi ferido no pescoço e no abdômen depois de cruzar, juntamente com outro PM, com um grupo de dez bandidos, todos armados, numa ronda de rotina . No domingo, a Secretaria de Segurança informou que o soldado Alexsandro Fávaro Rocha Coutinho, de 30 anos, poderá ficar tetraplégico. Formado na turma de 2009 com nota 8,6, ele estava nas ruas há apenas dois anos e meio. Apesar da gravidade da situação, o comandante Mário Sérgio afirmou que se trata de um caso isolado, que nada tem a ver com a realidade de outras 16 UPPs da cidade.
O clima era tenso no domingo nos morros da região, com cerca de 13 mil moradores. Pela manhã, o policiamento era reforçado com homens do Batalhão de Choque e do 4º BPM (São Cristóvão).
- Não há nada pacificado. Está tudo dominado ainda. A diferença é que os traficantes não usam mais fuzis, só pistolas. A gente continua com medo de andar nas ruas - disse uma moradora, que pediu para não ser identificada.
COLABORARAM: Andréa Machado e Paolla Serra.
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