Carros da PM possuem kits gás, mas ainda são abastecidos com gasolina
Dois anos depois da assinatura do primeiro contrato da Secretaria estadual de Segurança com a empresa Júlio Simões Logística S.A. para fornecimento de 1.228 carros zero quilômetro e equipados com kit gás para a Polícia Militar, 998 novos veículos da corporação ainda são abastecidos com gasolina ou álcool.
Na compra do primeiro lote de viaturas com o kit, a Secretaria de Segurança anunciou que os 632 carros, que estavam sendo entregues e seriam abastecidos com gás natural veicular (GNV), gerariam uma economia de R$ 1 milhão por mês. Utilizando a média de redução de gastos que seria feita por cada veículo, chega-se a uma conta assustadora: R$ 33 milhões deixaram de ser economizados nestes 22 meses que as 998 viaturas com kit seguiram recebendo gasolina ou álcool. Segundo a Bi Gás, empresa que fez a instalação dos equipamentos para a Júlio Simões, cada conjunto custa R$ 1,7 mil, incluindo os custos de montagem. Multiplicando pelo número de kits inativos, estima-se que R$ 1,6 milhão dos cofres públicos estejam inutilizados nos porta-malas da PM. Somados esses dois casos, o desperdício alcança R$ 34,6 milhões.
Atualmente são abastecidos com GNV carros de apenas alguns batalhões subordinados ao 1 Comando de Policiamento de Área e ao Comando de Unidades Operacionais Especiais.
— Esse descaso é, no mínimo, falta de competência. É um duplo desperdício de dinheiro público: o estado está pagando mais caro pelas viaturas por conta da exigência do kit gás e também por continuar a usar gasolina, que custa mais que o GNV — afirmou o deputado Alessandro Molon (PT), da Comissão de Orçamento da Alerj.
Uma bomba de GNV para 230 veículos
A única bomba de GNV instalada até o momento funciona no pátio do 4º BPM (São Cristóvão), das 6h às 22h. A PM afirmou que abastece 230 viaturas com GNV, mas para cumprir esta missão — teoricamente, diária — são necessários 2.300 minutos (38h) ou dois dias e meio, considerando o expediente de 16h da bomba do quartel de São Cristóvão.
Cada Gol 1.6 possui dois cilindros de 8 metros cúbicos de gás. Já as Blazers possuem um cilindro de 18 metros cúbicos. De acordo com a Associação Brasileira do Gás Natural Veicular (ABGNV), com este combustível, é possível rodar 160 quilômetros, média diária para um veículo utilizado no patrulhamento urbano.
Segundo a ABGNV, o tempo médio para recarregar os cilindros de um Gol como o da polícia é de 10 minutos. Portanto, a única bomba de gás da PM só é capaz de abastecer 96 viaturas por dia. Para chegar a 230, ainda sobraria, no lado externo do batalhão, uma fila com 134 carros, o bastante para dar uma volta no quarteirão do 4º BPM.
Sem prazo para todos os carros usarem GNV
A Polícia Militar não sabe quando todas as viaturas com o kit gás trocarão a gasolina pelo GNV, combustível mais econômico. Só há uma certeza: a terceirização, anunciada como a solução para os problemas de sucateamento da frota, deu carona a um exemplo de investimento mal planejado que não tem data para acabar. Até o fim deste ano, quando termina o mandato do governador Sérgio Cabral, o dinheiro público continuará vazando pelo duto do gás do desperdício.
De acordo com a PM, “o abastecimento com GNV de todas as viaturas depende da construção de novos postos de abastecimento, pois é inviável para algumas unidades deslocarem-se até São Cristóvão em função da distância”.
O Detran informou que todos os veículos oficiais, incluindo carros da PM, também devem obter o Certificado de Segurança Veicular em uma oficina credenciada pelo Inmetro, as chamadas Instituições Técnicas Licenciadas (ITLs), para regularizar a situação do automóvel. Por serem da frota oficial do estado, os veículos da PM são isentos da taxa de vistoria do Detran. Entretanto, como a vistoria do kit gás é feita em oficinas terceirizadas, o Estado tem que arcar com as taxas cobradas.
Já a CEG, que fornece o gás disponibilizado no 4º BPM, informou que cobra do estado a tarifa vigente autorizada pela Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Agenersa) do segmento de GNV. Como a PM é um órgão do governo do estado, na tarifa do GNV não incide o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços, que é estadual.
Ainda de acordo com a CEG, uma outra bomba de GNV está sendo construída no pátio do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), em Sulacap. Além disso, está em estudo a construção de bombas semelhantes no 16º BPM (Olaria) e 23º BPM (Leblon).
A PM alegou que, com quatro postos, será possível alcançar cerca de 610 viaturas com GNV, atendendo as zonas Norte e Sul e parte da Zona Oeste. Segundo a corporação, licitações serão abertas para a contratação de postos de gás GNV que vão abastecer os carros da Zona Oeste, Baixada, Niterói e interior.
Críticas nas ruas
Alguns PMs ouvidos pelo EXTRA nas ruas da cidade elogiaram a terceirização da frota da corporação, mas criticaram o kit gás.
— Numa perseguição, o carro perde potência quando utilizamos o GNV. Concordo que o uso do gás é uma forma de o estado economizar, mas isso poderia ter sido feito com outros órgãos. Na polícia, atrapalha o nosso trabalho — disse um soldado do 4º BPM.
Outro policial teme por sua segurança:
— Não sei se uma bala de fuzil perfurar o cilindro pode fazer a viatura explodir. E isso é bem possível, já que os carros não são blindados.
Já um policial do 6º BPM (Tijuca) aprova a terceirização da frota, que resultou em melhores condições de trabalho.
— Já dirigi uma Blazer que só tinha a primeira, segunda e quinta marchas. Quando precisava dar marcha à ré, tinha que descer da viatura e empurrá-la. Hoje isso não acontece mais. Mas acho que o dinheiro gasto na instalação dos kits gás deveriam ter sido empregados de forma melhor. Mas já que o estado pagou pelos kits GNV, eles deveriam estar sendo utilizados.
De que forma o dinheiro desperdiçado com os kits gás nas viaturas da PM poderia ser melhor utilizado pelo governo do estado? Dê sua opinião.
Dois anos depois da assinatura do primeiro contrato da Secretaria estadual de Segurança com a empresa Júlio Simões Logística S.A. para fornecimento de 1.228 carros zero quilômetro e equipados com kit gás para a Polícia Militar, 998 novos veículos da corporação ainda são abastecidos com gasolina ou álcool.
Na compra do primeiro lote de viaturas com o kit, a Secretaria de Segurança anunciou que os 632 carros, que estavam sendo entregues e seriam abastecidos com gás natural veicular (GNV), gerariam uma economia de R$ 1 milhão por mês. Utilizando a média de redução de gastos que seria feita por cada veículo, chega-se a uma conta assustadora: R$ 33 milhões deixaram de ser economizados nestes 22 meses que as 998 viaturas com kit seguiram recebendo gasolina ou álcool. Segundo a Bi Gás, empresa que fez a instalação dos equipamentos para a Júlio Simões, cada conjunto custa R$ 1,7 mil, incluindo os custos de montagem. Multiplicando pelo número de kits inativos, estima-se que R$ 1,6 milhão dos cofres públicos estejam inutilizados nos porta-malas da PM. Somados esses dois casos, o desperdício alcança R$ 34,6 milhões.
Atualmente são abastecidos com GNV carros de apenas alguns batalhões subordinados ao 1 Comando de Policiamento de Área e ao Comando de Unidades Operacionais Especiais.
— Esse descaso é, no mínimo, falta de competência. É um duplo desperdício de dinheiro público: o estado está pagando mais caro pelas viaturas por conta da exigência do kit gás e também por continuar a usar gasolina, que custa mais que o GNV — afirmou o deputado Alessandro Molon (PT), da Comissão de Orçamento da Alerj.
Uma bomba de GNV para 230 veículos
A única bomba de GNV instalada até o momento funciona no pátio do 4º BPM (São Cristóvão), das 6h às 22h. A PM afirmou que abastece 230 viaturas com GNV, mas para cumprir esta missão — teoricamente, diária — são necessários 2.300 minutos (38h) ou dois dias e meio, considerando o expediente de 16h da bomba do quartel de São Cristóvão.
Cada Gol 1.6 possui dois cilindros de 8 metros cúbicos de gás. Já as Blazers possuem um cilindro de 18 metros cúbicos. De acordo com a Associação Brasileira do Gás Natural Veicular (ABGNV), com este combustível, é possível rodar 160 quilômetros, média diária para um veículo utilizado no patrulhamento urbano.
Segundo a ABGNV, o tempo médio para recarregar os cilindros de um Gol como o da polícia é de 10 minutos. Portanto, a única bomba de gás da PM só é capaz de abastecer 96 viaturas por dia. Para chegar a 230, ainda sobraria, no lado externo do batalhão, uma fila com 134 carros, o bastante para dar uma volta no quarteirão do 4º BPM.
Sem prazo para todos os carros usarem GNV
A Polícia Militar não sabe quando todas as viaturas com o kit gás trocarão a gasolina pelo GNV, combustível mais econômico. Só há uma certeza: a terceirização, anunciada como a solução para os problemas de sucateamento da frota, deu carona a um exemplo de investimento mal planejado que não tem data para acabar. Até o fim deste ano, quando termina o mandato do governador Sérgio Cabral, o dinheiro público continuará vazando pelo duto do gás do desperdício.
De acordo com a PM, “o abastecimento com GNV de todas as viaturas depende da construção de novos postos de abastecimento, pois é inviável para algumas unidades deslocarem-se até São Cristóvão em função da distância”.
O Detran informou que todos os veículos oficiais, incluindo carros da PM, também devem obter o Certificado de Segurança Veicular em uma oficina credenciada pelo Inmetro, as chamadas Instituições Técnicas Licenciadas (ITLs), para regularizar a situação do automóvel. Por serem da frota oficial do estado, os veículos da PM são isentos da taxa de vistoria do Detran. Entretanto, como a vistoria do kit gás é feita em oficinas terceirizadas, o Estado tem que arcar com as taxas cobradas.
Já a CEG, que fornece o gás disponibilizado no 4º BPM, informou que cobra do estado a tarifa vigente autorizada pela Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Agenersa) do segmento de GNV. Como a PM é um órgão do governo do estado, na tarifa do GNV não incide o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços, que é estadual.
Ainda de acordo com a CEG, uma outra bomba de GNV está sendo construída no pátio do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), em Sulacap. Além disso, está em estudo a construção de bombas semelhantes no 16º BPM (Olaria) e 23º BPM (Leblon).
A PM alegou que, com quatro postos, será possível alcançar cerca de 610 viaturas com GNV, atendendo as zonas Norte e Sul e parte da Zona Oeste. Segundo a corporação, licitações serão abertas para a contratação de postos de gás GNV que vão abastecer os carros da Zona Oeste, Baixada, Niterói e interior.
Críticas nas ruas
Alguns PMs ouvidos pelo EXTRA nas ruas da cidade elogiaram a terceirização da frota da corporação, mas criticaram o kit gás.
— Numa perseguição, o carro perde potência quando utilizamos o GNV. Concordo que o uso do gás é uma forma de o estado economizar, mas isso poderia ter sido feito com outros órgãos. Na polícia, atrapalha o nosso trabalho — disse um soldado do 4º BPM.
Outro policial teme por sua segurança:
— Não sei se uma bala de fuzil perfurar o cilindro pode fazer a viatura explodir. E isso é bem possível, já que os carros não são blindados.
Já um policial do 6º BPM (Tijuca) aprova a terceirização da frota, que resultou em melhores condições de trabalho.
— Já dirigi uma Blazer que só tinha a primeira, segunda e quinta marchas. Quando precisava dar marcha à ré, tinha que descer da viatura e empurrá-la. Hoje isso não acontece mais. Mas acho que o dinheiro gasto na instalação dos kits gás deveriam ter sido empregados de forma melhor. Mas já que o estado pagou pelos kits GNV, eles deveriam estar sendo utilizados.
De que forma o dinheiro desperdiçado com os kits gás nas viaturas da PM poderia ser melhor utilizado pelo governo do estado? Dê sua opinião.
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