Fazia 21 anos que o Corinthians não ganhava nada. Mas no dia 5 de dezembro de 1976, a sua fiel torcida daria a maior prova de amor a um time já vista no futebol. Valia a vaga na final do brasileirão. O jogo seria contra o Fluminense, a máquina tricolor, que tinha em seu grupo, nada menos que um dos maiores jogadores de todos os tempos, o ex-corinthiano Roberto Rivellino. Antes chamado de reizinho do Parque São Jorge, Rivellino foi execrado pela fiel como culpado pela perda do título paulista do ano anterior para o Palmeiras. Agora envergava as cores do tricolor das Laranjeiras. O jogo seria no Maracanã. E aconteceu o inesperado: mais de 70 mil torcedores corinthianos invadiram o Rio de Janeiro, no mais impressionante deslocamento motivado por uma partida de futebol de que se tem notícia. A fiel tomou metade do estádio e empurrou o time a frente. Ao final, debaixo de uma chuva torrencial, a partida terminou em 1x1. Nos pênaltis, o heróico goleiro Tobias defendeu duas cobranças e garantiu a vitória para o alvinegro e o delírio dos torcedores. Lamentavelmente, o Corinthians teria de enfrentar outra fabulosa máquina na final, o Internacional de Falcão e Figueroa. E não conseguiu resistir à força dos colorados.
Data: 05/12/1976 - Campeonato Brasileiro de 1976 - Corinthians 1 x 1 Fluminense - Local: Maracanã(Rio de Janeiro; Árbitro: Saul ; Público: 146.043; Renda: Cr$ 4.027.250,00;-Gols: Carlos Alberto Pintinho 19 e Ruço 29 do 1o. e nos Pênaltis: Neca, Ruço, Moisés e Zé Maria para o Corinthians; Doval para o Fluminense
Corinthians: Tobias, Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir; Givanildo (Basílio), Ruço e Neca; Vaguinho, Geraldão (Lance) e Romeu. Técnico: Duque
Fluminense: Renato, Rubens Galaxe, Carlos Alberto Torres, Edinho e Rodrigues Neto, Cléber (Erivélto) e Rivellino; Gil, Doval e Dirceu. Técnico: Mário Travaglini
Gols: Carlos Alberto Pintinho 18min e Ruço 29min 1º tempo
Pênaltis: Neca, Ruço, Moisés e Zé Maria para o Corinthians; Doval para o Fluminense
Fluminense: Renato, Rubens Galaxe, Carlos Alberto Torres, Edinho e Rodrigues Neto, Cléber (Erivélto) e Rivellino; Gil, Doval e Dirceu. Técnico: Mário Travaglini
Gols: Carlos Alberto Pintinho 18min e Ruço 29min 1º tempo
Pênaltis: Neca, Ruço, Moisés e Zé Maria para o Corinthians; Doval para o Fluminense
Narração: Osmar Santos (Na época ainda na Jovem Pan, em 1977 foi para a Globo)
versão do Canal100
E aqui segue um texto de Nélson Rodrigues, sobre a Invasão Corinthiana no Maracanã em 1976.
"Uma coisa é certa: não se improvisa uma vitória. Vocês entendem? Uma vitória tem que ser o lento trabalho das gerações. Até que, lá um dia,acontece a grande vitória. Ainda digo mais: já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate. Sim,quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.
Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ali, chegavam os corintianos, aos borbotões. Ônibus, aviação, carros particulares,táxis, a pé, a bicicleta.
A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia. Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar nos eu caderninho: "O Rio é uma cidade ocupada". Os corintianos passavam toda hora e em toda parte.
Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo. Pois ganha. Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time. Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel.Um amigo me perguntou: "E se o Corinthians perder?" O Fluminense era mais time. Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corintianos, quando faziam um prévio carnaval. Esse carnaval não parou. De manhã, acordei num clima paulista. Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam. Expliquei tudo a uma senhora, gorda epatusca. Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.
Não cabe aqui falar em técnico. O que influi e decidiu o jogo foi a torcida. A torcida empurrou o time para o empate. A torcida não parou de incitar. Vocês percebem? Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca."
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