por Augusto Nunes - Veja
16 de janeiro de 2010
Assim que o perigo passou, Nelson Jobim apareceu na zona conflagrada pronto para o que desse e viesse. Em caso de tsunami, baixaria numa praia do Haiti com a farda de almirante que ganhou na Rússia. Em caso de invasão espacial, sobrevoaria o Caribe com o traje de gala de brigadeiro francês. Como se tratava de um caso de terremoto, o ministro da Defesa incorporou o general Jobim e irrompeu em Porto Príncipe enfiado num uniforme de campanha.
A missão foi cumprida em três dias. No primeiro, o destemido forasteiro recomendou aos sobreviventes que hospitalizassem os feridos e enterrassem os mortos. No segundo, determinou aos militares brasileiros em ação na cidade sem água nem mantimentos que dessem de beber a quem tem sede e de comer a quem tem fome. No terceiro, descobriu que o governo brasileiro sofrera uma perda muito mais dolorosa que as provocadas pelo terremoto.
Jobim manteve a placidez de quem prepara um chimarrão no fim da tarde ao comentar a morte em combate da doce guerreira Zilda Arns, do diplomata Luiz Carlos da Costa e dos 14 jovens heróis engajados na força de paz da ONU. Isso acontece, sugeriu o sorriso de aeromoça. O que lhe pareceu insuportável foi a perda do controle do aeroporto da capital para os oficiais que lideram o contingente de 10 mil soldados americanos.
“Não podemos admitir o comando unilateral dos Estados Unidos”, avisou ao saber que os ianques, a pedido do governo do Haiti, haviam assumido a administração do aeroporto em colapso e normalizado o tráfego dos aviões — sem pedirem licença ao Brasil. Irritado com a insolência, Jobim perdeu a paciência de vez com a notícia de que cargueiros da FAB haviam sido impedidos de pousar na capital por controladores de voo americanos, que orientaram os pilotos na aterrissagem em em pistas menos inseguras.
“Tudo isso pode ser visto como algo natural”, concedeu o chanceler Celso Amorim, “mas é importante ter a clareza de que nós estamos sendo tratados com a prioridade adequada”. De novo no encalço de Hillary Clinton, desta vez à caça de tratamento especial para aeronaves brasileiras, Amorim tirou da maleta a fantasia em frangalhos. Agora nas montanhas de escombros, o Itamaraty voltou a procurar algum atalho que leve ao Conselho de Segurança da ONU.
O espetáculo do oportunismo rastaquera foi engrossado na sexta-feira pela embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luísa Viotti. “Estou em busca de informações sobre o caráter da presença das tropas americanas em Porto Príncipe”, revelou a diplomata, fustigada pela suspeita de sempre: depois de ter arrendado a Colômbia, o império de Barack Obama talvez tente a anexação do Haiti. Aliviou-se com a descoberta de que a missão é humanitária, mas ainda não sossegou. No momento, quer saber da Casa Branca se existe o risco de “interferências na missão de paz comandada por militares brasileiros”.
Segundo a ONU, uma nação miserável foi devastada pela maior tragédia ocorrida desde a fundação da entidade há 60 anos. Mergulhado no pesadelo incomparável, desprovido de tudo, o Haiti precisa de muito pão, mas no momento não precisa de circo. A trupe do governo está liberada para envergonhar o Brasil em outras paragens.
A missão foi cumprida em três dias. No primeiro, o destemido forasteiro recomendou aos sobreviventes que hospitalizassem os feridos e enterrassem os mortos. No segundo, determinou aos militares brasileiros em ação na cidade sem água nem mantimentos que dessem de beber a quem tem sede e de comer a quem tem fome. No terceiro, descobriu que o governo brasileiro sofrera uma perda muito mais dolorosa que as provocadas pelo terremoto.
Jobim manteve a placidez de quem prepara um chimarrão no fim da tarde ao comentar a morte em combate da doce guerreira Zilda Arns, do diplomata Luiz Carlos da Costa e dos 14 jovens heróis engajados na força de paz da ONU. Isso acontece, sugeriu o sorriso de aeromoça. O que lhe pareceu insuportável foi a perda do controle do aeroporto da capital para os oficiais que lideram o contingente de 10 mil soldados americanos.
“Não podemos admitir o comando unilateral dos Estados Unidos”, avisou ao saber que os ianques, a pedido do governo do Haiti, haviam assumido a administração do aeroporto em colapso e normalizado o tráfego dos aviões — sem pedirem licença ao Brasil. Irritado com a insolência, Jobim perdeu a paciência de vez com a notícia de que cargueiros da FAB haviam sido impedidos de pousar na capital por controladores de voo americanos, que orientaram os pilotos na aterrissagem em em pistas menos inseguras.
“Tudo isso pode ser visto como algo natural”, concedeu o chanceler Celso Amorim, “mas é importante ter a clareza de que nós estamos sendo tratados com a prioridade adequada”. De novo no encalço de Hillary Clinton, desta vez à caça de tratamento especial para aeronaves brasileiras, Amorim tirou da maleta a fantasia em frangalhos. Agora nas montanhas de escombros, o Itamaraty voltou a procurar algum atalho que leve ao Conselho de Segurança da ONU.
O espetáculo do oportunismo rastaquera foi engrossado na sexta-feira pela embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luísa Viotti. “Estou em busca de informações sobre o caráter da presença das tropas americanas em Porto Príncipe”, revelou a diplomata, fustigada pela suspeita de sempre: depois de ter arrendado a Colômbia, o império de Barack Obama talvez tente a anexação do Haiti. Aliviou-se com a descoberta de que a missão é humanitária, mas ainda não sossegou. No momento, quer saber da Casa Branca se existe o risco de “interferências na missão de paz comandada por militares brasileiros”.
Segundo a ONU, uma nação miserável foi devastada pela maior tragédia ocorrida desde a fundação da entidade há 60 anos. Mergulhado no pesadelo incomparável, desprovido de tudo, o Haiti precisa de muito pão, mas no momento não precisa de circo. A trupe do governo está liberada para envergonhar o Brasil em outras paragens.
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