Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 14 de janeiro de 2012

JUSTIÇA DO RIO - Prende Beltrami, Solta Beltrami

Ex-comandante do 7º BPM consegue habeas corpus para deixar prisão

POR VANIA CUNHA

Rio - Djalma Beltrami, ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo), conseguiu, na noite desta sexta-feira, habeas corpus que garante sua liberdade. O pedido foi feito pela defensora Cláudia Valéria Taranto e a decisão foi tomada no plantão judiciário.
O ex-comandante, que ficou cerca de 30 horas preso, ainda está no Quartel General da Polícia Militar, mas deve sair da unidade ainda nesta sexta-feira. Essa é a segunda prisão de Beltrami. A primeira, que aconteceu no dia 19 de dezembro, durou 44 horas.
Nesta quinta-feira, aconteceu a segunda. O coronel Djalma Beltrami foi preso por participação no esquema de pagamento de propinas no 7º BPM (São Gonçalo). O ex-comandante foi denunciado por tráfico e associação para o tráfico pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público à Justiça.
Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia
Justiça manda soltar o tenente-coronel Djalma Beltrami, após ser preso pela segunda vez | Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia
A acusação do Ministério Público é por ter se omitido na ação de policiais daquele quartel, que mantinham esquema de recebimento de propina no Morro da Coruja, São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.
“O coronel não cumpriu o seu dever de agir. Descobrimos que não havia repressão ao tráfico, assim como ao baile funk, que atraía bandidos de outras regiões. Depoimentos, gravações telefônicas autorizadas pela Justiça e o cruzamento de dados nos levam à convicção da participação do oficial”, afirmou o subchefe do Gaeco, promotor Marcelo Maurício Barbosa Arsênio. Outros 13 PMs subordinados a Beltrami e 27 criminosos também foram denunciados à Justiça.

Acusados de receber propina para não reprimir criminosos
A denúncia do Gaeco do Ministério Público acusa o coronel Djalma Beltrami, 13 comandados e outros PMs ainda não identificados de terem sido “cooptados pelo tráfico” e receberem “importâncias em dinheiro para não agir, permitindo o tranquilo funcionamento da organização criminosa”.
Segundo o Gaeco, “ante a omissão dos militares”, os traficantes conseguiam “transitar com material entorpecente, portar e negociar armas de fogo”.

Polêmico na arbitragem
O ex-comandante do 7º BPM, Djalma Beltrami, também fez carreira nos campos de futebol. O PM foi árbitro de futebol durante 22 anos e encerrou sua carreira no início do ano, quando completou 45 anos. Beltrami, que foi escolhido melhor árbitro do Rio em 2005 e 2006, também ficou famoso por partidas polêmicas. Ele apitou o jogo entre Flamengo e Botafogo na decisão do Estadual de 2007. No fim da partida, que terminou empatada em 2 a 2, o atacante Dodô, do Alvinegro, foi expulso após impedimento mal assinalado. O Flamengo ganhou na disputa de pênaltis.

O tenente-coronel também foi o árbitro da ‘Batalha dos Aflitos’, jogo decisivo entre Grêmio e Náutico na Série B, em 2005. Ele expulsou quatro jogadores do time gaúcho e marcou dois pênaltis para a equipe pernambucana, mas o placar terminou 1 a 0 para os gremistas.
Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Comandante se lamenta ao ser preso em sua chegada ao Batalhão para trabalhar | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Ele também recomeçou um jogo em 2009, após perceber que tinha encerrado a partida entre Santos x Atlético-MG antes do fim dos acréscimos. Aos 50 minutos, anulou um gol do Santos, que perdeu por 3 a 2.

Em 2007, no jogo entre Goiás e Internacional, que interferiu diretamente no rebaixamento do Corinthians, ele mandou repetir duas vezes a cobrança de pênalti do time goiano.

O presidente da Comissão de Arbitragem da Federação do Rio, Jorge Rabelo, destacou a atuação de Beltrami nos campos: “Sempre foi um ótimo árbitro”.

Mar de lama volta a inundar quartel de São Gonçalo

Segundo o delegado Alan Luxardo, escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelam esquema de pagamento de propina pelo tráfico do Morro da Coruja para que os agentes não combatessem o crime. Investigação aponta que PMs recebiam pagamentos de R$ 160 mil mensais. Foram expedidos 24 mandados de prisão temporária (30 dias), sendo 13 para PMs, por tráfico, associação e corrupção.

Beltrami foi preso às 8h30 do dia 19 de dezembro, quando chegou à unidade que comandava há três meses. Ele negou as acusações, disse que fez operações contra o tráfico e que complementava sua renda como árbitro de futebol, tarefa que desempenha há 22 anos. A PM vai pedir esclarecimentos sobre as circunstâncias e a motivação da prisão do coronel, que foi para o Batalhão de Choque. O advogado dele vai pedir a revogação da prisão. Os outros PMs foram para a Unidade Prisional, em Benfica.

Grampos mostram que os PMs do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 7º BPM negociavam propinas com o chefão do pó na Coruja, Maicon dos Santos, o Gaguinho. Num trecho, em 11 de setembro, a conversa foi sobre pagamento de R$ 10 mil por semana, que supostamente seriam para o comandante. Cada patrulha do GAT receberia R$ 5 mil. Nos grampos não há conversas do coronel Beltrami. “Temos provas que o esquema funcionava depois da posse do comandante. Temos material bastante contundente sobre o esquema”, afirmou Alan Luxardo.

Depois do telefonema, os PMs se encontraram com suposto advogado de Gaguinho. Câmeras de posto de gasolina e o GPS das viaturas confirmaram a passagem pelo local. Os PMs do GAT foram transferidos para outros quartéis em 20 de setembro, a pedido de Beltrami. Gaguinho escapou.

Escutas
Escutas mostram suposto policial pedindo R$ 10 mil em nome do ‘comando’ pela retirada do policiamento.
Policial: “Vai ter que aumentar o negócio porque tem gente mais alta chegando. Vai ser tudo com o ‘zero um’.
Traficante: “Quero perder pra vocês e pro cara que assumiu agora, tenho condições de dar 10 (mil reais) pra ele por semana.”
Policial: “Tem que ser pra cada ‘gêmea’ (patrulha), por final de semana.”
Traficante: “(...) Tem como aumentar o de vocês mil (reais) e dar dez (mil reais) por semana para o comandante, arregar ele também”.
Policial: “A ideia era a gente conseguir tirar aquela porrada de viatura, comboio, Golzinho, tudo isso”.

PM pede dinheiro para ‘devolver’ traficante baleado.
Policial: “Manda logo o negócio, senão vou finalizar (matar). Perde três caixas (mil reais) aí. Já perde pelo final de semana e pelo garoto”.
Traficante: Nós ‘trabalha’ por barca (patrulha) e são muitas barcas. Também arrego o ‘número 1’. Vou mandar lá e ninguém vai roer”.
Policial: Duvido. Manda 1 caixa e meia (R$ 1,5 mil) por esse garoto aqui, que ele tá ‘vazando óleo’ (sangrando)”.

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