Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

sábado, 21 de janeiro de 2012

CASO CELSO DANIEL - 10 ANOS Por Artur Virgílio

Faz 10 anos assassinaram o prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, de quem fui colega de Câmara.
Lembro-me dele como pessoa cordial, educada, disposta ao diálogo. Não cheguei a ser seu amigo, mas considerava-o um bom companheiro de trabalho, ele com suas próprias convicções e eu com as minhas.
Em janeiro de 2002 eu era ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República e estava no Canadá, em missão oficial, quando soube da tragédia. Liguei imediatamente para minha chefe de gabinete, inteirei-me dos fatos e, a seguir, falei com o presidente Fernando Henrique.
Disse-me ele que, no dia seguinte, receberia Lula e José Dirceu e que adotaria todas as medidas necessárias à plena elucidação do caso. Telefonei, então, para Dirceu, que me disse em tom que me soou comovido: “Arthur, estão matando nossos companheiros!”.
Pedi-lhe que não fizesse juízos precipitados e assegurei-lhe que o governo federal colocaria toda a sua logística atrás dos criminosos. E, na manhã seguinte, comecei a viagem de retorno ao Brasil.
O tom dos noticiários, no dia posterior ao atentado, era de pura indignação – e muita insinuação – petista. Quase que acusavam governistas de estarem por trás da barbárie.
Cheguei a Brasília, depois de trocar de avião algumas vezes e de esperar inquieto em aeroportos, e fui direto ao presidente. Conversamos um pouco, ele me relatou a audiência que concedeu a Lula e me disse: “vá conversar com o general Cardoso. Será bem esclarecedor”. Fiz isso e percebi que o caso era bem mais confuso e obscuro do que parecia.
Na imprensa, a “indignação” petista cessara. Os “revoltados” de dois dias atrás optavam por um silêncio constrangedor. “Calmos”, “confiantes” nas providências dos governos federal e paulista. Repito: estranhamente calmos, medrosamente calmos, inexplicavelmente calmos.
Os irmãos de Celso Daniel declararam, tempos depois, alto e bom som, que havia um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André, que drenava recursos públicos para as andanças e campanhas do próprio Lula. E acusavam o atual ministro Gilberto Carvalho de ser o intermediário, o homem encarregado de recolher a mala recheada. Esta, segundo a versão dos irmãos Daniel, iria para as mãos de José Dirceu.
Oito pessoas, afora o indigitado Celso Daniel, foram executadas em série. Até o pobre garçom que, no restaurante Rubayat, serviu a mesa onde, no dia do crime, Celso jantava com seu suposto “amigo” e mais que suspeito Sergio “Sombra”. Bem sombrio o “Sombra”, um dos croupiês do jogo da corrupção em Santo André.
Na CPI dos Bingos, no Senado, o PT se portou o tempo inteiro na defensiva, buscando desqualificar os irmãos de Celso. Não defendia o morto. Não se chocava com a nuvem de suspeição que lhe cobria a imagem. Faltava-lhe, como dizia Freitas Nobre, a indignação dos justos.
Hoje, 10 anos após, nenhum discurso lembrando Celso Daniel. Nenhuma homenagem do partido que deveria estar chorando a perda de importante quadro seu. Esquecimento total.
Da quadrilha de criminosos, só um está preso, sem ter sido ainda julgado. Cada vez a sociedade é levada a acreditar que, neste país, o crime compensa mesmo.
E o prefeito Toninho do PT, que também foi assassinado? Sua viúva acusa frontalmente o partido e seus dirigentes. Também nesse caso, o silêncio é obsequioso.
Que o tempo cuide de apagar as memorias. “Importante” mesmo é blindar o “ministro-consultor” Fernando Pimentel e fazer o mesmo com o desastrado Fernando Bezerra. Quem sabe dê até para manter o Mario Negromonte!
Que tempos! Que costumes!

Arthur Virgílio, diplomata, foi líder do PSDB no Senado


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