Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

quinta-feira, 6 de maio de 2010

SÉRIE SOBRE LIXO (1) - Japão ganha com reciclagem de celulares


   

Na primeira reportagem da série sobre lixo, o correspondente Roberto Kovalick mostra a reciclagem de celulares velhos e o aproveitamento dos metais que resultam desse processo.

Nesta semana, o Jornal Nacional vai tratar de uma ameaça ambiental que não depende de acidente nenhum. Ao contrário: ela cresce no mundo todo dentro da mais absoluta normalidade. A ameaça do lixo.
Numa série de reportagens especiais, a gente vai ver como esse problema tem provocado preocupação e tentativas de solução.
Nesta segunda, o correspondente Roberto Kovalick vai mostrar o destino dos celulares velhos num país que é sinônimo de tecnologia.
Um bairro em Tóquio é o paraíso dos apaixonados por eletrônica, dos maníacos por videogame, que jogam na calçada mesmo para aproveitar que a loja ao lado oferece conexão com internet de graça. O nome é Akihabara. O apelido: a cidade elétrica.
As últimas novidades tecnológicas costumam chegar ao bairro antes de desembarcarem no resto do planeta. E os japoneses gostam de ter o último modelo. Seria natural imaginar que produzam muito lixo eletrônico e que haja desperdício.
Não é o que acontece, como descobriu um brasileiro. O telefone da namorada do estudante Hendrik Lindelauf caiu no chão e quebrou. Como fazem os japoneses, ele devolveu o telefone para a loja da operadora. “A gente descobriu a loja é foi uma boa contribuição pra ecologia”.
O aparelho é perfurado para inutilizar a memória e assim impedir o roubo dos dados do usuário.
O que é impressionante é que, para devolver os telefones, os japoneses não recebem nem um centavo, nem desconto na compra de um modelo novo. Fazem isso porque aprendem desde pequenos a reciclar.
Os telefones são levados para empresas como uma, no oeste do Japão, que pertence a uma das maiores mineradoras do país. Duas vezes por semana, a companhia recebe um caminhão lotado de caixas, enviadas pelas lojas. Lá dentro, milhares de telefones. Tudo é reaproveitado: baterias, carregadores, CDs de instalação de programas e até o papelão das caixas usadas no transporte. Também são reciclados outros equipamentos, como copiadoras.
Num único celular há uma pequena quantidade de metais, que quase não tem valor. Mas num número tão grande de aparelhos, aí já é diferente. Num dia, chegaram 50 mil celulares à empresa, uma mina de ouro e de outros metais como prata, cobre e platina.
Esses metais servem para pagar o custo da reciclagem. É um processo demorado. Primeiro, os sacos cheios de celulares são colocados numa espécie de panela de pressão gigante. Eles vão, praticamente, cozinhar a uma temperatura de 500ºC.
Doze horas depois, o que resta é um entulho negro, que vagamente lembra que foi feito a partir de telefones. O plástico é transformado num óleo combustível, usado para fazer funcionar as máquinas da fábrica.

O engenheiro explica que os metais precisam ser reciclados porque o Japão é um país pobre em recursos naturais. Metais como ouro e cobre são importados. "Quanto mais reciclarmos, menos vamos comprar de outros países", diz ele.
Aí vem a fase final. Aquele entulho negro é levado para a separação, de onde saem os tão valiosos metais.
O resultado a gente encontra em lojas de Tóquio. Tudo que é vendido é feito, em parte, com metais retirados do lixo eletrônico, como um cordão de prata com pingente folhado a ouro. Mas a prova mais valiosa de que vale a pena reciclar está numa barra com 10 quilos de ouro.
A barra vale cerca de R$ 700 mil. O diretor da mineradora explica que uma parte é feita de material reciclado. O resto saiu de minas ao redor do mundo. No ano passado, 24% do ouro produzido pela empresa vieram de aparelhos eletrônicos ou objetos folhados com metal.

A gerente da loja conta que ninguém até agora apareceu para comprar essa barra. Mas muita gente leva as menores, que custam menos. É uma forma de poupança.
As empresas de produtos eletrônicos também são clientes importantes. Usam o metal para produzir equipamentos novinhos em folha, que - daqui a algum tempo - vão seguir o mesmo caminho da reciclagem.

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