Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

terça-feira, 4 de maio de 2010

copa de 2014 - 'A lógica da política na Copa de 2014' #copa2014


    Artigo do leitor Silvio Teles - O Globo


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Acostumados a tratar com um povo passivo e que, muito raramente, faz valer seus direitos, as autoridades públicas brasileiras e a Comissão Brasileira de Futebol receberam do secretário-geral da FIFA, Jerôme Valcke, um constrangedor "puxão de orelhas" pelo atual descumprimento dos prazos estabelecidos para as obras que comporão o plantel para a Copa do Mundo de 2014.

O francês foi duro, incisivo e mandou às favas todo e qualquer eufemismo ou tentativa de gentileza na admoestação. Jerome usou o popular e disse na cara: "Por que vocês assinaram todos aqueles documentos e não cumprem?", obrigando o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a ficar sem resposta. Que feio, hein?
A reclamação da FIFA tem sentido: hoje, todas as cidades habilitadas à sede do Mundial já deveriam ter iniciado suas obras, mas apenas seis (Manaus, Cuiabá, Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) iniciaram as reformas e construções necessárias. Mesmo assim, em todas elas, as obras seguem fora do cronograma.
O que aconteceu, particularmente no Brasil, é que prevaleceu a lógica hedionda de escolha de representantes políticos. Até a eleição (nesse caso, do país-sede), tudo foi dito para assegurar o evento, como promessa de campanha: projetos mirabolantes, previsão de recursos orçamentários sobrepujantes, assinatura termos de compromisso etc. Mas, uma vez escolhido o Brasil, os responsáveis pelo projeto querem que tudo aquilo que foi dito e prometido não tenha a menor importância prática: afinal, já nos escolheram!
Há quem pense que é uma birra sem motivos essa que o secretário-geral da FIFA está criando para com o Brasil. Eu, particularmente, acho da mais sincera pertinência. Ora, nesse caso da Copa de 2014, além do Brasil os Estados Unidos, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela demonstraram interesse em sediar a competição. A escolha do Brasil envolveu, além da conveniência política, a avaliação do melhor projeto e de sua execução, situação indissociavelmente ligada a prazos. Daqui até a Copa das Confederações são apenas três anos e há estádios, como o "Nacional de Brasília", que sequer saíram do papel.
A verdade é que a maioria dos gestores públicos brasileiros não gosta de prazos, nem está acostumada a eles. E, quando eles os são impostos, sempre se arruma uma maneira de burlá-los: é a rua esburacada que estará pronta daqui a seis meses, a escola nova que será construída em um ano, a compra de equipamentos que em quinze dias será licitada... Desculpa para repórter. Balela pura!
Essa má fama brasileira parece correr o mundo a ponto de Jerôme Valcke, quando "descia a lenha" em nosso "jeitinho" de conduzir os acordos que assinamos e as promessas que fazemos, usar ironicamente alguns velhos argumentos conhecidos nossos: "O Brasil só funciona depois do carnaval", "Até a Copa do Mundo nada será feito...", "Esse ano tem eleições e, até lá, nada anda".
Espero que a FIFA, diferentemente do passivo povo brasileiro (salvo raras exceções), tenha mecanismos eficazes para cobrar o adimplemento das condições aceitas pelo Brasil para sediar o Mundial. Mas temo que, logo logo, a FIFA conclua o que aqui não é difícil perceber: no Brasil, a demora não é fazer a obra; o que leva tempo, de verdade, é equilibrar os "ganhos" dos envolvidos na construção.

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