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domingo, 10 de janeiro de 2010

Traçado da Rio-Santos contribui para deslizamento, diz especialista

Professor da Universidade Federal Fluminense afirma que obra não respeitou características da Serra do Mar

Deu no Estadão, Sílvio Barsetti, RIO


Inaugurada em três etapas, a partir de 1975, e concluída em 1986, numa obra executada à revelia das condições apresentadas pela Serra do Mar, a Rodovia Rio-Santos está definhando. Há sinais claros de erosão, acelerada em alguns casos por causa da ação do homem. O mais alarmante, porém, está oculto em meio à vegetação densa de boa parte da encosta: são os blocos de rochas soltos, os matacões, armadilhas invisíveis à espera de um movimento de solo para descer até a via e deixar um rastro de destruição.

"Alguns trechos são como uma bomba-relógio sem hora para disparar", alerta o professor Jefferson Martins, do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense (UFF). Convidado pelo Estado a percorrer a rodovia - do Rio até Angra dos Reis -, ele mapeou durante a semana 39 áreas onde o risco de novos deslizamentos é alto numa faixa de apenas 25 quilômetros, entre Conceição de Jacareí (Mangaratiba) até a entrada principal de Angra. "A concepção da Rio-Santos foi equivocada, com um traçado que priorizou rampas e curvas, em vez da construção de viadutos e túneis", afirma.

As cidades litorâneas entre Rio e Santos não sobreviveriam hoje sem a rodovia, fundamental para o turismo da região e estratégica como rota de fuga em caso de vazamento nas usinas nucleares de Angra. A Rio-Santos teve um custo inicial de R$ 3,6 bilhões - valores corrigidos a partir de dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), responsável por mais de 30% do financiamento. Na fase inicial da obra, engenheiros e operários traduziram com um leve toque de humor e alguma resignação qual seria a relação do homem com a rodovia. A frase mais repetida por eles, naquele período, continua atual: "A cada metro cavado, um morro desaba."

"Não existe investimento em previsão de área de risco, isso é o pior", observa o geólogo Nelson Fernandes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de vários trabalhos sobre escorregamentos (deslizamentos) em encostas.

A Rio-Santos encanta pela beleza de suas planícies e das praias e enseadas que se apresentam após cada curva. Mas sofre as consequências do relevo desafiador da Serra do Mar, cujo lado litorâneo se destaca por uma vertente mais íngreme, o que torna a encosta mais instável. Ao contrário do desenho oposto, no Vale do Paraíba, com declividade mais suave.

Há quase um consenso entre os especialistas ouvidos pelo Estado de que a Rio-Santos vai ter de aprender a lidar com as cicatrizes abertas na serra e a instabilidade de quase toda a região.

O engenheiro civil Wanderson Lopes, supervisor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Angra dos Reis, aponta outro aspecto importante para a compreensão de eventos mais recentes na rodovia. "Há trechos com mais de 30 anos, em final de vida útil. Isso também afeta a relação com a encosta."

O solo no entorno da rodovia pode ficar encharcado facilmente, dependendo de sua espessura, da declividade do terreno, da vegetação e da quantidade de chuva absorvida. Essas combinações tendem a causar movimentos que levam a uma ruptura. Nascem assim os deslizamentos, às vezes como uma avalanche. Esses fenômenos, na Rio-Santos, são precipitados também pela ocupação inadequada da encosta. Existem ali áreas extensas com bananeiras e outras, menores, com gado.

Para o diretor do Instituto de Geociências da UFF, André Ferrari, a área "mobilizável" da Serra do Mar, entre as duas cidades portuárias, se acentuou com o corte de talos, no meio de imensos blocos de rocha, para a abertura da via. "Mesmo em áreas que historicamente se mostram estáveis, uma chuva forte potencializa a possibilidade de escorregamentos."

O professor Jefferson Martins calcula o custo que representaria uma Rio-Santos protegida: "Deixá-la em condições aceitáveis significaria gastar o equivalente a uma nova Rio-Santos."


Nota do blogueiro: Ele não investem mais na estrada Rio-Santos porque não podem cobrar pedágio, pois se trata de uma rota de fuga, se ocorrer algum acidente nuclear nas usinas de Angra. O plano de fuga é uma piada. Quem conhece sabe que se ocorrer um acidente a maioria do povo vai ficar presa na saída de Angra do Reis.

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