Professor da Universidade Federal Fluminense afirma que obra não respeitou características da Serra do Mar
Deu no Estadão, Sílvio Barsetti, RIO
Inaugurada em três etapas, a partir de 1975, e concluída em 1986, numa obra executada à revelia das condições apresentadas pela Serra do Mar, a Rodovia Rio-Santos está definhando. Há sinais claros de erosão, acelerada em alguns casos por causa da ação do homem. O mais alarmante, porém, está oculto em meio à vegetação densa de boa parte da encosta: são os blocos de rochas soltos, os matacões, armadilhas invisíveis à espera de um movimento de solo para descer até a via e deixar um rastro de destruição.
"Alguns trechos são como uma bomba-relógio sem hora para disparar", alerta o professor Jefferson Martins, do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense (UFF). Convidado pelo Estado a percorrer a rodovia - do Rio até Angra dos Reis -, ele mapeou durante a semana 39 áreas onde o risco de novos deslizamentos é alto numa faixa de apenas 25 quilômetros, entre Conceição de Jacareí (Mangaratiba) até a entrada principal de Angra. "A concepção da Rio-Santos foi equivocada, com um traçado que priorizou rampas e curvas, em vez da construção de viadutos e túneis", afirma.
As cidades litorâneas entre Rio e Santos não sobreviveriam hoje sem a rodovia, fundamental para o turismo da região e estratégica como rota de fuga em caso de vazamento nas usinas nucleares de Angra. A Rio-Santos teve um custo inicial de R$ 3,6 bilhões - valores corrigidos a partir de dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), responsável por mais de 30% do financiamento. Na fase inicial da obra, engenheiros e operários traduziram com um leve toque de humor e alguma resignação qual seria a relação do homem com a rodovia. A frase mais repetida por eles, naquele período, continua atual: "A cada metro cavado, um morro desaba."
"Não existe investimento em previsão de área de risco, isso é o pior", observa o geólogo Nelson Fernandes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de vários trabalhos sobre escorregamentos (deslizamentos) em encostas.
A Rio-Santos encanta pela beleza de suas planícies e das praias e enseadas que se apresentam após cada curva. Mas sofre as consequências do relevo desafiador da Serra do Mar, cujo lado litorâneo se destaca por uma vertente mais íngreme, o que torna a encosta mais instável. Ao contrário do desenho oposto, no Vale do Paraíba, com declividade mais suave.
Há quase um consenso entre os especialistas ouvidos pelo Estado de que a Rio-Santos vai ter de aprender a lidar com as cicatrizes abertas na serra e a instabilidade de quase toda a região.
O engenheiro civil Wanderson Lopes, supervisor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Angra dos Reis, aponta outro aspecto importante para a compreensão de eventos mais recentes na rodovia. "Há trechos com mais de 30 anos, em final de vida útil. Isso também afeta a relação com a encosta."
O solo no entorno da rodovia pode ficar encharcado facilmente, dependendo de sua espessura, da declividade do terreno, da vegetação e da quantidade de chuva absorvida. Essas combinações tendem a causar movimentos que levam a uma ruptura. Nascem assim os deslizamentos, às vezes como uma avalanche. Esses fenômenos, na Rio-Santos, são precipitados também pela ocupação inadequada da encosta. Existem ali áreas extensas com bananeiras e outras, menores, com gado.
Para o diretor do Instituto de Geociências da UFF, André Ferrari, a área "mobilizável" da Serra do Mar, entre as duas cidades portuárias, se acentuou com o corte de talos, no meio de imensos blocos de rocha, para a abertura da via. "Mesmo em áreas que historicamente se mostram estáveis, uma chuva forte potencializa a possibilidade de escorregamentos."
O professor Jefferson Martins calcula o custo que representaria uma Rio-Santos protegida: "Deixá-la em condições aceitáveis significaria gastar o equivalente a uma nova Rio-Santos."
Deu no Estadão, Sílvio Barsetti, RIO
Inaugurada em três etapas, a partir de 1975, e concluída em 1986, numa obra executada à revelia das condições apresentadas pela Serra do Mar, a Rodovia Rio-Santos está definhando. Há sinais claros de erosão, acelerada em alguns casos por causa da ação do homem. O mais alarmante, porém, está oculto em meio à vegetação densa de boa parte da encosta: são os blocos de rochas soltos, os matacões, armadilhas invisíveis à espera de um movimento de solo para descer até a via e deixar um rastro de destruição.
"Alguns trechos são como uma bomba-relógio sem hora para disparar", alerta o professor Jefferson Martins, do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense (UFF). Convidado pelo Estado a percorrer a rodovia - do Rio até Angra dos Reis -, ele mapeou durante a semana 39 áreas onde o risco de novos deslizamentos é alto numa faixa de apenas 25 quilômetros, entre Conceição de Jacareí (Mangaratiba) até a entrada principal de Angra. "A concepção da Rio-Santos foi equivocada, com um traçado que priorizou rampas e curvas, em vez da construção de viadutos e túneis", afirma.
As cidades litorâneas entre Rio e Santos não sobreviveriam hoje sem a rodovia, fundamental para o turismo da região e estratégica como rota de fuga em caso de vazamento nas usinas nucleares de Angra. A Rio-Santos teve um custo inicial de R$ 3,6 bilhões - valores corrigidos a partir de dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), responsável por mais de 30% do financiamento. Na fase inicial da obra, engenheiros e operários traduziram com um leve toque de humor e alguma resignação qual seria a relação do homem com a rodovia. A frase mais repetida por eles, naquele período, continua atual: "A cada metro cavado, um morro desaba."
"Não existe investimento em previsão de área de risco, isso é o pior", observa o geólogo Nelson Fernandes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de vários trabalhos sobre escorregamentos (deslizamentos) em encostas.
A Rio-Santos encanta pela beleza de suas planícies e das praias e enseadas que se apresentam após cada curva. Mas sofre as consequências do relevo desafiador da Serra do Mar, cujo lado litorâneo se destaca por uma vertente mais íngreme, o que torna a encosta mais instável. Ao contrário do desenho oposto, no Vale do Paraíba, com declividade mais suave.
Há quase um consenso entre os especialistas ouvidos pelo Estado de que a Rio-Santos vai ter de aprender a lidar com as cicatrizes abertas na serra e a instabilidade de quase toda a região.
O engenheiro civil Wanderson Lopes, supervisor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Angra dos Reis, aponta outro aspecto importante para a compreensão de eventos mais recentes na rodovia. "Há trechos com mais de 30 anos, em final de vida útil. Isso também afeta a relação com a encosta."
O solo no entorno da rodovia pode ficar encharcado facilmente, dependendo de sua espessura, da declividade do terreno, da vegetação e da quantidade de chuva absorvida. Essas combinações tendem a causar movimentos que levam a uma ruptura. Nascem assim os deslizamentos, às vezes como uma avalanche. Esses fenômenos, na Rio-Santos, são precipitados também pela ocupação inadequada da encosta. Existem ali áreas extensas com bananeiras e outras, menores, com gado.
Para o diretor do Instituto de Geociências da UFF, André Ferrari, a área "mobilizável" da Serra do Mar, entre as duas cidades portuárias, se acentuou com o corte de talos, no meio de imensos blocos de rocha, para a abertura da via. "Mesmo em áreas que historicamente se mostram estáveis, uma chuva forte potencializa a possibilidade de escorregamentos."
O professor Jefferson Martins calcula o custo que representaria uma Rio-Santos protegida: "Deixá-la em condições aceitáveis significaria gastar o equivalente a uma nova Rio-Santos."
Nota do blogueiro: Ele não investem mais na estrada Rio-Santos porque não podem cobrar pedágio, pois se trata de uma rota de fuga, se ocorrer algum acidente nuclear nas usinas de Angra. O plano de fuga é uma piada. Quem conhece sabe que se ocorrer um acidente a maioria do povo vai ficar presa na saída de Angra do Reis.
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