Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

quinta-feira, 12 de julho de 2012

SAÚDE NO RIO - Obras maternidade do Hospital do Andaraí estão paralisadas


Efeito colateral da crise da saúde no Hospital do Andaraí

Após suspeitas de irregularidades, obras são paralisadas no hospital; maternidade não faz parto e emergência é improvisada


O GLOBO

As obras na antiga maternidade estão paralisadas: após constatação de irregularidades pela CGU, partos foram suspensos no Hospital do Andaraí
FOTOS DE LEITOR

RIO - Como um efeito dominó, irregularidades constatadas nos seis hospitais públicos federais do Rio estão prejudicando o atendimento aos pacientes. Desde que o Ministério da Saúde suspendeu em janeiro os contratos de locação de equipamentos e as obras nas unidades, sob suspeita de irregularidades que causaram prejuízo estimado em R$ 96 milhões, a reforma da maternidade do Hospital do Andaraí está paralisada. Segundo funcionários, também estão paradas as obras no prédio da antiga emergência. Com isso, os casos urgentes estão sendo atendidos de forma improvisada no prédio do novo centro cirúrgico, erguido para intervenções de pequeno porte. Este, por sua vez, apesar de pronto há cerca de quatro meses, não faz cirurgias deste tipo, suspensas há dois meses.

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Fotos obtidas pelo GLOBO revelam que, por conta desses transtornos, a maternidade do Andaraí acumula entulho e está com as paredes quebradas. As obras, iniciadas no final de 2011, foram suspensas em janeiro deste ano. Os partos foram transferidos para o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. Já a emergência está sob escombros, tomada por tijolos, madeira, colchonetes velhos e até privadas. Um médico observou que, quando a obra da emergência for concluída, o novo centro cirúrgico, para onde o setor foi transferido, poderá precisar de uma nova reforma. Segundo esse médico, que pediu anonimato, as instalações já vão estar num processo de deterioração.

O improviso no atendimento de emergência fica evidente no cenário de pacientes em macas e cadeiras pelos corredores. Na terça-feira, pelo menos 20 doentes eram atendidos nessas condições. Por dia, de acordo com os funcionários, o setor atende até 400 pessoas. Para os profissionais de saúde do Andaraí, está cada vez mais distante a possibilidade de melhorias imediatas no hospital. Eles acreditam que as obras paradas ou em ritmo lento também foram mal planejadas. Para outro médico, que também pediu para não ser identificado, faltou coordenação na execução de várias obras. A fachada está sendo reformada e as janelas foram substituídas por esquadrias de alumínio sem venezianas. Isso acarretará, segundo ele, grande exposição solar para os pacientes e na elevação da temperatura nas enfermarias, o que não acontecia antes.

O diretor do Departamento de Gestão Hospitalar do Rio, João Marcelo Alves, diz que as irregularidades constatadas nos contratos do Andaraí não envolvem questões éticas, mas outros aspectos técnicos relacionados à execução das obras. Ele garantiu que, desde abril, o ministério autorizou a retomada dos trabalhos. Alves disse, no entanto, que a reforma da maternidade não recomeçou porque depende de uma reunião do grupo de trabalho da CGU que vai avaliar os contratos com a empresa responsável pelo serviço. Essa reunião deverá ocorrer nesta quinta-feira. Enquanto isso, os partos, garantiu Alves, estão sendo realizados normalmente no Gaffrée.

Já sobre as obras da emergência, o representante do Ministério da Saúde afirmou que elas são tocadas em três fases distintas. Segundo ele, as fotos em poder do jornal dizem respeito à terceira e última fase. A primeira, da emergência pediátrica, ele assegurou que já está concluída. A segunda, na sobreloja do hospital, onde funcionava a administração, vai criar 14 leitos e será entregue em agosto. Alves informou ainda que a terceira está em andamento, mas começou pelo subsolo. Ele prometeu, entretanto, que as obras da emergência estarão concluídas em outubro de 2013, já contabilizando o atraso em decorrência do período de paralisação.

— Das 37 obras suspensas pelo Ministério da Saúde nos seis hospitais federais e analisadas pelo grupo de estudo que verifica a execução dos contratos, 12 já foram totalmente liberadas. Quatro foram parcialmente liberadas, 15 estão em processo de análise e seis foram indicadas para auditorias da CGU por por suspeitas de irregularidades. O Ministério da Saúde não está parado. O grupo de trabalho está atuando da forma mais rápida possível — garantiu Alves, acrescentando que, até agosto, todas as providências já deverão ter sido adotadas.

Direção terá 48 horas para dar explicações

O defensor público federal Daniel Macedo, titular do 2º Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva, informou que enviará ofício à direção do Hospital do Andaraí, dando prazo de 48 horas para que sejam informadas que obras estão paralisadas e por que motivos.

— O que observamos é uma má gestão generalizada e a população pagando um alto preço. Se nada for feito para reverter o quadro de falta de insumos, medicamentos, aparelhagem e obras paralisadas nesses hospitais federais, o Brasil vai passar por uma vergonha nacional nos grandes eventos esportivos que vão acontecer no Rio — disse o defensor.

Macedo afirmou que, na sexta-feira, entrará com uma ação civil pública contra o Ministério da Saúde e o Hospital Federal de Bonsucesso — onde os atendimentos são feitos em contêineres —, exigindo que os pacientes sejam transferidos para outras unidades. Conforme O GLOBO revelou em junho, o problema acontece há cerca de um ano, desde que obras de R$ 8 milhões no setor também foram suspensas.


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