História
Fundado em 1590 por monges vindos da Bahia, o Mosteiro beneditino do Rio de Janeiro foi construído a pedido dos próprios habitantes da recém fundada cidade de São Sebastião. Em pleno Centro da grande metrópole, conserva-se aqui um lugar de silêncio, paz, oração e trabalho, que se traduz em diversas atividades mantidas regularmente.
As duas principais são as celebrações diárias do Ofício Divino e da Missa, com canto gregoriano. Além disso, funcionam dentro da Abadia: o Colégio de São Bento, as Edições Lumen Christi, a Faculdade de São Bento, a Casa de retiros de Emaús e a Obra Social São Bento. O Mosteiro mantém também duas casas de retiro e encontros: a Casa de São Bento, no Alto da Boa Vista, e o Sitio Seio de Abrahão, em Teresópolis.
Localização
Fotos do Mosteiro
Igreja Abacial
O projeto inicial da igreja do Mosteiro é atribuído ao arquiteto militar
Francisco de Frias Mesquita, tendo sido provavelmente elaborado entre 1617 e 1618. A parte mais antiga do conjunto é o frontispício com suas três arcadas, que foram levantados entre 1666 e 1669, juntamente com o coro. O interior da igreja é revestido de talha de madeira dourada, em estilo barroco, datando de 1717 o início de sua colocação. A nave central é ladeada por 8 capelas laterais dedicadas ao Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Pilar, Santo Amaro, Santa Gertrudes, São Lourenço, São Brás e São Caetano. Ao fundo, domina a capela-mor, com o coro onde os monges cantam diariamente o Ofício Divino e o grande altar da titular da igreja, Nossa Senhora do Monserrate. Na entrada da capela-mor vê-se o atual altar-mor, onde o celebrante principal oferece diariamente o santo sacrifício da Missa.
Nossa Senhora do Monserrate
A imagem da titular da igreja abacial está colocada sobre o grande altar situado no fundo da capela-mor. Foi esculpida pelo monge Frei Domingos da Conceição da Silva, sendo que já existia em 1676. Foi apenas na década de 1950 que um antigo nimbo dourado foi substituído pelas cortinas de veludo que estão ao fundo.
A imagem de Nossa Senhora do Monserrate está esculpida em alto relevo, e as imagens do corpo da igreja, de época posterior, vieram a combinar com ela. Os olhos do menino Jesus eram de ovos de passarinho pintados de esmalte, mas foram recentemente substituídos por outros de vidro.
São Bento e Santa Escolástica
As imagens dos dois irmãos gêmeos, ele, patriarca dos monges e ela, matriarca das monjas do Ocidente, estão colocadas também no grande altar da capela-mor da igreja abacial, ladeando a imagem de Nossa Senhora do Monserrate. A duas imagens, de São Bento e de Santa Escolástica, foram esculpidas por Frei Domingos da Conceição, cerca do ano 1676.
A Santa Abadessa traz numa das mãos o báculo, símbolo de sua posição de mãe e guia espiritual, e na outra a Regra de São Bento, que até os dias de hoje é seguida por monges e monjas no mundo inteiro.
Capela da Conceição
Em 1700-1703 mandou-se vir de Lisboa um retábulo e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Entretanto, o atual retábulo é do triênio de 1747-1748, quando também se mandou vir, novamente de Lisboa, a linda imagem que ora se vê no altar, feita no ano de 1748.
A talha do arco desta capela, construída entre 1677 e 1684, foi colocada entre 1720 e 1723. Seu autor é o mesmo que fez a talha dos demais arcos e do corpo central da igreja: Alexandre Machado Pereira.
Sacristia
É um lugar normalmente fechado à visitação pública. Na sacristia os monges se preparam para desempenhar suas funções litúrgicas, seja como sacerdotes celebrantes das Missas, seja como oficiantes nas celebrações solenes do Ofício Divino. Por seu especial amor à sagrada liturgia, os monges beneditinos dedicam um grande cuidado à manutenção da sacristia, onde fica guardado tudo o que é necessário para as diversas cerimônias.
Alpendre - Portaria
O alpendre que se vê na gravura, de colunas toscanas inteiriças e de teto à mourisca, fica à esquerda da igreja e foi levantado, concomitantemente à portaria correspondente, entre os anos de 1663 e 1666, quando ainda não havia o frontispício da igreja. Sua construção foi dirigida pelo monge mestre-de-obras Frei Leandro de São Bento. Suas paredes brancas, simples e despojadas, são um prenúncio da arquitetura interna do mosteiro, destinada à habitação quotidiana dos monges, em total contraste com o esplendor dourado da igreja. O raciocínio é simples: enquanto esse despojamento está de acordo com a vida pobre abraçada pelos monges, o máximo de beleza está reservado ao templo, que é a casa de Deus.
Por essa porta, ainda hoje entram vários jovens que, deixando a agitação do mundo, decidem abraçar a vida monástica, para seguir o Cristo pelo caminho estreito da obediência, do silêncio e da oração. Deixam o mundo para se fazerem presentes a ele de outro modo, mais profundo e comprometido, quando apresentam a Deus suas carências de justiça, paz e amor, pela adoração e o louvor contínuos.
Claustro
É no claustro que os monges se reúnem após as refeições para alegres momentos de convívio fraterno. Fora desses horários, é um local de silêncio, muito propício para a oração contemplativa. No seu centro encontra-se um belo chafariz, ladeado por quatro jambeiros que regularmente cobrem o chão de flores rosadas. Também no claustro são sepultados os monges que partem para o encontro definitivo com o Senhor.
Normalmente, o claustro é fechado à visitação, devido ao seu caráter de lugar de recolhimento, mas em certas datas específicas é aberto aos fiéis que nele entram em procissão. Esses dias são: Domingo de Ramos, Solenidade de Corpus Christi e nas exéquias dos monges
Quem foi São Bento
São Bento de Núrsia, Patriarca do Monaquismo Ocidental
Por Dom Jerome Theisen, OSB, Abade Primaz da Confederação Beneditina (+1995).
Por ocasião da dedicação do Mosteiro de Monte Cassino em 1964, após sua reconstrução, o Papa Paulo VI proclamou São Bento (ca. 480 - ca. 547) patrono principal de toda a Europa. O título, apesar de um pouco exagerado, é verdadeiro sob vários aspectos. São Bento não construiu o Mosteiro de Monte Cassino com a intenção de salvar a cultura, mas, de fato, os mosteiros que depois seguiram a sua Regra foram lugares onde o conhecimento e os manuscritos foram preservados. Por mais de seis séculos, a cultura cristã da Europa medieval praticamente coincidiu com os centros monásticos de piedade e estudo.
São Bento não foi o fundador do monaquismo cristão, tendo vivido quase três séculos depois do seu surgimento no Egito, na Palestina e na Ásia Menor. Tornou-se monge ainda jovem e desde então aprendeu a tradição pelo contato com outros monges e lendo a literatura monástica. Foi atraído pelo movimento monástico, mas acabou dando-lhe novos e frutuosos rumos. Isto fica evidente na Regra que escreveu para os mosteiros, e que ainda hoje é usada em inúmeros mosteiros e conventos no mundo inteiro (
Regra em Português).
A tradição diz que São Bento viveu entre 480 e 547, embora não se possa afirmar com certeza que essas datas sejam historicamente acuradas. Seu biógrafo, São Gregório Magno, papa de 590 a 604, não registra as datas de seu nascimento e morte, mas se refere a uma Regra escrita por Bento. Há discussões com relação à datação da Regra, mas parece existir um consenso de que tenha sido escrita na primeira metade do século VI.
São Gregório escreveu sobre São Bento no seu Segundo Livro dos Diálogos (versão inglesa disponível em Dialogues), mas seu relato da vida e dos milagres de Bento não pode ser encarado como uma biografia no sentido moderno do termo. A intenção de Gregório ao escrever a vida de Bento foi a de edificar e inspirar, não a de compilar os detalhes de sua vida quotidiana. Buscava mostrar que os santos de Deus, em particular São Bento, ainda operavam na Igreja Cristã, apesar de todo o caos político e religioso da época. Por outro lado, seria falso afirmar que Gregório nada apresenta em seu texto sobre a vida e a obra de Bento.
De acordo com os Diálogos de São Gregório, Bento (e sua irmã gêmea, Escolástica) nasceu em Núrsia, um vilarejo no alto das montanhas, a nordeste de Roma. Seus pais o mandaram para Roma a fim de estudar, mas ele achou a vida da cidade eterna degenerada demais para o seu gosto. Por conseguinte, fugiu para um lugar a sudeste de Roma, chamado Subiaco, onde morou como eremita por três anos, com o apoio do monge Romano.
Foi então descoberto por um grupo de monges que o incitaram a se tornar o seu líder espiritual. Mas o seu regime logo se tornou excessivo para os monges indolentes, que planejaram então envenená-lo. Gregório narra como Bento escapou ao abençoar o cálice contendo o vinho envenenado, que se quebrou em inúmeros pedaços. Depois disso, preferiu se afastar dos monges indisciplinados.
São Bento estabeleceu doze mosteiros com doze monges cada, na região ao sul de Roma. Mais tarde, talvez em 529, mudou-se para Monte Cassino, 130 km a sudeste de Roma; ali destruiu o templo pagão dedicado a Apolo e construiu seu primeiro mosteiro. Também ali escreveu sua Regra para o Mosteiro do Monte Cassino, já prevendo que ela poderia ser usada em outros lugares.
Os 38 pequenos capítulos do Segundo Livro dos Diálogos contêm vários episódios da vida e dos milagres de São Bento (versão em inglês disponível em Dialogues). Alguns capítulos falam da sua habilidade em ler o pensamento das pessoas, outros, dos seus feitos miraculosos, como, por exemplo, fazer brotar água da rocha, um discípulo andar sobre a água, e um jarro de óleo nunca se esgotar. As estórias de milagres fazem eco aos acontecimentos da vida de certos profetas de Israel, e também da vida de Jesus. A mensagem é clara: a santidade de Bento é como a dos santos e profetas de antigamente, e Deus não abandonou o seu povo, mas continua a abençoá-lo com homens santos.
Bento deve ser encarado como um líder monástico, não como um erudito. Provavelmente conhecia bem o latim, o que lhe dava acesso aos escritos de Cassiano e outros, incluindo regras e sentenças. Sua Regra é o único texto conhecido de Bento, mas é suficiente para manifestar a sua habilidade genial para cristalizar o melhor da tradição monástica e passá-la para o Ocidente.
Gregório apresenta Bento como modelo de santo que foge da tentação para levar uma vida de atenção à presença de Deus. Através de um esquema equilibrado de vida e oração, Bento chegou ao ponto de se aproximar da glória de Deus. Gregório narra a visão que Bento teve quando sua vida chegava ao fim: "De súbito, na calada da noite, olhou para cima e viu uma luz que se difundia do alto e dissipava as trevas da noite, brilhando com tal esplendor que, apesar de raiar nas trevas, superava o dia em claridade. Nesta visão, seguiu-se uma coisa admirável, pois, como depois ele mesmo contou, também o mundo inteiro lhe apareceu ante os olhos, como que concentrado num só raio de sol" (cap. 34). São Bento, o monge por excelência, levou um tipo de vida monástica que o conduziu à visão de Deus.
Bibliografia
Outras RUAS, IGREJAS E MONUMENTOS DO RIO DE JANEIRO