Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro disse Dom Pedro II

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

INFRAESTRUTURA - Falhas no aeroporto Tom Jobim ocorrem desde a inauguração, em 1977

Profissionais que participaram da obra, trabalharam ali ou estudaram o assunto não têm dúvida: a má gestão é responsável por um terminal vergonhoso
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Flávio Tabak
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No primeiro dia de funcionamento do terminal, o saguão ficou cheio, mas os computadores pararam: controle foi manual
Antonio Nery/17-1-1977 / O Globo

RIO - Oito jornalistas estão presos no elevador do Aeroporto Internacional do Rio. Eles têm pressa, mas a cabine permanece imóvel. Celular para pedir socorro? Não havia sinal, pois inexistia o mercado de telefonia móvel naquele 20 de janeiro de 1977. Recorrente nos dias de hoje, a cena, acredite, deu-se no momento em que o Terminal 1 do Galeão era inaugurado. Os repórteres saíram ilesos e conseguiram cobrir a cerimônia. Já os elevadores vivem enguiçados até hoje.

O 35º aniversário do terminal passou em branco no último dia 20
. Notícias recentes, para variar, são ruins: aparição de um urubu que despencou da estrutura do teto e invadiu o saguão, assalto aos cofres do estacionamento e falta de serviços de madrugada são alguns exemplos.

O aeroporto está envelhecido precocemente. Profissionais que participaram da obra, trabalharam ali ou estudaram o assunto não têm dúvida: a má gestão é responsável por um terminal vergonhoso. Registros de jornais da época revelam que as falhas atuais têm origem nesse passado turbulento.

Em 1977, o terminal era considerado um dos mais modernos do mundo. Passou por períodos de bom funcionamento e representou avanços para o país. A pista era capaz de receber Jumbos e Concordes. Seus restaurantes, lojas e estrutura se destacavam. Custou pelo menos US$ 450 milhões, por volta de R$ 3 bilhões em valores atualizados, três vezes o previsto.
As falhas de administração, no entanto, logo deram as caras. Tornaram-se, no fim das contas, o verdadeiro "padrão" do aeroporto. Jornais publicaram, em junho de 1977, que o alarme contra incêndio estava enguiçado desde janeiro daquele ano. Durante uma semana, o circuito interno de televisão e os painéis de horários de voos ficaram parados. Como tudo era novo, até para os técnicos, a manutenção só ocorria com tudo desligado.

O novo terminal substituiria o antigo, aberto em 1952. A operação do velho aeroporto era improvisada e repleta de ampliações malfeitas. Para melhorar, era preciso um novo. O projeto, grandioso, demorou a sair do papel. O terminal foi inaugurado na sétima data marcada, dois anos e nove meses depois da primeira. O Galeão só decolou sete anos após o início da construção feita pela Odebrecht.

Um dos personagens centrais dessa história é o brigadeiro José Vicente Cabral Checchia, de 84 anos. Ele foi presidente, de 1969 a 1979, da Aeroportos do Rio de Janeiro S.A. (Arsa), antiga subsidiária da Infraero e responsável pelo terminal.

— O terminal envelheceu porque deixaram envelhecer. Devia haver uma carreira para quem trabalha em aeroporto. Não se pode escolher um diretor porque é de algum partido. Tudo foi feito para durar, mas modificaram a filosofia do projeto. Talvez seja uma herança da nossa cultura. Não se faz manutenção de nada no Brasil. De aeroporto a hospital — reclama Checchia, hoje presidente da Fundação Santos Dumont, que cuida de acervos sobre a aviação brasileira.

Ao longo do tempo, foram registrados problemas de todos os tipos. Em maio de 1994, O GLOBO noticiou que chovia dentro do aeroporto. Durante três dias, goteiras davam boas-vindas ou boa viagem nos saguões. Para resolver, informou a reportagem, "a velha fórmula tupiniquim: com panos de chão, baldes e rodos". Não é raro o problema se repetir ainda hoje.

— O Galeão tem área, é bem localizado e cercado por mar. A melhor situação para um aeroporto. Os problemas são de gestão e acessibilidade. Tenho dificuldade de aceitar que eles não saibam gerir. Só pode ser uma mão invisível — afirma Elton Fernandes, professor da Coppe/UFRJ e pesquisador de transporte aéreo.

Em nota, a Infraero informa que vem fazendo "uma série de melhorias no Galeão". "Após o fim das obras, o aeroporto passará a ter capacidade para 44 milhões de passageiros por ano, o que significará uma melhoria na operacionalidade e, também, um maior índice de conforto para os usuários".



Fonte O GLobo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/falhas-no-aeroporto-tom-jobim-ocorrem-desde-inauguracao-em-1977-3845520#

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