Por Marcos Nunes
EXTRA
Um golpe vem atrapalhando a vida e deixando de bolsos vazios, milhares de motoristas e motociclistas que estão em situação irregular no Rio. Flagrados em blitzes da Polícia militar e do Detro, eles tiveram seus veículos levados para um depósito particular, de São João de Meriti, onde as taxas de estadia chegam a ser 245% maiores do que as cobradas em depósitos públicos. Foi o que aconteceu com o motorista Luiz Chaves de Castro, de 53 anos. No dia 18 de abril, ele iniciou sua primeira viagem com 15 passageiros, em uma van, que seguia de Campo Grande para a Barra da Tijuca. Trinta minutos depois se transformou em vítima de uma armadilha. E só descobriu ter sido lesado ao ser alertado pelo EXTRA, que identificou uma fraude milionária na remoção e guarda de veículos apreendidos em ações de fiscalização de trânsito na Região metropolitana do Rio.
Com um dos pneus em mau estado de conservação, a Jumper Citroen de Luiz Chaves foi apreendida por fiscais do Detro, que faziam uma blitz, com apoio da Polícia Militar, na Ilha de Guaratiba, na Zona Oeste. Para sua surpresa, foi informado que teria buscar o carro em São João de Meriti. Sem desconfiar, já havia caído no Golpe do Guincho: motoristas em situação irregular têm seus veículos levados para o depósito particular da empresa Alarm Rio 2004, que não tem permissão para rebocar carros e motocicletas fora de São João de Meriti. No dia seguinte, percorreu 51 quilômetros até o depósito no bairro Vila São José. No caminho, não encontrou placas indicando a localização do depósito. Mas a peregrinação era desnecessária: bastava que a van fosse rebocada para um dos seis depósitos públicos da empresa Stop Log (um deles em Jacarepaguá), que venceu a licitação organizada pelo Detran para prestar serviços de reboque e guarda de veículos na Região Metropolitana.
E não era só. Após pagar taxas de R$ 206 — reboque e uma diária no depósito —, pôde voltar para casa. Mas não precisaria ter gasto tanto: num depósito público, pagaria quase metade do valor, R$ 112,72. A variação entre as tarifas dos serviços nos dois depósitos pode chegar a 245%, no caso da diária de uma moto apreendida.
— E o pior é que só aceitavam dinheiro no depósito — disse Chaves, que perdeu dois dias de trabalho.
As vítimas do golpe podem estar em qualquer ponto da cidade. As blitzes ocorrem em ruas movimentadas, à noite ou em plena luz do dia. Não são feitas às escondidas. O médico Eduardo Henrique da Silva Freitas, de 60 anos, caiu no golpe em Laranjeiras, na Zona Sul. O caso aconteceu em 28 de novembro quando seu Citroen C4 foi abordado por dois motoqueiros da PM. Dois reboques aguardavam as vítimas na Rua Cosme Velho. O médico ainda não havia recebido o licenciamento do carro, com placa de Minas Gerais, onde não se faz vistoria. O carro acabou levado para Meriti. E só foi liberado 15 dias depois, já que o veículo estava em nome da sua mulher, que estava fora do país. Por uma estadia de 15 dias e uma taxa de reboque, Eduardo pagou R$ 940. Num depósito público, sairia a R$ 659,28. Já o mecânico Augusto Ventura, de 42, teve a Kombi, que usava para fazer entregas, rebocada por fiscais do Detro, no dia 24 de outubro, em Campo Grande. O veículo estava sendo usado por um funcionário de Augusto, que estava com a carteira de habilitação vencida e foi parar no depósito da Alarm Rio. A conta ficou salgada.
- Gastei R$ 1.438 por 23 diárias, além de uma taxa de reboque de R$150 - disse Augusto Ventura.
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